7. Verdades Amargas

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NICO ACORDOU CEDO NO dia seguinte,  sentia-se estranhamente disposto e o com o humor bom... Não ficava assim desde Idris, desde Jude. O garoto balançou a cabeça, evitando pensar na ex namorada, e no coração partido.

Ele colocou uma regata, fazia bastante calor, depois calçou as botas e escovou os dentes.

Encarou a escrivaninha cheia de papéis, mas seu olhar recaiu no desenho de Valerie, do exato momento em que seus olhares se encontraram. Os sentimentos que sentira nesse dia foram inexplicáveis, ele não parou para pensar sobre isso, e nem queria.

Valerie é apenas uma pessoa com habilidades iguais a sua, por isso o interesse. Disse a si mesmo, não poderia e nem deveria ser outra coisa.

Mas mesmo assim, Nico havia a desenhado, quase nunca desenhava pessoas. Não é nada demais, mente estúpida. Reforçou a ideia novamente.

Então, cansado da própria companhia, o que era raro, o garoto resolveu ir tomar café da manhã.

Saiu do quarto fechando a porta atrás de si, seguiu pelo corredor, deu bom dia a uma Caçadora. Eu estou dando bom dia? Esse dia realmente está louco.

O Instituto de Nova York estava lotado de intercâmbistas, todo mundo queria frequentar o lugar de referência mundial. Na maioria do tempo ele ignorava as outras pessoas, mas não podia fazer isso com Dora, Mina e Rafe, o que é bastante chato.

E Nico sabia das coisas que falavam sobre ele.

Filho de Jace e Clary Herondale, não é? Poxa, será um herói que nem os pais!

Não, não acredito nisso. Olhe só, fez inúmeras badernas em Idris e veio parar aqui. Até o irmão Augustus de quinze anos é melhor!

O garoto simplesmente odiava isso, desde pequeno as atenções de todos foram voltadas a si e seus irmãos. Primeiro Marilyn, a mais velha, com dezesseis anos já era considerada uma das melhores matadoras de demônio, e agora com vinte uma referência mundial dos Caçadores de Sombras. O pai ensinara tudo a ela.

Mas quando chegou a vez do segundo filho... Nicholas, não sabia dizer o que deu errado. Ele não queria ser seus pais, queria ser ele mesmo, queria ser normal. Colocara isso na cabeça com sete anos, em todas as festas que sua família frequentavam, as pessoas faziam suposições sobre o que se tornaria, e que renome traria a família.

Mas Nico nunca poderia ser normal sendo um Fairchild Herondale. Ele odiava seu sobrenome, odiava o fardo que lhe havia atribuido, odiava sentir o peso do mundo sob seus ombros. Era como sua própria maldição pessoal, e talvez fosse egoísta pensar desse modo, mas ele não ligava.

Então, o garoto se dedicou a ser o pior Herondale da história. Preferia passar mais tempo com a mãe desenhando do que com o pai treinando. Jace insistira várias vezes para que aprendessem juntos, era rara as ocasiões que Nicholas aceitava. Ele não seria uma cópia do pai, aprenderia suas próprias técnicas sozinho ou com outras pessoas.

Aos dezesseis anos as espectativas de todos começaram a pesar mais, até que ele simplesmente desabou. Resolveu tumultuar por Idris, e isso foi sua ruína. Perdeu sua família, perdeu sua casa, seus amigos... Perdeu Judith. Pelo menos tinha amadurecido nesse quesito.

Estava absorto em pensamentos, que não percebeu quando esbarrou com alguém, a figura cambaleou para trás, Nico foi rápido e a segurou pelo braço.

— Opa — disse e o seu olhar encontrou o de Valerie.

— Obrigada — respondeu secamente ficando de pé, ele assentiu, ela encarou sua mão que ainda segurava seu braço. Nico a soltou, sentia-se estranhamente quente.

Os Poderes Ocultos - Linhagem de Sol e TormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora