Anne ficou acordada até tarde nessa noite e noutras que se seguiram, pensando do Alden e na Stella. Ela tinha a sensação que a Stella desejava um casamento...um lar...bebés. Ela tinha-lhe pedido certa noite para dar banho a Rilla..."É tão agradável dar banho a este corpinho gordinho, cheio de covinhas"...e ainda timidamente dissera, "É tão bom, senhora Blyhte, ter pequenos bracinhos aveludados estendidos para nós. Os bebés são tão completos, não são?" Seria uma pena se um pai rabugento impedisse o desabrochar dessas esperanças secretas.
Seria um casamento ideal. Mas como é que se poderia realizar, com todos os envolvidos teimosos e contrários a ele? Porque a teimosia e a contradição não estavam apenas nos elementos mais velhos. Anne suspeitava que também Alden e Stella tinham uns laivos dela. Isto requeria uma técnica completamente diferente de qualquer arranjo anterior. E de súbito Anne lembrou-se do pai de Dovie.
Anne apoiava o queixo na mão e continuava a pensar. O Alden e a Stella, pensava, estavam praticamente casados desde aquela hora.
E não havia tempo a perder. O Alden, que vivia em Harbour Head e ia a igreja anglicana por cima do porto, não conhecia a Stella Chase...talvez até ainda nunca a tivesse visto. Ele não estava interessado em nenhuma rapariga há meses, mas poderia começar a qualquer momento. A senhora Janet Swift, do lado de cima do Glen, tinha uma sobrinha muito bonita de visita, e o Alden andava sempre atrás das raparigas novas. A primeira coisa a fazer, então, era arranjar maneira dos dois se encontrarem. E como é que se havia de fazer? Tinha que ser de uma forma absolutamente inocente, pelo menos de aparência. Anne pensou e repensou mas não conseguia encontrar nada mais original do que dar uma festa e convidá-los a ambos. E essa ideia não lhe agradava. Estava muito calor para dar uma festa...e os jovens de Four Winds eram tão agitados. Anne sabia que a Susan não ia concordar com uma festa sem Ingleside ser limpa praticamente da cava até ao sótão...e ela também se queixava do calor deste verão. Mas uma boa causa exige alguns sacrifícios. A Jen Pringle, sua colega de colégio, tinha-lhe escrito a dizer que vinha fazer a sua à muito prometida visita a Ingleside e essa seria a desculpa perfeita para uma festa. A sorte parecia estar do seu lado. Jane chegou...os convites foram enviados...Susan fez a tal limpeza...e ambas cozinharam para a festa no auge de uma vaga de calor.
Anne estava terrivelmente cansada na noite antes da festa. O calor fora terrível...o Jem estava doente com um ataque de qualquer coisa que Anne suspeitava ser apendicite mas que Gilbert atribula ás maçãs verdes...e o camarão quase tinha sido escaldado de morte quando a Jen Pringle, tentando ajudar a Susan, entornara uma panela de água quente de cima do fogão para cima dele. A Anne dola-lhe cada osso do corpo, dola-lhe a cabeça, dolam-lhe os pés dolam-lhe os olhos. Jen tinha ido com um grupo de jovens ver o farol, dizendo a Anne que se fosse deitar; mas em vez disso ela sentou-se na varanda apreciando a humidade que se seguiu à trovoada dessa tarde e falou com o Alden Churchill, que tinha vindo buscar um medicamento para a bronquite da mãe mas que não queria entrar. Anne achou que era a oportunidade que precisava, porque queria muito falar com ele. Eram bons amigos, uma vez que Alden a visitava muitas vezes por assuntos similares.
Alden sentou-se no degrau da varanda com a cabeça encostada a um dos pilares. Ele era, como Anne sempre pensara, um homem muito bonito...alto e de ombros largos, com um rosto branco que nunca se bronzeava, olhos azuis, e um cabelo muito negro espesso e espetado.
Tinha uma voz divertida e uma atitude simpática e atenciosa que as mulheres de todas as idades apreciavam muito. Ele tinha estado três anos em Queens e pensara em ir para Redmond mas a sua mãe não concordara alegando razões biblicas, pelo que o Alden tinha assentado relativamente satisfeito na quinta. Ele gostava da agricultura, dissera a Anne; era um trabalho independente, livre e ao ar livre; tinha o jeito da mãe para arranjar dinheiro e a personalidade atraente do pai. Não admirava que fosse considerado um bom partido.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Anne de Ingleside | Série Anne de Green Gables VI (1939)
Teen FictionObra da canadense L. M. Montgomery.