Bem Vindos Ao 1º Ano

50 22 177
                                    

Início de ano letivo. Sempre a mesma merda.

Alunos que conhecíamos fingem que nem existimos, mesmo a gente sabendo da merda toda que eles já fizeram, olham pra nossa cara e passam reto.

As mais populares no Instagram me olhando de nariz em pé, passam por mim cochichando sobre meu cabelo, tipico. gostaram do que viram vadias?

Olha só o casal modelo, nem parece que traíram um ao outro na festa de formatura do ano passado e ficaram sem se falar as férias inteiras.

Passo pelo corredor com meus fones no volume máximo, até o mural, onde estão os folhetos com os números das nossas salas, para o meu azar, sala numero um, primeiro pavilhão, ótimo! Até os professores querem me foder esse ano.

O caminho para a sala não é longe, seguindo em frente até a última sala do corredor, depois da sala dos professores.

Entro na sala sem olhar ninguém e me sento, primeira mesa, em frente a mesa do professor, pelo menos com eles posso ter uma conversa interessante sem ser sobre sapatos ou as "inimigas" da sala do lado.

Logo depois de sentar observo bem a sala, tantos rostos conhecidos, alguns novos, mas não seria diferente, primeiro ano do ensino médio, novo colégio, novos rostos.

Assim como eu reconheci rostos novos, um deles me reconheceu na hora, minha salvação, finalmente algo bom!

A garota de pele pálida e cabelos curtos lisos, rosto redondo, baixinha e magra, usando o uniforme péssimo de cor branca e brasão do colégio e uma calça jeans escura combinada com o all Star e óculos caminha com sua mochila nas costas, ela se senta atrás de mim.

- Finalmente você apareceu, achei que teria que viver grudada na aba daqueles otakus lixo o resto do ano. - Samantha diz sorrindo e me cumprimentando com um "toca aqui" suave.

Retiro meus fones e jogo um chiclete que comprei antes de entrar no colégio pra ela.

- Eu sei que você ama um dos otakus ali Sam, desde o 6º. - Digo rindo provocando ela.

Ela me dá um tapa forte no braço, protegido pela jaqueta que visto.

- Gostei do cabelo, não tem mais dinheiro pra pagar progressiva? - Ela pergunta enrolando um dos meus cachos mal feitos no dedo.

- Eu algum dia já tive dinheiro pra fazer essa merda? Eu ganhava dos trabalhos que a minha mãe fazia, eu que decidi deixar mais natural esses próximos anos. - Digo, pegando um espelho e verificando os cachos.

- Tem certeza que vai aguentar a transição? Eu rasparia logo tudo de uma vez e recomeçaria do zero. - Ela diz amassando os cachos como fiz.

Tiro minha cadeira da mesa e coloco do lado de Samantha, deitando em seu colo.

- Claro, uma magrela, feia, testuda e de cabelo raspado, já não bastava o bullying do ano passado né Sam. - Digo irritada, olhando de relance pro fundo, onde os meninos conversam.

- Melhor que manter ele preso pelo resto do ano, igual antes. - Ela diz na tentativa de melhorar a situação.

- Se tivesse ficado bom talvez, a progressiva e a química acabaram com meu cabelo, tive que fazer os cachos no babyliss e passar e spray de fixação e ainda ficou essa merda. - Digo irritada.

- Sua autoestima é tão alta Lilah. - Ela diz em ironia.

Mostro o dedo do meio pra ela me levantando.

Depois de alguns minutos falando sobre meu cabelo e os riscos de fazer isso agora, decidimos trocar de assunto.

- E as férias? Foi pra chácara de novo? - Sam pergunta.

- Você sabe que sim, Sarah já deve ter te contado né. - Digo cruzando os braços.

- Ela é sua prima né, eu já saberia.. - Ela diz meio sem jeito.

- Voltamos depois da festa de Natal, nem pude curtir direito, a briga deles foi feia dessa vez.. - Digo séria olhando para o quadro da sala.

Todo anos nas férias iamos pra chácara dos parentes do meu padrasto, sempre iamos a pedido meu e da minha meia irmã mais nova que adorava ir lá, ficávamos até o a Natal e voltávamos antes do ano novo, pra passar com a família da minha mãe, mas dessa vez as coisas não foram diferentes do que eram em casa.

Meu padrasto bebeu e decidiu acusar minha mãe de trair ele no meio de todos, inclusive de mim e da minha irmã, minha prima e meus dois primos queriam que nós decessemos mas ninguém tinha coragem de mover um músculo com aquela cena de tensão. Até o meu padrasto pegar uma faca e tentar avançar na minha mãe.

Aquela merda toda explodiu no ventilador de uma vez, imagina como se fosse você colocar um porno para os seus filhos assistirem sem querer, foi mais ou menos isso.

E não importa a o quanto minha irmã gritava, aquilo não parou, mas quem disse que eu tive tempo de chorar? Aprendi desde os meus 7 anos que chorar não vai ajudar em nada, é mais fácil você engolir e se preocupar em deixar sua irmã menos traumatizada.

Nota da autora: O que, sinceramente, depois de 3 anos não funcionou muito bem.

Depois daquele circo todo meu padrasto foi embora pra casa e eu, minha irmã e minha mãe ficamos na chácara para "curtir" o Natal, mas eu já sabia que não seria assim, eu tinha mais medo da merda que iria explodir depois que chegássemos em casa do que felicidade pelo perfume novo que eu ganhei.

- É Sam... Foi um ano difícil. - Digo séria e cansada, tentando sorrir.

Samantha sorri e faz carinho na minha cabeça.

- Esse ano será melhor, você verá. - Ela diz piscando pra mim.

Nota da autora: Queria que tivesse razão Sam, mas não seria.

Antes que eu pudesse falar algo o sinal toca, início do inferno.

Nota da autora: E a você que está lendo, será apenas o início do meu pequeno e triste declínio, boa leitura.

Vidas Cruzadas Onde histórias criam vida. Descubra agora