UM AMOR NAS ALTURAS [Conto]

Capítulo 1

          Recentemente, uma pesquisa revelou que 1 em cada 50 passageiros encontra sua alma gêmea durante um vôo. Uma simples viagem pode determinar o futuro de alguém? Nunca fui homem romântico, na verdade, sempre fui prático nessa questão de relacionamentos. Essa coisa de "almas gêmeas", "nascidos um para o outro", era só uma fantasia, para supervalorizar o que é apenas uma reação química, em que feromônios sexuais são liberados para comunicar a disponibilidade para o acasalamento. Eu não fazia ideia de que aquele vôo, estava prestes a mudar toda a minha concepção sobre o assunto. Meus olhos, então cerrados, foram obrigados a se abrir, para fitar a fonte daquela doce fragrância que invadiu minhas narinas. A moça de cabelos castanhos, rosto angelical e pele sedosa, era também dona dos mais lindos olhos que eu já vi, e pasmem, foi amor à primeira vista. Observei aparvalhado enquanto ela se acomodava na poltrona vazia ao meu lado. Seu sorriso cordial em minha direção fez meu coração errar a batida.

          "Senhoras e Senhores passageiros, bem-vindos a bordo! Obrigado por escolher nossa companhia aérea. Antes de iniciarmos a viagem, pedimos sua atenção para algumas instruções de segurança."

          Pela forma como ela hiperventilava e ouvia atentamente a fala da comissária de bordo, deduzi ser sua primeira viagem de avião. Seria um bom assunto para iniciar uma conversa.

          — Primeira vez?

          — Sim.

          — Nervosa?

          Ela soltou o ar, assentindo com a cabeça.

          — Não se preocupe. As chances de uma acidente aéreo com vítimas fatais é de 1 para cada 350 mil. Vai dar tudo certo.

          Ela agradeceu o apoio, ainda não muito convencida. O avião decolou e percebi a apreensão estampada em seu rosto. Eu queria tranquilizá-la. Quando ela procurou minha mão e apertou, fui tomado por uma vontade incompreensível de protegê-la.

          Estava intrigado com aquela magnífica criatura, que em questão de minutos, abalara minhas convicções. Conversamos bastante, e parecia que nos conhecíamos a vida toda, dado o modo como ela me contava coisas bem pessoais de sua vida, sonhos e gostos, e eu também o fiz. Quanto mais sabia sobre ela, mas eu tinha a certeza de que quando o avião pousasse não poderia perdê-la de vista. Não era apenas linda por fora, mas seu jeito doce e espontaneidade revelava que também era por dentro. Algo me dizia, que aquela moça ficaria para sempre pelo resto da minha vida. Em um dado momento, ela me perguntou se eu acreditava em destino. Sem ter menor consciência do efeito que me causava, disse me olhando nos olhos, que sentia que aquele momento e aquele lugar era exatamente onde deveria estar. Havia se atrasado para chegar ao aeroporto e quase perdeu o vôo após uma sucessão se contratempos. Mas para minha felicidade, e dela, estava ali.

          Enfeitiçado pela visão de seus lábios rosados e carnudos, e incapaz de continuar sendo racional, finalmente lhe pedi um beijo, ali mesmo em nossos assentos. E para minha surpresa ela me concedeu um beijo apaixonado que selou aquele momento que seria o primeiro do resto de nossas vidas. Suponho estarmos tão imersos um no outro que percebemos nem sequer quando o avião começou a solavancar abruptamente, nem mesmo a comissária de bordo dar a ordem para afivelarmos nossos cintos e nos prepararmos para o impacto. De repente um estrondo do lado de fora do avião, e máscaras de oxigênio caíram do compartimento acima de nós.

          Então seguramos nossas mãos e trocamos um último olhar antes de nossos corpos começarem a flutuar. E assim enterrada em algum lugar do Atlântico tinha seu fim prematuro, aquela historia de amor que iniciava nas alturas.