CAPÍTULO 4 - Cirurgião

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Calliope

Três dias. Foi o tempo que passou desde que estamos aqui, nessa casa em que Andrea e seu grupo nos trouxe. Era aconchegante e coube a todos nós. Eu, minha filha e as meninas ficamos em um quarto, eu e Sofia em uma cama enquanto as outras duas brigavam pelo colchão de casal no chão, Mer e Addie não ficavam muito tempo perto uma da outra sem sair faíscas, parecia até aquelas coisas de amor e ódio. Se Addie me ouvisse falar isso me mataria, com certeza. O outro grupo preferiu ficar pela sala, eles revezavam para ficar de guarda, afinal não sabíamos o que mais tinha lá fora. Eu já estava começando a ficar agoniada presa naquele lugar, eu queria mais. Eu queria encontrar um lugar maior, que fosse seguro e eu pudesse dar uma perspectiva de vida a Sofia. Será que isso ainda era possível?

Eu ouvi um barulho e aproveitei que estavam dormindo e abri a porta do quarto, sai devagar e encostei a porta. Desci as escadas tentando não fazer barulho e vi os três olhando pela janela.

O que foi? - perguntei

Shiu, não faz barulho - Andrea disse apagando as velas que estava acesas e que clareavam o cômodo

O que foi? - sussurrei me aproximando deles

Um grupo de zumbis e são muitos - Tara foi quem respondeu

Precisamos fechar tudo e fingir que não tem ninguém aqui - Daryl começou a fechar as janelas

Enquanto isso eu e Andrea colocamos o sofá atrás da porta, só para garantir se algum morto tentasse entrar.

Mama - Sofia apareceu no topo da escada com os olhos cheios de lágrimas

Eu olhei para ela, tínhamos que ficar em silêncio, mas eu estava longe da escada então Tara foi mais rápida e subiu sorrateiramente a pegando no colo.

Sua mãe está ocupada. Que tal eu te contar uma historinha? - ela disse toda meiga com a minha filha

Sofia me olhou com aqueles olhos redondos e cheios de lágrimas e eu sorri para ela, encorajando a aceitar aquela historinha, que naquele momento seria o melhor que poderíamos oferecer. Tara olhou para mim para confirmar se eu dava permissão e eu apenas balancei a cabeça.

Não se preocupa, ela é boa com crianças - Andrea sussurrou - ela era a babá da vizinhança - eu sorri aliviada

Quietas - Daryl nos olhou com a cara feia e seguramos o riso

Sabiamos que aquele momento não era de rir, aqueles mortos estavam lá fora e podiam nós ouvir e tentar entrar, estaríamos ferrado já que o número era grande e aquelas portas de madeiras fracas. Porém se não tivemos como dar pelo menos um sorriso, mesmo naquele caos, o que seríamos da gente? Pedras?

{...}

Arizona

Já estava amanhecendo, e o sol batia em meu rosto, eu e Alex havíamos encontrado uma igreja para passar a noite. Engraçado não, logo eu que não sou religiosa, encontrei na igreja um refúgio para me sentir segura para dormir. Não que meu sono tenha sido tranquilo, tirei apenas cochilos.

Ei acorda - bati no braço de Alex - é melhor voltarmos a andar

Ei bom dia pra você também - ele disse bocejando - podemos comer algo primeiro? - fez careta

Ok ok, comemos e saímos. Não quero ficar aqui mais tempo

O que foi? Não é religiosa? - brincou

Nenhum pouco, na verdade sou bem sapatão - riu

Ué e desde quando ser homossexual não lhe permite ser religiosa?

Sei lá - dá de ombros - apenas não sou

Alex então tira um pacote de bolacha para comer e me oferece. Não ia aceitar até ouvir o barulho da minha barriga.

Acho que tá com uma solitária aí dentro - ele brinca

Pelo jeito - aceito a bolacha e começamos a comer e foi quando Alex decidiu puxar uma conversa

Você não fala muito sobre você...a não ser achar sua irmã

Não gosto muito de falar sobre mim - dou de ombros - até porque não tem o que falar. Sou escritora, estou no auge da minha carreira...quer dizer estava né. Pelo jeito não sobrou mundo e nem onde fazer sucesso - suspiro desanimada

Olha infelizmente você está certa. Acho que agora não tem mais isso de quem faz sucesso e quem não - diz mastigando

E você, o que era antes disso? - pergunta curiosa enquanto abre uma garrafa de água

Médico, mais precisamente Cirurgião pediátrico - explicou - e estava noivo

Ela morreu? - perguntei receosa

Não, estávamos juntos no hospital quando naquele dia do caos. Eu coloquei ela em um carro militar e ela foi para o refúgio

E porque não foi com ela? - sem entender

Eu precisa ajudar as crianças que estavam no hospital, eu não podia sair daquele jeito. Por isso aceitei te ajudar a ir procurar sua irmã no refúgio...

Porque quer encontrar sua noiva - dou um meio sorriso - vamos encontrá-las. Qual o nome dela?

Josephine e o da sua irmã?

Andrea...Andrea Robbins

Agora eu entendia o motivo dele aceitar de bom grado me ajudar a chegar nesse tal refúgio, tínhamos o mesmo objetivo, encontrar alguém. O problema é que não sabíamos exatamente onde estava esse lugar.

Depois de comer, saímos da igreja e voltamos a caminhar, andamos por algum tempo até que eu avistei um supermercado.

Vamos entrar? Podemos pegar mais mantimentos - eu disse animada

Espera - ele disse caminhando para longe de mim - olha essas coisas mortas - ele se abaixa e fica com os joelhos no chão - alguém as matou

E não é bom? - pergunto sem entender

Depende de quem são essas pessoas - ele levanta a cabeça para me olhar - antes de tudo isso acontecer já existiam pessoas ruins. Agora que não existe leis elas se aproveitam disso

O que você quer dizer? - pergunto preocupada

Que existem pessoas más andando por aí e fazendo suas próprias leis - ele diz levantando - precisamos tomar cuidado

É a única coisa que ele diz antes de ir em direção ao mercado. Eu fiquei ali olhando aqueles corpos. Que tipo de mundo era esse que estávamos vivendo?

Lovely - 𝑪𝒂𝒍𝒛𝒐𝒏𝒂Onde histórias criam vida. Descubra agora