꧁02 Presente Inesperado.꧂

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Ayla não costumava lembrar muito de seus sonhos. Às vezes pensava que sequer sonhava.    

Não sabia se estava nervosa pelo aniversário ou pelo concurso da guarda real ou porque em Terrasen estava fazendo um calor infernal como nunca fizera em 19 anos. Mas sonhou quente demais.    

Era uma clareira e era dia. O mais estranho do sonho era o fato de que a princesa nunca na vida tinha botado os pés naquela linda clareira. E não conseguia ver com detalhes, embora quisesse muito.   

Só podia perceber que era amplo, em um formato estranho de círculo e que havia todos os tipos de flores pela clareira, sua preferida estava vencendo no quesito quantidade, se destacando entre todas elas: anémonas. Diversos tamanhos e formas de lindas anémonas de variados tons de lilás e roxo. Como se formassem um desenho, mas ela não conseguia enxergar de verdade. Como se estivesse vendo sob uma cortina branca ou sob água.    

E mesmo que Ayla não pudesse ver com tanta clareza, o lugar era realmente lindo. Realmente lindo, se não fosse pela luz do sol que parecia queimar cada pedaço do seu corpo. E ela só queria uma sombra de alguma árvore ou então acordar do maldito sonho, porque pelos deuses, aquilo parecia estar queimando de verdade, e só aumentava.   

Ayla tentou correr para se esconder na sombra de alguma dessas árvores, mas seus pés não conseguiam se mover, como se fossem uma própria raiz fincada ao chão. E o sol não aliviava nem por um segundo. Ela levantou a mão para limpar uma gota de suor da testa, mas seu braço esquerdo também estava paralisado.   

Ayla avaliou toda a extensão de seu corpo e ficou boquiaberta. Estava nua. Completamente nua, não havia sequer suas lingeries para que cobrisse parte alguma.    

- Que porcaria de sonho é esse... – ela se interrompeu quando sentiu a dor.   

E então acordou com um grito. O seu próprio grito.   

Tateando às cegas sua mesa de cabeceira para encontrar a luminária, e quando finalmente acendeu a luz, Ayla arfou para a primeira coisa que conseguiu ver.   

Uma pequena queimadura se formou no pulso da jovem. Não tinha forma, era uma queimadura vermelha e ardia como se o próprio inferno estivesse se concentrando ali. Ela arregalou o olho e começou a jogar seu poder ali, mas nem todo o vento gelado do mundo acalmava aquela queimadura. Ayla trincou os dentes e levantou as pressas para o banheiro. Precisava de água gelada, o mais gelada possível.   

Abriu a torneira jogando apenas uma lufada de ar e assim que a água gelada saiu ela enfiou o pulso ali.

Não melhorou, mas aliviou consideravelmente. Consideravelmente a ponto de ela conseguir perceber o que estava acontecendo.   

A queimadura parecia ter tapado o que realmente estava tomando forma no seu pulso, e como se fosse uma sujeira em sua pele ou uma mancha qualquer, aquele círculo de pele vermelha caiu – literalmente caiu - por água abaixo, apenas para revelar um sol.    

Um sol marcado em sua pele, com vinte raios ondulados ao seu redor. Era lindo e delicado, mas ela não tinha ideia do que porcaria estava acontecendo.   

Xingou baixinho e com a mão livre, pegou uma toalha branca em uma das caixinhas do banheiro e enrolou no pulso, na esperança de que o que quer que fosse aquilo, iria sair de manhã. Ela tinha certeza que só podia estar presa no sonho, não era minimamente possível que aquilo fosse real.    

Mas quando voltou a dormir, Ayla não teve mais sonhos, apenas escuridão completa.   

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A Corte de Maldições & Profecias (1- A LUA E O SOL)Onde histórias criam vida. Descubra agora