Vive tudo isso no meu coração
Ainda
Como uma chama que arde longe
Talvez extinta
Como um farol
De certo modo
Como um anzol
Para minha própria sina."¡Viva la revolución!"
Quem sabe o que isso diz...
Além de faces estampadas nos jornais e nas camisas
Quem sabe o que tudo isso quis...
Almas clandestinas, chama comunista
Coração dilatado pelo gozo da partida
(Oh, que me haja isso em outra carne, em outra vida!)
Ascendam vos esta pira de ideias
Em cada peito que bate maduro
Equivocadas? Talvez...
Mas ainda
Sede de futuro!— Eu não sei se a esquerda dormiu
E se por ventura sonha
E se bate na cama:
Mas eu vivo seu pesadelo
Como verdade a cada ato
Como tormentos de travesseiro
Angústias insone
Mão de um carrasco vulgar e grosseiro
Camuflada na memória
Na indiferença política
Desse povo
Da história
Apagada no engodo cimento
(Assim o chamam:) "PROGRESSO"
E o último carrasco
é o do esquecimento...Dormir agora é nossa labuta
E ainda sonhar
E tecer sonhos melhores do que estes
O próprio sono agora é a nossa luta
No anteparo sublime
que precede o estouro!
Sim!
Na perfídia que estamos
Não espere o sol pela janela:
Juntos pelas ruas
Em nossa folia
Nós é que vamos
(Desgrenhados, contentes)
LEVANTAR O DIA!Não
Eu não sei se a esquerda dormiu
Ou o quê —
Mas sinto no meu coração
Um sono inquieto pela noite
Ansiando o dia e a aurora
E ao olhar pela janela (a toda hora!)
Vejo apenas o céu rubro a se desfazer
Impotente e triste, envergonhado
— De não saber mais, ao certo,
Amanhecer...