O ALQUIMISTA TOLO

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Anos se passaram a fio sem que lograsse.
Dourado? nem o sol! a sala era escura...
Ah, se dos meus sonhos juvenis brotasse
Fortuna e eternidade que me compensasse
A vida que tive. Longa só porque foi dura.

E tediosos os anos desta minha sina
Sempre cozendo meu fracasso em um caldeirão,
Tal qual um bruxo. Sendo um bruxo nesta colina!
E a loucura tomou em mim a forma mais fina
E para meus males não achei poção.

O Trismegisto não guiou-me a mão ou pensamento,
Nem sei se verdadeiros os livros que li.
A ganância, agora em uníssono com o lamento
Sufocou minh 'alma com frio tormento
E são inúteis as coisas que aprendi.

Se como o Ouroboros devorei-me neste tempo
Regurgitei-me inteiro neste salão.
De nada valeu-me estes anos atento
Ao sol, à lua! Mijo na coluna do templo!
E que recaia sobre mim a fictícia maldição,

Que já não creio! Fiel que fui à química de Deus,
Por trinta longos anos sonhei minha taça cheia
Do vinho de luz e ouro celeste e eu
Pleno da matéria eterna que Ele entrega aos seus.
Não mereci? Foi a glute de meus anseios à lua cheia.

Quis ouro, quis fortuna e vida eterna
A pedra filosofal e, da longa vida, o elixir.
Mas, ora, fora o que pensara valer a pena.
E para lograr isso, eu teria dado a perna...
Mas, tolo, nada menos que o coração hão de exigir.

Talhando a natureza com ferramentas do espírito
Por tantas revoluções felizes teria o sol passado.
Mas foram de metal minhas ferramentas e estou contrito!
E num suspiro triste eu disfarço um grito.
Depois de décadas, estou acordado.

Prata nunca virou ouro. E o vapor do enxofre neste quarto
Queimou-me as fossas da narina.
Do laboratório eu bato a porta, farto.
Da Magnus Opus nem o sonho eu guardo
E com o espírito lânguido, desço essa colina...

Antologia PoéticaOnde histórias criam vida. Descubra agora