Pietra
Estava tão cansada das correrias da semana, de fugir das câmeras, de não conseguir dormir direito...
Queria poder apagar o mondo por algum tempo, mas não poderia continuar na esquiva por muito mais tempo. Eis os meus pensamentos enquanto estou a caminho da San Luca sentindo o vento frio me embalar enquanto piloto com mais cuidado que o habitual. Preciso ser sincera: o medo bate a minha porta quando o Saylor marca reuniões sem me informar muita coisa a respeito.
Entrei no estacionamento aberto da galleria sentindo o ar gelado começar a me abandonar ante a espera do ambiente mais aquecido da sala da gerência. Tirei o capacete, prendi meus cabelos in uno coque convencional com alguns fios soltos. Lá dentro me livraria da jaqueta de couro grossa que pesava quilos sobre mim.
Uma sensação de estar sendo observada me incomodou. Olhei em volta e franzi o cenho. Talvez fosse apenas coisas da minha cabeça, mas mudei de ideia ao olhar para uma das janelas da galleria e constatar que alguém se afastara a fim de não ser visto. Bene, é um trabalho novo, precisava estar em movimento para não pensar muito.
- Sempre muito bellissima! - Saylor me saudou assim que passei pelas portas do salão de entrada da San Luca.
- E pontual como pode ver mio amico - cumprimentei colocando o capacete sobre o balcão da recepção.
O quadro do café não estava lá. Olhei para o espaço vazio por algum tempo e depois para o Saylor de maneira indagadora.
- Ei, a Srta Eaton ficou mais que encantada...
Continuei encarando ele impassível.
- ... E só saiu daqui após adquirir a obra! - ele fez uma pausa defensiva - Sei o valor sentimental do quadro, mas valeu a pena, garanto a você D'Ângelo.
- Não farei outra tiragem daquele quadro Saylor, eu avisei...
- Trabalhará com a Srta Eaton e verá que o quadro está em boas mãos minha amiga, lhe garanto! - ele piscou e havia algo em seu olhar que denunciava uma armadilha.
- Não faço ideia do que aprontou Saylor, mas quero que saiba che ho capito la tua cattiva intenzione - eu dei a ele o olhar mais gélido possível.
- A Srta Lilyan Eaton está te esperando na tua sala. Vá antes que me acuse de mais alguma coisa - ele me enxotou da recepção sumindo por um corredor próximo a recepção.
Revirei os olhos, peguei meu capacete e subi as escadas apressadamente. Abri a porta da minha sala, que ficava logo de frente ao topo da escadaria, me desculpando.
- Scuzi, precisei falar com o Saylor...
E parei sem palavras, sem ar. Ela estava ali, perto da janela, uma mão entrelaçada na outra... A bella criatura lá do café! Aquilo era impossível! Meu coração parou em uma fração de segundos e a sala pareceu congelar a cena diante dos meus olhos. Ela estava ali, na minha frente, tão linda quanto eu conseguia me lembrar. Algo eu seu olhar me perturbou, não consegui identificar o que era. Entendi porque Saylor me perseguiu tanto para marcar essa reunião: ele a havia encontrado!
- Tudo bem? - ela rompeu a barreira do silêncio sem desviar o olhar.
Voz baixa, melodiosa e quente... Derreti por inteiro gravando cada nuance do tom na minha mente.
- Ah, sì... - minha voz quase não saiu.
Fechei a porta e caminhei até a minha mesa vendo ela se acomodar na cadeira a frente da minha mesa. Coloquei o capacete em um canto, a mochila aos pés da minha mesa e, antes de me acomodar, tirei a jaqueta e coloquei sobre as costas da cadeira. O perfume doce com notas picantes tomou conta da minha sala de uma maneira que ficava difícil me concentrar. Imagens do dia em que a vi pela primeira vez tomaram conta da minha mente.
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O Café da Esquina
RomanceA advogada Lilyan Eaton não teve uma boa manhã. Depois de um final de semana de decepções por causa do namorado, tantos documentos pendentes no escritório e uma discussão com sua sócia e amiga, decidiu que precisava sair para caminhar, que precisav...