Capítulo I

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Lilyan

Depois de tomar um capuccino no Café da Esquina voltei ao escritório. Caminhei tão devagar que levei quase uma hora em um percurso de apenas quinze minutos.

Entrei no Edifício Atlas, rumei ao elevador e apertei o botão correspondente ao décimo quinto andar. Havia várias coisas para pensar e ajustar desde meu livro a minha vida amorosa. 

O elevador parou e logo me vi no hall de entrada do escritório que dividia em sociedade com uma amiga, e respirei fundo assumindo minha postura profissional. Eu e Samantha Calrson trabalhamos com direito empresarial e, sob nossa responsabilidade, estavam as decisões judiciais de diversas empresas. Nosso escritório era bem recomendado e famoso. Sempre éramos chamadas para palestras, seminários ou conferências devido a nossa experiência na área. Não temos tanto tempo no ramo, somos novas, mas somos competentes no que fazemos.

- Senhorita Eaton, o Senhor Burk ligou e disse que enviou os documentos da a ação para seu e-mail - Vivian me tirou dos devaneios assim que me viu passar em direção a porta da minha sala.

- Obrigada Vivian. Se alguém ligar me procurando diga que estou em reunião... - sorri e abri a porta da minha sala.

- Surpresaaaaa! Feliz aniversário Eaton! - Samh consegue me deixar surda quando quer.

Samantha Carlson é minha amiga desde os tempos de escola. Ela é mais velha que eu um mês, um pouco mais alta que meus um e setenta de altura, loira, cabelos ondulados e longos, olhos azuis e corpo esbelto. Parecia ter saído daquelas capas de revista Vogue de tão alinhada e na moda. Fomos para a faculdade juntas e foi lá que ela descobriu que gostava de garotas tanto quando dos garotos. Tirando o fato de que ela já quis me beijar algumas vezes depois da descoberta, o que eu não duvido que ainda queira, a gente se diverte muito, chora junto e briga também, afinal, quem nunca brigou com um amigo?

A nossa assistente saiu lá de sua mesa e veio me parabenizar também. A sala estava decorada com balões e fitas. Minha mesa estava limpa ostentando um lindo bolo de chocolate e pratinhos.

- Complô com a Samh não vale Vivian - sorri meio sem jeito. Nunca fui muito fã de comemorações apesar dos meus pais nunca deixarem uma data ser esquecida.

- Bom, sabemos que você vai fugir da sua família hoje, mas de nós não - Samh me passava uma espátula - Não é todo dia que se faz vinte e nove!

Nos acomodamos depois que cortei três fatias do bolo e o espaço silencioso foi preenchido com suspiros de "hum, que delícia". Era momentâneo, eu teria que parar e refletir sobre as coisas a qualquer momento mais cedo ou mais tarde. Vivian se despediu retornando ao seu posto e fechando a porta. Samh estava sentada na minha cadeira como se fosse a dona da sala.

- Está melhor? - ela parecia preocupada.

Eu estava na minha poltrona de canto marrom.

- Mais calma, talvez... Você acendeu uma série de centelhas na minha cabeça...

- Com a hipótese de que o senhor todo estranho russo te engana nesses quase dois anos de namoro? Perdoe, mas ele tem uns comportamentos bem estranhos e eu não poderia segurar essa minha impressão por mais tempo - ela debruçou sobre minha mesa e continuou - Você anda reclamando dos sumiços dele, fica toda emburrada, triste...

- Você acha que eu deveria mesmo investigar mais a fundo? - minha cabeça começava a dar sinais de uma enxaqueca terrível a caminho.

- Eu acho que você deve fazer aquilo que for da sua vontade, que lhe fizer bem. Fui grosseira na hora que falei da investigação e lhe peço desculpas por isso - era um pedido sincero - Odeio discutir contigo!

- Tudo bem, só foi uma manhã pesada depois do que aconteceu no final de semana...

Mikhail era alto, porte rústico, cabelos e barba em tons castanho avermelhado, olhos verde musgo e uma autoconfiança sem tamanho. O tipo atleta que chama a atenção das mulheres. Aos trinta e cinco anos o homem era dono de um império petrolífero herdado do pai. O conheci quando ele foi ao escritório requisitar nossos serviços para uma empresa marítima, também pertencente a ele, por indicação de outro cliente nosso.

Passei o sábado e o domingo inteiros esperando o Mikhail Orlov em um hotel em Manhattan, já que ele disse que estaria lá para reuniões e um jantar de negócios da empresa dele. Não o vi. Tudo o que eu sabia dele constava em algumas mensagens pelo aplicativo dizendo que estava agilizando as coisas para ir me ver e, por fim, uma se desculpando por não poder ir ao meu encontro.
Ele vinha repetindo esse comportamento com certa frequência. Não que ele não tivesse feito isso antes, logo quando nos conhecemos, mas agora começava a ficar insuportável e suspeito.

- Quando se trata de relacionamento você parece ter o dedo podre minha amiga... - Samh sorria largamente.

O comentário me fez rir.

- Não consigo decidir quem foi o pior até hoje Samh - ela gargalhou.

- Com toda certeza foi o Noah Gibson do último ano da escola... O rapaz tinha o dom de lhe irritar em meio as líderes de torcida - ela zombou.

- Nunca esquecerei o dia do baile onde ele foi me buscar com outra garota no carro querendo que eu sentasse no banco de trás... - eu ri, mas, no dia, aquilo me deixou louca de ódio.

- Sinônimo de babaca é Noah Gibson! - ela girou a cadeira - Você gosta mesmo do russo imbecil?

- Infelizmente gosto Samh. Eu vou tentar conversar com ele sobre tudo isso, sobre esse comportamento estranho dele - eu suspirei fundo, não seria uma tarefa fácil... O Mikhail tinha o dom de cortar o assunto quando não lhe favorecia.

- Se é isso que quer o faça, só não permita que te machuquem - ela piscou para mim e mudou de assunto - E aí, vai se esconder aonde hoje?

- Se eu contar você vai dizer aos meus pais e eles vão atrás de mim. Se eles não sabem não produzem nada. Você sabe que não sou fã de comemorações...

- Desde o acidente... - ela levantou e veio até mim. Sentou no braço da poltrona e me deu um meio abraço - Eu sei que dói, respeito sua dor, mas, um dia, vai ter que resolver isso minha amiga.

- Eu sei Samh, eu sei... Agora a gente precisa terminar de revisar os documentos antes de você sumir hoje - ela se deslocou para o outro lado da sala e pegou um monte de pastas que estavam sobre meu armário.

- Eu ainda tenho os documentos do processo do Burk para analisar. Preciso contatar o outro advogado o mais depressa possível. O ex funcionário está pedindo rios de dinheiro por causa do acidente na ponte durante a construção - me acomodei em minha cadeira e desbloqueei o computador para verificar os e-mails.

- Ao trabalho mocinha, esse escritório não é um sucesso por causa da beleza das donas, mas pela competência de ambas - modéstia não é o nome do meio da Samh.

Trabalho, eis aquilo que consegue me fazer esquecer das tristezas e decepções.

***

Oi, tudo bem?

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Parece não ter sido um bom dia para a Lilyan...

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Um grande beijo da Kal😘❤️

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