Capítulo VI - Touché?

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Cinco horas da manhã.

O despertador velho se quer havia tocado, mas Nicholas já estava de pé em frente ao espelho do banheiro encarando a própria imagem. A alguns anos atrás isso seria um desafio e ele se sentia satisfeito sabendo que não passa mais por aquele tormento.

Sua rotina seguiu como sempre, escovou os dentes, se pendurou na barra fixa no batente da porta do quarto e dobrou a meta do dia anterior, voltou ao cômodo em que estava e tomou uma ducha gelada sentindo todos os seus músculos relaxarem. Depois de vestir a farda da qual tanto se orgulhava, o homem pegou as chaves de cima da cômoda para trancar o apartamento e pegar o carro no estacionamento.

Como esperado ninguém além dele estava perambulando pelos corredores, isso era toda a calmaria que ele tinha levando em consideração os frequentes tumultos na delegacia. Enquanto dirigia o seu carro pela avenida ele notou uma pequena aglomeração em frente uma boate, mas não estava interessado o suficiente para ir checar.

Mesmo pegando o caminho mais longo o tempo não estava ao seu favor, ainda não havia dado o horário para aquela padaria específica com a fachada "Montremarte" abrir, e isso o deixava um pouco impaciente.

 O moreno saiu do carro indo até a porta de vidro que ainda estava fechada com a cortina, e acabou se surpreendendo com a porta entreaberta.

—Por que tão cedo? – a pergunta saiu um pouco rude combinada com a sua expressão de estranhamento entrando no recinto.

O sol mal havia nascido, o que deixava o local escuro e um pouco sombrio, logo a padaria tão cheia de vida e barulho. Nicholas empurrou a porta sem muita força, vendo que não havia ninguém ali no local. Ele passou os olhos pelo lugar, procurando alguma pessoa para atendê-lo, mas parecia completamente vazio.

— Invasão de domicílio é crime, e se eu não me engano, foi o senhor mesmo que me informou isso, oficial Wild.— Uma voz cínica soou de algum lugar, Nick se virou, procurando de onde vinha a voz, mas estava escuro de mais, e mesmo estreitando os olhos ele não enxergava nem um palmo á sua frente, e a garota não havia se revelado ainda.

—Então quer dizer que a minha presença não é bem vinda aqui, Senhorita LeBlanc? – a pergunta foi feita com um sorriso provocador nos lábios do delegado, não era a melhor das sensações ter as suas palavras se virando contra ele mesmo.

— Bem, a placa na porta diz que estamos fechados.— Nicholas se virou, pensando ter ouvido a voz vindo das máquinas velhas de café, mas suas pistas foram dissipadas assim que a porta de entrada se fechou, deixando aquele lugar num completo breu.— Espero que não tenha medo do escuro.

A voz parecia cada vez mais perto dele, mas agora com praticamente luz alguma na sala, era difícil de dizer.

—Ah, o escuro não me assusta, não tanto quanto passos que eu não posso ouvir ou então presenças silenciosas. – a cautela do homem ao tentar andar em alguma direção sem tropeçar nos próprios pés nunca havia sido vista antes por ninguém, a sua postura de homem rude ajudava a mascarar seu olhar desconfiado.— Isso pode ser considerado cárcere privado, Senhorita, ainda mais com um oficial da justiça. 

Uma risada baixa pôde ser ouvida, era visível a diversão da grisalha em brincar com as sensações do delegado daquela forma, e com isso decidiu arriscar mais na brincadeira, se aproximando cautelosamente do policial e se pondo nas pontas dos pés.
 Nick sentiu uma lufada de ar quente passar por seu pescoço, o fazendo arrepiar levemente.

—Ainda é considerado cárcere se a vítima entrou em meu estabelecimento sem meu consentimento?— E mais uma vez, a pergunta pareceu retórica.

O ar estava frio como todas as manhãs de outono, mas aquele lugar estava mais quente que o exterior. Angel deu a volta no balcão e ligou a luz finalmente, mostrando ao moreno onde ele estava, que era bem perto da menor.

Red Bone [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora