Capítulo I I

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Dezembro sempre é frio em Nova York. A neve cobre a cidade e vou ser sincera: não é nada gostosinho o frio que faz aqui. Esse clima gélido se estende por mais dois meses antes da temperatura se tornar suportável.

É véspera de natal, estou na sala olhando as decorações tão bem dispostas por minha mãe e minhas sobrinhas brincando no tapete da sala trajando gorros iguais ao do Papai Noel, moletons vermelhos e meias verdes enquanto a ceia não começa.

- De quem foi a ideia das meias verdes? - perguntei ao Eron quando ele passou por mim pela sala para pegar uma garrafa de Uísque.

Eron é gêmeo idêntico do Ian e são os mais velhos. O Eron e casado com a Joey e tem duas filhas, as meninas das meias verdes que brincam na sala. o Ian é um solteirão que curte a vida viajando e preenchendo sua agenda com o contato das belas mulheres que cruzam o seu caminho deixando claro que não alimentem grandes expectativas quanto a ele. Ainda tem a Julie que não poderá vir nesse natal. Ela é mais nova que eu dois anos, mas já é casada com um amigo de infância e moram em Stamford. Tinha o Chris, mas...

O Eron é cardiologista, o Ian cirurgião plástico e a Julie obstetra como a mamãe. O Papai é ortopedista, adora mexer com ossos quebrados. Eu? A advogada responsável pelas clínicas da família.

Não é que eu não goste da medicina, mas abrir alguém, presenciar o último suspiro ou lidar com ossos expostos e fraturas não estavam nos meus interesses profissionais depois do que aconteceu em dezessete de julho, dia do meu aniversário, a dez anos atrás. Só de pensar chego a suar frio. Eu sou a única advogada em uma família de médicos.

- A Joey achou que ficariam lindas nas meninas... - ele deu de ombros e olhou para as filhas fazendo uma careta logo após.

- Acho que concorda comigo quanto a combinação - sorri para ele.

- Tem coragem de dizer a sua cunhada seu ponto de vista sobre as meias? - ele pegou a garrafa e se serviu.

- Não mesmo! A Joey é enérgica demais para eu expôr meu ponto de vista sobre as meias... - ele me ofereceu um copo e eu aceitei.

A Joey é musicista. Toca um monte de instrumentos diferentes, mas, sua especialidade, é o piano. Ela é ruiva, tem a mesma altura que eu, olhos amendoados como os da minha mãe e magra, mas delicada como uma fada. Não se enganem: ela é muito decidida e tem opinião. Ela é irmã de um amigo de faculdade do meu irmão, se conheceram durante uma viagem para a praia e, desde então não se desgrudaram mais. Ela cuida muito do Eron e ele não é diferente com ela. É lindo ver o amor dos dois.

- Eu concordo plenamente - Ian tinha acabado de entrar. Bagunçou os cabelos para tirar a neve que caíra sobre os fios e pulou para abraçar as sobrinhas que logo foram vasculhar seus bolsos atrás de balas.

- Ian, acostumou mal as meninas - Eron observou divertido ao notar a felicidade das filhas ao encontrar as balas.

- Um pouco de doçura na vida não faz mal meu irmão - Ian sorriu largo.

Se não fosse o corte de cabelo e a cara sem vergonha do Ian eu não conseguiria distinguir quem é quem.

- E onde está o russo? - o Ian perguntou fazendo expressão confusa em resposta ao olhar que recebeu do Eron que tentava frea-lo através de gestos.

- Tudo bem Eron, não precisa tentar me poupar - me ajeitei no lugar e girei o líquido dourado no copo com um movimento - Ele tinha negócios importantes para resolver hoje e não chegaria a tempo - tomei um pequeno gole e respirei fundo quando a bebida queimou suavemente no meu paladar.

- Eu não consigo contar a quantidade de vezes que esse cara esquivou de algum acontecimento em nossa família - Ian pontuou irritado e Eron o olhou repreensivo - O que? Não menti maninho, o cara está errando feio com minha irmã e eu não gosto dessa situação.

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