AVISO DE GATILHO.
O capítulo a seguir contém cenas fortes envolvendo câncer e uso de drogas, se for sensível a esse conteúdo, por favor, não passe daqui e siga para o próximo capítulo, caso queira seguir, não me responsabilizo mais por tal ato.
Aos demais, desejo boa leitura 💛
3 anos antes...
Silêncio.
Sentada na sala de espera observando cada linha no chão rachado daquela clínica, era apenas isso que eu pensava.
Silêncio e o cheiro forte de Pinho Sol que entrava queimando dentro de meus pulmões a cada respirada que eu dava.
Eu sentia ela vindo, a crise, mas enquanto todo o caos rolava em minha volta eu só pensava nas palavras fortes de minha bisavó que ecoavam na minha mente.
"Se sentir seus pulmões sendo esmagados pelo seu peito, apenas se deite e observe atentamente o que vê, não pense no mal, apenas molde em sua mente tudo que você observa."
Pra uma senhora de idade ela era muito compreensiva, mais do que minha mãe em alguns aspectos.
Dona Marisa era uma velhinha de 87 anos, viveu tudo que podia viver, e burlou regras pra alcançar o topo.
Ícone feminista que fala? Talvez rs.
Mas, de alguma forma ela me fez pensar e ser quem eu sou hoje, então eu agradeço por ela.
Me prendo tão firme em meus devaneios que mal percebo a chegada de minha mãe, que se senta ao meu lado lendo seu livro de autoajuda de 482 páginas sobre como recomeçar a vida depois dos 25, não esperava o corpo do meu pai esfriar e já queria curtir com o dinheiro da herança dele.
Me levanto da cadeira de espera e a peço para ir visitar meu pai durante o exame, mais uma recaída dura trouxe meu pai mais uma vez pra esse lugar assustador.
Sem esperar resposta caminho até o quarto onde ele estaria, minha mãe me acompanha de longe, pra evitar que medicos ou enfermeiros cheguem perto de mim ou me expulsem.
Chego em frente ao quarto que ele sempre ficava, "246", número da sorte dele, meu pai realmente é um bobo.
Entro no quarto e sinto um frio na barriga, o som daquelas máquinas enormes, junto a imagem do meu pai tão fraco e debilitado me assusta, seu rosto está magro, pálido, dando pra ver o formato de seu crânio de forma perfeita, papai estava muito feliz, eu não entendia o porquê.
Talvez fosse pelo fato de ele já ter aguentado tudo que devia, ou sei lá, algo que eu não saiba, mas, ele estava bem, pela primeira vez em dias eu o vi sorrir.
- Papai? - O chamo curiosa.
Ele me olha sorrindo e me chama para perto dele, me aproximo devagar e me sento com dificuldade na cama.
- Essa é a minha colega de quarto, Maryanna, ela estava internada por causa de um problema nos rins mas agora recebeu alta, essa é minha filha Samantha. - Ele me apresenta a uma garota, da minha idade talvez? Eu não sei, mas parece, ela tem um sorriso bonito.
Dou um tímido "oi" e sou recebia por um abraço caloroso, que não sentia a meses, isso me relaxou, muito mais do que devia.
- Você parece legal, espero que seu pai se cure. - Ela diz de forma gentil e calma.
Eu não entendia o porquê, mas essa garota era muito legal, poderíamos ter sido muito amigas. A mãe dela é mais duas crianças chegam para buscá-la meu pai conversa com a mãe dela de forma bem humorada, parece que ela já está aqui a dias.
Meu pai se despede da família de Mary e logo ficamos sozinhos.
- Ela me lembra você raio de sol. - Ele diz sorrindo.
Meu pai é um homem bom, trabalhou de segunda a segunda pra nos dar essa vida que nós temos, uma vida boa.
Tinha dias que ele chegava sem conseguir respirar por causa da poeira e revestimentos dos locais onde ele trabalhava, é, se você vive perto de prédios antigos, saiba que você pode ser uma vítima também.
Não sei quanto tempo foi, não me lembro quando aconteceu, eu só me lembro que em um segundo papai ria e falava comigo feliz e em outro estava caído no chão cercado por enfermeiros.
Minha mãe me tirou dali, eu só vi ele no chão desacordado e queria abraçá-lo e dizer que vai ficar tudo bem por que? Papai fica comigo!
[...]
- Eu não me lembro muito bem do que aconteceu naqueles quatro segundos, eu não sei, estava em choque. - Sam me diz deitada em meu colo chorando tudo que não chorou aquele dia.
- Seu pai morreu 2 dias antes de Mary, por que ele só foi enterrado aquele dia? - Pergunto séria acariciando seus cabelos.
Samantha me encara, seus olhos estão vermelhos de tanto chorar.
- Eu não sei, acho que a minha mãe não queria pagar o caixão e meus tios tiveram que vir de longe pro velório. - Ela diz se levantando e limpando as lágrimas.
Seguro seus rosto de forma carinhosa e delicada olhando em seus olhos e sorrindo de forma doce.
- Meu anjo, se acalma tá? Eu sei como é difícil ter que reviver isso tudo, eu só... Precisava saber mais sobre como você e Mary se conheceram. - Digo com calma e de forma suave.
Samantha sorri pra mim é me abraça, se aninhando em meu ombro.
- Eu e Mary não conversamos muito mas foi o suficiente para eu conhecer ela e saber que ela era incrível, eu sinto muito por não ter te falado. - Ela diz baixo, sua voz sendo abafada pelo meu cabelo.
- Bobinha, não se preocupa com isso, tudo que podemos fazer agora por ela e por seu pai é tentar recomeçar, de uma forma estranha nossas vida se interligaram e mudaram drasticamente com a morte de pessoas queridas, tudo que podemos e devemos fazer é realizar o último desejo delas e recomecarmos as nossas vidas de uma forma diferente. - Digo de forma suave, passando as mãos por seus cabelos negros tão belos e macios.
Samantha sorri para mim enxugando as lágrimas e se recompõe.
- Já sou feia normalmente agora que chorar, meu Deus. - Ela diz rindo.
Quando faço a menção de brigar com ela e dar um grand o sermão sobre autoestima, alguém bate no portão de sua casa.
- Quem pode ser? Minha vó viajou com a igreja dela então não pode ser ela. - Sam diz suspeitando.
- Ladrões não bateria no portão né Sam. - Digo o óbvio.
Levantamos rapidamente e descalças vamos até o portão e colocamos o ouvido nele.
- Quem é? - Grito, tentando ouvir algo além dos sussurros.
Sam olha para mim fazendo uma careta de raiva por não ouvir o que as pessoas la fora falam e então uma surpresa.
- Delilah abre logo esse portão! A gente pode ser roubada a essa hora. - Hellen chia impaciente enquanto Alexa ri de sua cara.
Sam me olha sem entender nada e acabo rindo da situação.
- São amigas Sam.

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Vidas Cruzadas
أدب المراهقينNovos recomeços são impossíveis, a menos que alguém lhe dê um empurrãozinho. Delilah Morgan, uma garota com sérios problemas de controle e sede por finalmente se conhecer, a três anos em luto pela suicídio de Mary Sanders, sua melhor amiga de infân...