Capítulo V

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Eu não queria sair com o Mikhail, eu não queria olhar para a cara do Mikhail, eu não queria saber da existência do Mikhail, mas eu não poderia ficar sem respostas. Perguntar para ele seria inútil. Teria que aproveitar algo da noite para conseguir pedir um tempo. Ele sabia se esquivar de qualquer assunto que adentrasse demais em seus afazeres do dia a dia.

Estava no escritório aguardando a sua chegada para me levar a tal exposição. Eu não estava tão a vontade para ficar super produzida e o tempo frio não me ajudava muito. Usava um dos meus terninhos cinza com uma calça extra longa, dos mesmos modelinhos de quando eu estava indo a um julgamento, mais um sobretudo preto e os cabelos arrumados em um coque convencional. Nada de maquiagem ou adereços, mas teria que pôr uma máscara de convencimento assim que o infeliz chegasse.

Eram 18:45, ele estava quinze minutos atrasado, como sempre. O telefone da sala tocou. Era a Samh.

- Se atendeu é porque o gargula não chegou ainda!

- Porque não vem até aqui? - eu ri da comparação feita por ela.

- Eu não quero olhar para a cara daquele homem... Tenho asco a gente mau caráter - ela respondeu prontamente não escondendo seu desgosto.

- Ele ainda nem chegou...

Nem completei a frase e uma batida suave na porta me fez entrar em alerta. Vivian abriu a porta para me avisar:

- Sr Orlov está aí. Ele pode entrar?

- Tchauuuuu... - Samh se despediu e desligou.

Respirei fundo e assenti positivamente levantando e alisando meu blazer. Vivian abriu um pouco mais a porta e vi um Mikhail barbeado, bronzeado e cheiroso entrar. Sempre muito bem alinhado me analisou dos pés a cabeça e a desaprovação pelo meu look não passou despercebida.

- Dia de trabalho extenso? - ele perguntou vindo me dar um abraço.

- É... O dia foi bem movimentado - retribui o abraço esquivando do beijo que ele tentou me dar.

- Aconteceu algo? - eu me senti uma formiga perto daquele ser gigante me olhando veemente.

- Só cansada... Podemos ir? - me afastei e comecei a vestir o sobretudo.

- Vamos! Chegaremos um pouco atrasados para a abertura da exposição, mas dá tempo de tomar um café - ele falou pegando minha bolsa e abrindo caminho para eu passar.

Em dez minutos estávamos em um bistrô. Ele pediu uma taça de vinho e eu apenas um café...

- Não sei como consegue beber isso sem adoçar - ele questionou em seu perfeito inglês carregado de sotaque russo.

- Talvez porque combine comigo - eu pontuei e me calei. Ainda estava pensando em como conseguir um tempo livre desse homem.

- Aconteceu algo? - ele perguntou inocente enquanto olhava o cardápio.

- Depois da exposição conversaremos.

Permaneci em silêncio após ter dito isso e ele fechou o cardápio. Sua expressão estava tenra. Pegou a taça de vinho e girou o líquido na taça antes de sorver um gole.

- Me parece ser algo sério pequena - ele não me olhava totalmente.

Ele parecia interpretar um papel aos meus olhos. Me xinguei mentalmente ao notar isso só agora. Respirei fundo e continuei mantendo a calma.

- Talvez... Como disse antes, conversaremos após a exposição.

- Tudo bem, não vou insistir em arrancar qualquer coisa de você agora - ele voltou a taça com olhar preocupado.

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