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boca raton, flórida, estados unidos

Eram quatro e trinta da manhã. Edward começava a se preparar para ir ao trabalho. Era uma segunda feira nublada na Flórida, as pessoas começavam a se preparar para voltar a rotina. Os feriados já havia passado, e com eles, a maioria dos turistas haviam partido. Boca Raton não era muito procurada nos fins de ano, mas acolhia algumas pessoas sim. A neve estava fina, mas mesmo assim, cobria alguns carros e enfeitava algumas árvores do lado de fora. Pode ter certeza de que a paisagem ficará ainda mais bonita mais tarde.

Ariana estava deitada na cama. Era a conchinha menor com Justin, e mesmo com todo esse cenário romântico, ela não conseguia curtir o momento. Como um pesadelo terrível, as palavras de Jake rodeavam sua mente. Deveria ter morrido. Por mais cruel que ela tenha sido, isso era bem sério. O desejo pela morte de Ariana, não faria bem a Jake, mas ele ainda não sabia disso. O passado dela era escuro, mas mesmo assim, ela tinha conseguido se tornar uma vadia selvagem, como gostava de pensar.

A vida dela poderia ter sido perfeita, sem sombra de dúvidas. Pais presentes e unidos, um irmão que a tratava perfeitamente bem, amigos na escola, boas notas, e muitos motivos mais. Ariana cresceu como uma princesa, era rodeada de alegria, era rodeada de amor. Mas ela não se lembra ao certo, quando foi que as coisas mudaram. Talvez, tenha sido quando ela amadureceu. Dizem que quando você amadurece, você passa a criar as suas próprias visões do mundo. Ela sempre acreditou que a maldade estava lá fora, e que sua fortaleza, era sua família.

Muitos adultos questionam os jovens sobre futuro e tudo mais, e isso começou a pesar na consciência dela. O que ela seria quando crescesse? Ela se casaria com o primeiro namorado, assim como sua mãe fez? Agora, com a mentalidade extremamente abatida pela sociedade, Ariana começava a se questionar se sua casa era mesmo sua fortaleza. Quer dizer, não podemos chamar de fortaleza, um local onde pessoas apontam o dedo pra você, e dizem que sem uma boa profissão, você viraria uma vagabunda. Que sem um marido, você poderia ser morta, ou estuprada na rua. Sua família a reprimia de tantas formas.

Com quinze anos, ela disse que queria ser cantora. Foi ridicularizada por seus pais. Arte não sustenta, disse Edward. Mais tarde, ela apresentou o primeiro namorado para os pais, Peter. Sua mãe a forçava um casamento indesejado. Ela queria que Ariana se casasse logo após o ensino médio, como ela. Joan não teve estudos, porque não pensou em ter. Ela não queria ser sozinha. Ela queria ser sustentada por um marido. Talvez, ela nem teve a possibilidade de escolher entre casar ou não. Peter era um cara legal, mas meses depois do início do namoro, ele começou a tentar coisas mais avançadas pra ela. Ainda não estava na hora de ter a primeira vez, ela dizia. Mas para Peter, isso não importava. Como eles eram namorados e nunca tinham sequer feito sexo?

Ainda era um tabu falar sobre feminismo. Tudo o que Ariana aprendeu sobre, foi por conta própria. Meses de um relacionamento abusivo, trouxeram uma lição pra ela. Ela não iria casar tão cedo. Com dezesseis, ela disse que queria ser psicóloga. Mais uma vez, foi repreendida por seus pais. Psicologia não dá dinheiro, vire médica. Estava decidido então, para agradar seus pais, Ariana faria medicina. Seus pais começaram a discutir muito naquela época, era algo comum em casa. Ariana não queria contrariar os pais, faria de tudo para vê-los felizes. Um ano mais tarde, ela já estava no último ano. Jake estava formado e fazia bicos na empresa do pai.

Joan lhe apresentou Ricky. Ele era dois anos mais velho que Ariana, e fazia medicina. Joan achou que seria bom que a filha tivesse uma influência positiva para a faculdade que faria. Ricky era gentil e sabia tratar uma garota. Mas naquela altura, ela pensava em uma coisa. Ser aceita na faculdade em que seu irmão estava. Era a que ela queria. Por mais que ela tenha estudado, tenha ido bem nas entrevistas, e tenha se esforçado cem por cento, Ariana não foi aceita. Aquilo foi seu basta. Estava extremamente exausta e não aguentava mais a pressão de seus pais sobre sua vida profissional.

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