Agora Eu Entendo

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- Oi Delilah... - Helena diz baixo se levantando da cadeira onde sentava a minha espera.

Minha mãe sai da cozinha receosa da conversa que me espera.

- O-o que você tá fazendo aqui Helena..? - Digo em um fio de voz quase imperceptível.

Eu estava em choque, desde o enterro que não vejo Helena, não sei o que dizer, mas a nossa convivência não foi a mesma desde a morte de Mary.

Helena é gêmea fraterna de Mary, ou seja, narceram no mesmo dia, mas nao são iguais, diferente de Mary, Helena nasceu com olhos azuis, vindos de seu pai, cabelos escuros, de sua mãe, cabelo de cor igual ao de Mary, porém, sem os cachos volumosos que me facinavam em Mary.

Helena e Mary eram inseparáveis, diferente de minha irmã e eu, ela tinham uma união pura, que não vinha do medo, mas sim do amor.

Elas conversavam sobre tudo, eram uma confidente da outra, só que isso um dia mudou, o dia em que eu e Mary ficamos amigas.

Desse dia em diante éramos as três mosqueteiras, sempre juntas, nada nos abalava, porém Helena não gostava de mim, ela tinha ciúmes e isso tudo veio a tona no dia em que Mary foi enterrada, Helena me culpou, disse que eu havia tirado sua irmã dela.

Aquele dia foi difícil para ambas...

- Por que Delilah?! Me diz por que você Estragou tudo?! Éramos felizes sem você! Agora a Mary tá morta e eu não tenho ninguém! - Helena diz chorando, caminhando de forma agressiva até mim.

To me afastar mas a lama do cemitério por causa da chuva deixa difícil a passagem rápida.

- Helena se acalma, você não tá sozinha, nós só temos uma a outra agora... - Digo chorando, tentando entender por que aquilo estava acontecendo.

- Você não tem ninguém Delilah, assim que Mary se matou tudo que eu era e tinha se foi com ela, inclusive, a garota que aturava você por amar de mais a irmã. - Ela diz de forma fria e grosseira.

Não consigo dizer nada, apenas corro para bem longe dali, assim que me afasto o suficiente, desabo, choro tudo que segurei em todo o velório e enterro.

Caminho sem rumo pelo cemitério chorando sem pensar em nada além das palavras de Helena.

Sem prestar atenção, acabo esbarrando em uma garota parada em frente a outro túmulo, sozinha.

Essa era Samantha, que naquele dia, enterrou seu pai, que morreu de câncer no pulmão depois de trabalhar anos reformando prédios antigos cobertos por uma cobertura alta de poeira e arsênico.

Aquele dia foi pesado para muita gente...

- Você mudou muito Lilah... - Helena diz abaixando a cabeça.

Respiro fundo, sinto que meu coração vai sair pela boca, rever Helena reviveu todos os sentimentos que guardo dentro de mim, culpa, raiva, dor, luto...

- É... Decidi seguir os pedidos de Mary e deixar meu cabelo natural, ela sempre amou assim. - Digo séria caminhando até a geladeira e pegando água.

Helena me encara por um momento, ela mudou muito, sua pele está mais pálida que o normal, e ela carrega profundas e escuras olheiras, seu cabelo não parece mais o que era e ela emagreceu muito.

- Você também mudou, eu vejo em seu rosto Helena, eu vejo o mesmo que vejo no meu antes de me maquiar. - Digo séria, bem baixo, me aproximando da mesa e me sentando.

Helena também se senta de cabeça baixa e vai direto ao ponto.

- Eu vim por causa de Mary, ela me pediu isso. - Ela diz rouca.

Congelo no lugar novamente, tentando entender se eu ouvi errado ou se estou sonhando.

- Co-como?! - Digo alto sem entender.

Helena então pega um envelope ja aberto em sua bolsa e me entrega junto a um envelope vermelho ainda selado.

- Ela me pediu pra entregar isso a vocês. - Ela diz com os olhos cheios de lágrimas.

- Mas... Como isso é possível?.. Já faz... - Engulo em seco para segurar as lágrimas que desceriam muito rápido se eu continuasse a falar.

Helena respira fundo e faz o mesmo.

- Ontem, foi noss... Quer dizer meu aniversário, logo pela manhã eu não quis fazer nada, e no fim do dia minha mãe me entregou isso. — Ela aponta para a carta aberta. — Mary nos deixou cartas e missões, a minha primeira era entregar as demais cartas...

Fico parada de forma estática, ouvindo tudo e tentando assimilar cada palavra.

- Quantas são? - Pergunto séria deixando uma lágrima escapar.

Ela retira mais duas da bolsa.

- Uma delas não tem endereço, eu não sei pra quem é. - Ela diz chorando também.

Coloco minha mão em seu ombro, por mais que tudo que ela me disse naquele dia me marcou e machucou, eu entendo ela e o porquê, agora eu entendo.

- Tá tudo bem Helena, eu vou te ajudar a passar por isso.

Helena me olha sem entender por que depois de tudo que aconteceu eu estou sendo gentil com ela, mas logo entende.

Ela me abraça de repente bem forte, chorando de forma desesperada, assim como vi no enterro.

A abraço de volta e choro, de olhos fechados, sentindo que Mary estava ali com a gente.

- Tá tudo bem Lenna... Eu entendo o porquê...

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