꧁11 Vulnerabilidade꧂

218 25 7
                                    




Não sabia por quanto tempo tinha ficado no quarto, sozinha e jogada na enorme cama redonda e encarando aquela cidade que agora sabia se chamar Selene.

Ravi tinha sumido do nada, e ela tentava sem sucesso não pensar que talvez tenha o espantado com tanta amargura. Ou com sua intensidade. 

Ayla não era assim, não era uma pessoa triste e histérica. Mas ele deveria entender que estar ali, para ela, era novo e inesperado. E não tinha como se preparar para uma profecia, não é como se ela soubesse desde pequena o que iria acontecer.

Abriu o broche da mãe pela centésima vez naquela tarde, se agarrando áquela memória para tirar suas forças dali. 

Ravi tinha sido bom com ela, podia ser um sádico que a fez vomitar no voo, ou mais arrogante que a própria princesa e por isso ela ficou levemente chocada, mas tinha sido, de todo, um bom amigo.

Escutou sua história do início ao fim, mesmo ficando um pouco apavorado, escutou e a autorizou a ficar. 

Mas não disse nada sobre ficar ali naquela casa, e foi o suficiente para que Ayla começasse a fazer as malas. E aquilo desencadeou outro pensamento: Ravi sabia tudo sobre Ayla, mas ela...

Não sabia nada dele, apenas que era Grão-Senhor da Corte Lunar.

Não sabia sua idade, ou o que fazia, ou quem eram todos os seus amigos. Gabriel tinha falado no dia em que Ayla chegou naquela casa que Ravi não ficava ali, então onde ele de fato morava? Não sabia nem mesmo se Ravi era um metamorfo ou não.

E se Ravi tivesse uma fêmea? Uma parceira? Talvez Valerie? Aquilo ecoou nos pensamentos dela enquanto arrumava sua mala, e um pedacinho pequeno de Ayla ficou decepcionado. Não queria ter que deixar para trás as únicas pessoas que conhecia ali. Kalyl era tão legal quanto Lucie, Ravi era... Ravi. E Gabriel tinha se mostrado alguém bom de ficar por perto.

Seria fácil esquecer de Valerie, no entanto. 

Ayla tinha acabado de arrumar as malas e abriu a porta do quarto, a parte dramática e teatral dentro dela se permitiu o olhar para o quarto uma última vez de um jeito bem triste.

Passou pelo corredor, batendo em todas as portas. Se havia alguém ali dentro, não respondeu. Ela bufou. 

- Não poderia ao menos se despedir? – murmurou para o nada.

A casa estava sinistramente silenciosa. Ayla desceu as escadas, observando a linda sala, a lua gigante. Atrás dos vidros, a cidade começava a escurecer.

-   Kalyl? – ela arriscou.

Nada, nem um barulho indicando que alguém estava chegando perto dela. Confiava o suficiente em seus ouvidos feéricos para saber disso.

Deu de ombros, encostou a mala no último degrau e foi rapidamente até a cozinha.

Havia frutas em cima do balcão e um bolinho. Ayla o pegou e escolheu duas bonitas maçãs.

-   Não vão brigar porque roubei algumas frutas, não é? – ela falou baixinho. 

Voltou a sala para pegar sua mala e então foi em direção a porta da frente. 

Com uma última rápida olhadela, Ayla se despediu da casa que havia a acolhido tão bem naquele primeiro desastroso dia. 

Não foi tão ruim assim. Ela pensou.

E então saiu e resolveu descer em direção à rua. Se arrependeu da decisão assim que olhou aquela extensa ladeira que ligava à próxima rua onde havia mais civilização. 

A Corte de Maldições & Profecias (1- A LUA E O SOL)Onde histórias criam vida. Descubra agora