Capítulo XXVIII

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O Cock Robin regressou quando Ingleside e Rainbow Valley ardiam de novo nas chamas verdes e transparentes da Primavera, e trouxe uma noiva com ele. Os dois construiram um ninho na macieira do Walter, e o Cock Robin retomou todos os seus velhos hábitos, mas a noiva era mais timida ou menos aventureira e não deixava que ninguém se aproximasse dela. A Susan achou que o regresso do pisco era um verdadeiro milagre e escreveu sobre isso a Rebecca Dew nessa mesma noite.

As luzes da ribalta dos pequenos dramas de Ingleside mudavam de tempos a tempos, incidindo agora sobre este, depois no outro. Tinham passado o Inverno sem que nada de especial acontecesse e no mês de Junho foi a vez de Di ter uma aventura.

Uma menina nova entrou para a escola...uma menina que quando a professora lhe perguntava o nome dizia "Eu sou a Jenny Penny," com o tom de quem dizia "Eu sou a Rainha Elizabeth," ou "Sou a Helena de Tróia." Sentia-se logo que não conhecer a Jenny Penny era sermos nós próprios pessoa de pouca importância, e não ser conhecido de Jenny Penny remetia-nos para a mais completa insignificância. Pelo menos, foi o que Diana Blythe sentiu, apesar de não ser capaz de o dizer por estas palavras.

A Jenny Penny tinha nove anos ao passo que Di tinha oito, mas começou por se dar com as meninas maiores, de dez e onze. Elas depressa viram que não conseguiam ignorá-la ou desprezá-la. Não era bonita, mas tinha um aspecto distinto...toda a gente olhava para ela segunda vez. Tinha um rosto redondo e leitoso com uma nuvem suave de cabelo negro em volta e enormes olhos azuis com pestanas longas e encurvadas. Quando levantava lentamente as pestanas e olhava para nós com ar de desprezo sentia-se que éramos meros vermes, agradecidos por não sermos pisados. Era melhor ser desprezado por ela do que elogiado por qualquer outra pessoa; e ser escolhida como sua confidente temporária era uma honra quase demasiada para se suportar. Porque as confidências de Jenny Penny eram excitantes. Era evidente que os Pennys não eram pessoas vulgares. Lina, a tia de Jenny, tinha um colar de ouro e rubis que lhe tinha sido dado por um tio que era milionário. Um dos primos dela tinha um anel de diamantes que tinha custado mil dólares e outro primo tinha ganho um concurso de declamação entre setecentos concorrentes. Ela tinha uma tia que era missionária e trabalhava entre os leopardos na Índia. Para resumir, todas as meninas da escola do Glen, pelo menos durante uns tempos, aceitaram a Jenny Penny com uma admiração misturada com inveja, e falavam tanto dela à hora das refeições que os pais se aperceberam da criança.

"Quem é esta menina de quem a Di fala tanto, Susan?" perguntou Anne certa tarde, depois da Di ter estado a falar da mansão onde a Jenny vivia, com madeira trabalhada nos recortes do telhado, cinco janelas panorâmicas, um maravilhoso bosque de bétulas por trás e uma lareira de mármore vermelho na sala de estar. "Penny é um nome que nunca ouvi em Four Winds. Sabe alguma coisa sobre eles?"

"São uma familia nova que se mudou para a antiga quinta dos Conway lá para baixo, minha querida senhora. O senhor Penny parece que é carpinteiro mas não se governava a carpinteirar...estava muito ocupado ao que parece a tentar provar que Deus não existe...e decidiu tentar a agricultura. Pelo que percebi são um bocado estranhos. Os mais novos fazem o que lhes apetece. Ele diz que quando era pequeno toda a gente mandava menos ele, e que com as crianças dele não vai ser assim. É por isso que a Jenny Penny vai à escola do Glen. Eles vivem mais perto de Mowbray Narrows e os irmãos é lá que vão, mas a Jenny decidiu que ia à escola do Glen. Metade da quinta está neste distrito e o Sr. Penny paga impostos para os dois lados, por isso pode mandar os filhos para a escola que quiser. Mas parece que a Jenny é sobrinha dele, não é filha. Morreram-lhe o pai e a mãe. Dizem que foi o George Andrew Penny que pôs as ovelhas na cave da igreja Baptista de Mowbray Narrows. Eu não digo que não sejam respeitáveis, mas são tão desmazelados, minha querida senhora...e a casa está uma confusão...e se me permite aconselhá-la minha querida senhora, eu não deixava a Diana misturar-se com uma tribo assim."

Anne de Ingleside | Série Anne de Green Gables VI (1939)Onde histórias criam vida. Descubra agora