꧁08 A Casa de Vidro꧂

242 29 0
                                    




Tinha passado a maior parte do tempo do voo com Gabriel aproveitando para observar a paisagem.

Duas vezes ele tentou conversar. E por duas vezes Ayla murmurou monossílabas que o fez desistir de qualquer diálogo construtivo. 

Tinha observado e guardado cada detalhe daquele mundo para que pudesse usar a seu favor quando tivesse que ir embora ou provavelmente fosse expulsa por Ravi. 

E seus pensamentos institivamente se voltaram para Terrasen... para o enterro de Thomas, talvez... Sua mãe iria querer fazer algo respeitável, mesmo que Ayla tivesse contado o que o rapaz fizera para ela, Aelin tinha o coração puro.

Depois de saírem dos limites da floresta, entraram em uma cidade. Coberta por luzes, riachos, lojas e casas. Voaram baixo demais para que ela percebesse que ali era cercado por montanhas, e dessas montanhas saiam diversas cachoeiras que davam início a pequenos riachos por toda a extensão daquela cidade. Havia feéricos, ela percebeu. Nenhum humano, no entanto, ou bruxas. Eram todos bonitos e diferentes, mas ela não pôde reparar muito em seus rostos porque Gabriel estava rápido demais para isso. 

Mas como ele havia prometido, não tinha voado como um sádico. Isso a acalmou um pouco. 

Voou com ela quase da mesma forma que Ravi fizera, uma mão segurava suas costas e a outra a parte de trás de seus joelhos, respeitosamente.

Se eram metamorfos, qual a dificuldade de se transformarem em um bicho como tia Lysandra, que pudessem aguentar selas?

As casas da cidade eram quase todas brancas com telhados igualmente brancos, e até as lojas seguiam o mesmo padrão. Quase todas por exceção de uma. 

Ayla estava parada em frente àquela exceção, com Gabriel e Valerie a seu encalço, provavelmente dando-lhe tempo para que ela absorvesse o que era aquela construção.

A primeira coisa que Ayla notou – e que definitivamente não poderia não notar – eram os vidros.

A casa enorme, no topo mais alto da cidade, era coberta por vidros escuros como o céu noturno sem lua. Aliás, era como se aquela casa fosse a própria extensão do céu na terra.

Não havia telhado na casa, outro fato que ela percebeu. Nada cobria além de seus vidros negros e vigas de madeira branca para detalhar as bordas da construção.

Atrás dela, não havia nada além de água de uma cachoeira que caia timidamente, iluminada pela lua. O brilho daquela água parecia prata derretida.

Ao seu lado, igualmente nada. Não havia vizinhos, não havia outras coisas por perto sem ser montanhas e a cachoeira. A casa ficava no alto da cidade, e uma rua de pedras ligava até uma outra parte da cidade.

Um portal de madeira rodeado por flores brancas que Ayla não conseguiu identificar marcava a entrada da casa.

Casa era um nome modesto e simples demais para descrever aquela mansão de vidros.

Valerie passou do portal depois de alguns minutos, aparentemente o tempo de Ayla para apreciar aquela mansão já havia acabado. E então Ayla a seguiu, com Gabriel logo atrás.

Uma féerica esguia que Ayla julgou ser a criada da casa, elegante de cabelos pretos e medianos, aparentemente de meia idade, usando um simples vestido com um avental, abriu a porta. 

-  Senhores – a feérica cumprimentou, e parou o olhar em Ayla. – E Senhorita!

Nada de reverencias como no palácio, e uma parte de Ayla gostou daquilo. Era insuportavelmente irritante que a cada pessoa que a cumprimentasse fizesse uma exagerada reverencia antes ou depois. Ayla sorriu para a feérica, realmente simpática, mas não disse nada.

A Corte de Maldições & Profecias (1- A LUA E O SOL)Onde histórias criam vida. Descubra agora