꧁09 Recomeços꧂

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Ayla despertou com uma sensação estranha sob sua pele. Um tipo de formigamento, parecido com aqueles que sentia quando ficava com frio e todos os pelos de seu braço se arrepiavam. Resolveu, como fazia com muitas coisas, ignorar aquilo também.

Não queria abrir os olhos. Permaneceu deitada, forçando os olhos a permanecerem fechados. Enxergando nada além de escuridão, deixou que cada memória do dia anterior viesse a sua mente.

Primeiro pressionou o broche de sua mãe, que tinha dormido bem na palma de sua mão. E então deixou que os cabelos loiros de Aelin, o cheiro de fogo, os cabelos prateados de seu pai, cheiro de pinho e neve... deixou que tudo a atingisse como se estivesse levando leves golpes em um treino no palácio.

Fez uma oração silenciosa à Thomas, onde quer que estivesse chegado para onde os humanos iriam após a morte. Um outro mundo, talvez, como aquele em que estava...

E que Thomas pudesse ser feliz. Mesmo tendo feito coisas horríveis à ela sem que ela percebesse, mesmo que aquilo tudo tivesse sido uma mentira, todos aqueles anos... a morte não era justa.

- Vá em paz, Thomas. – Ela murmurou.

E então relembrou os nomes e as características físicas de cada um com quem esteve no dia anterior. Repassando uma, duas, três vezes.

Ravi, Gabriel, Valerie, Kalyl.  

Não estava completamente sozinha, mesmo que essas quatro pessoas – bem, ao menos as três primeiras – tinham aparentado apenas suportar a princesa por obrigação, porque segundo Ravi ela era uma potencial espiã, traidora, ou qualquer das bobagens que ele havia lhe dito. 

Ela dormiu bem, bem demais. Não se sentia mais cansada fisicamente, e então abriu os olhos e rolou para o lado a fim de se levantar.

E arquejou assim que o fez.

Onde no dia anterior havia somente vidro e as lindas luzes da cidade, hoje ela conseguia enxergar cada detalhe do que era aquela cidade.

As montanhas eram de um verde tão lindo e penetrante, as cachoeiras de águas brancas que se tornavam cristalinas quando encontravam o riacho. 

O sol estava a pino no céu, - ela percebeu que já deveria ser tarde – e onde os telhados brancos do dia anterior eram iluminados pela lua, hoje eles faziam um contraste perfeito com o sol. 

Em Orynth, no palácio, quando a luz do sol entrava pelo seu quarto não passava da varanda – uma das coisas que ela não gostava e sempre pedia sua mãe para mudar – mas ali...

A luz do sol estava entrando por todo o quarto, iluminando e aquecendo e deixando tudo mais bonito. Ayla se jogou no piso de mármore, sentada e observando a cidade. Segurou seus joelhos bem em frente ao peito e jogou a cabeça para cima.

E então viu três metamorfos sobrevoando a casa.

A casa onde não tinha telhado.

Ayla xingou alto demais, tropeçando ao levantar-se às pressas.

Os feéricos estavam voando bem ali, onde Ayla estava apenas de roupa de dormir, em sua privacidade.

Tinha esquecido de que a casa não tinha telhado, e que provavelmente qualquer um podia enxergar lá dentro. Ayla começou a se desesperar. Como iria trocar de roupa ali? Como conseguiu tomar banho ontem sem ter prestado atenção naquele pequeno detalhe?

Três batidas na porta a fizeram se ajeitar e parar de parecer tão desesperada. Ayla deu batidinhas em seu cabelo e se sentou na cama.

- P-pode entrar. 

A Corte de Maldições & Profecias (1- A LUA E O SOL)Onde histórias criam vida. Descubra agora