☀O Sol☀

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- Isso é loucura! – Lucca gritou de onde estava sentado, perto da lareira.

- Loucura. – Sindra concordou, é claro que concordou, mesmo nervosa estava mantendo sua voz calma e agradável, pronta para se meter no meio dos machos se a situação pedisse por uma intromissão.

A taça na mão de Ravi parecia irritantemente pesada, como se o menor gesto de seus dedos fosse transformar os cristais em cacos. Sua cabeça latejava devido a discussão – que não deveria ter sido uma discussão e apenas um aviso – que se formava em sua casa.

- É insano. Eu gostei. – Gabriel, sendo Gabriel, soltou uma risada tremula.

Ravi não conseguiu se controlar quando deixou uma risada baixa escapar dos seus lábios.

Os cinco estavam na casa das montanhas, como Ravi os tinha convocado. E mesmo que ele tivesse comprado a melhor torta de maçã para Sindra e uma adaga nova de prata para Lucca, ainda não os tinha convencido do plano que queria fazer. Não precisou comprar nada para comprar Gabriel, sabia que quanto mais o plano fosse sujo e horrível, ele aceitaria. E ficou grato por isso.

E Valerie... bem. Era um caso a parte que Ravi sabia que iria ter que discutir depois, a sós, e não na reunião.

Mas a verdade é que aquela reunião estava demorando mais tempo do que ele gostaria.

Era difícil ficar longe de sua parceira, mesmo... que ela ainda não soubesse.

O último dia havia sido torturante pelo fato de que Ayla havia simplesmente sumido de sua casa. E, quando ele chegou e não a encontrou, e não viu mala alguma em seu quarto... Ele pensou que ela havia descoberto.

Que o parceiro que ela odiava, que o parceiro por quem aquela fêmea linda e segura de si estava determinada a – se fosse o caso – até mesmo mata-lo, era ele.

Ainda lembrava daquela sensação horrível que tinha sentido quando ouviu Ayla falar aquelas palavras sobre o parceiro. Sobre ele. Ainda lembrava do enjoo, da vontade de sumir e de chorar, lembrava de quando o chão pareceu pesado e longe e tudo perdeu um pouco de foco no momento em que as palavras saíram.

Mas ouvi-la falar que era vítima daquela profecia terrível, de que tinha sido arrancada de sua família e que nem mesmo pôde se despedir de seu pai. O sofrimento que Ayla entonou naquelas palavras foi pior do que quando ela, sem saber, recusou a parceria em um ato decidido.

E Ravi não queria se culpar por aquilo. Não podia acreditar que tinha sido ele quem, indiretamente, desejou por ela e traçou seu destino infeliz. Era tudo confuso e novo, era tudo assustador e bom, era...

Ravi não tinha ideia do que realmente era. Mas sabia que estava tomando a atitude mais egoísta de todas quando decidiu não contar para ela quem era o seu parceiro.

O que ele tinha que ter feito era claro: admitir e deixar que ela o quebrasse em mil formas diferentes, que ela pisasse nele, porque talvez fosse o que merecesse por desejar ter uma parceira. Mesmo que jamais tenha pedido para que ela tivesse seu destino desgraçado daquele jeito.

Mas não o fez. Não o fez porque Ravi sabia que estava quebrado em mil formas diferentes quando ela disse aquelas palavras, e talvez não fosse forte o suficiente para aguentar o que viesse a seguir quando admitisse.

Parecia que alguém o tinha acertado bem no meio do peito com a faca mais afiada de todas.

Mas então quando ele seguiu o seu cheiro e a achou bem no meio da taberna do velho Otto, se surpreendeu. E se não fosse tão triste o fato de que Ayla estava aparentando estar destruída, com aqueles olhos fundos e preocupados, - como alguém que carrega muito e não suporta dividir o peso – ele poderia ter rido daquela cena. Porque era exatamente a cena que uma criança mimada faria.

A Corte de Maldições & Profecias (1- A LUA E O SOL)Onde histórias criam vida. Descubra agora