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A tarde de pedra cai sobre mim
E eu fico embalado no beco das horas.
Oh, mundo, mundo! Teu defeito é que jorras
Ânsias, volúpias poucas nesse estofo carmim.

Quase continuamente, para quem inda vive
Há o ressoar de um sino para caçada
Mas que escuto? O tambor, a mágoa fardada
A marcha pública sobre este meu declive.

Houvesse fora, houvesse dentro, a esquivar-me a pedrada
Mas nada há que resista ao fluxo.
Falta-me na alma algo como o empuxo
O tranco no motor para a infinda estrada.

Por isso, a tarde cai como fome de sonhar
Para temperar o ócio com o recheio
Fantasiar-me vidas, terras: longíquo esteio
Que a noite, treva amiga e generosa, vem clarear.

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