Capítulo VII

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Segundas são sempre de muita correria. O escritório bombava nas chamadas e nos processos novos, a caixa de e-mail estava lotada, um monte de sessões marcadas… Eu e Samh chegávamos ao pico da sanidade mental a fim de entender metade da agenda da semana.

Perto do meio dia fizemos uma pausa para descansar a mente depois de ler e separar tantos documentos. Eu tinha escolhido um bendito vestido vermelho ajustado que ia até os joelhos para ir trabalhar agora me arrependia amargamente. Queria algo mais solto, mais confortável. Manter-se elegante em tempos frios não era minha especialidade.

- Eu sempre me divirto com a tua cara de desgosto quando escolhe uma roupa que não te deixa a vontade - Samh se jogou na poltrona tirando os saltos.

Ela usava um terninho em tons creme tão poderoso que a faziam parecer uma juíza pronta pra dar sentença.

- Queria estar mais elegante hoje mesmo com esse frio - apoiei a cabeça entre as mãos - doida pra estar numa calça de moletom!

Se fazia necessário ser mais elegante, porém não escondo que adoro andar vestida com moletons, baby Dolls, camisetas enormes… Confortável e livre, era assim que eu me sentia. O peso dos problemas sentimentais e profissionais pareciam diminutos.

- A escolha foi boa, de verdade, porém essa sua gana por conforto ultrapassa os limites as vezes! - ela sorriu - E aí, como foi o final de semana?

- Com o Ian secando garrafas de vinho - recostei na cadeira - Quando a agenda do meu irmão não está cheia ele me faz companhia…

Eu precisava criar um hobby novo. Não queria chegar aos 70 anos secando garrafas de vinho em dias frios com o mulherengo do meu irmão prostrado no meu tapete completamente bêbado.

- Eu não teria coragem de ficar com o Ian - eu ri com incredulidade da Samh ao ouvi-la dizer isso - É sério! São muitas bocas disputando por seu irmão sem contar o ego dele…

- Mas ele é legal, não estou dizendo por ele ser meu irmão - era verdade, o Ian era um cara bacana - Você também tem uma lista de bocas e as possibilidades são mais ampliadas que a de meu irmão.

- Calúnia! - ambas rimos - Esse final de semana eu fui ver minha mãe. Está com meia dúzia de shitzus em casa! Junta ela e as amigas e a fofoca não para!

- Minha cabeça até doeu imaginando tu no meio das sociais com a tua mãe e as amigas tomando espumante - caçoei e ela fez cara de desgosto.

O telefone tocou interrompendo nossa conversa. Atendi ao segundo toque.

- Lilyan, Saylor Willians na linha dois. Disse que é da Galeria San Luca…

- Pode transferir Vivi - não consegui disfarçar a ansiedade e a Samh percebeu.

Do outro lado da linha a voz veio limpa, alegre e em tons melodiosos. Saylor falava como se fosse um galanteador neoclássico.

- Olá, Lilyan Eaton?

- Olá Saylor, como vai? - fui cordial fazendo sinal de silêncio para a Samh que escrevera "Você não me conta tudo!" em uma folha de ofício.

- Maravilhoso! Então, consegui marcar com a Pietra para esta tarde as 15hs… Terá disponibilidade? - ouvi clicks de caneta do outro lado da linha.

- Claro - falei casualmente, mas estava super feliz - Chegarei um pouco antes, algum problema?

- Nenhum, definitivamente - a voz dele era estranhamente feliz, mas ignorei o detalhe.

Samh ergueu o verso da folha onde li "Boa amiga você hein?" Eu ri.

- Estou finalizando alguns trabalhos e prontamente estarei a caminho - eu ri do novo cartaz escrito "Desliga logo essa porra e me conta!"

O Café da EsquinaOnde histórias criam vida. Descubra agora