CAPÍTULO 16 - Chuva

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Você está ferido e cansado
De viver andando em círculos
E você não se sente um lutador
Mas eu vejo isso em você,
então vamos sair dessa
E mover montanhas
(Rise up)

Calliope

Já estávamos andando a tanto tempo, que já perdi as contas da horas e dos dias. Estamos tão cansados e fracos, tanta sede e fome. Mas não penso em mim, só consigo pensar em Sofia e em como não sei o que fazer por ela. Ela reclama de fome e sede a cada minuto, já nem sei segurar minhas lágrimas quando lhe digo que não temos. Já nem sabemos o que procuramos ou o que vamos encontrar, já nem sei se tenho alguma esperança. As vezes parece que estou esperando apenas pelo fim, pela hora que essa dor toda vai acabar. Acho que já não tenho forças para lutar.

Ei você está bem? - Arizona se aproximou de mim

O que você acha? Não aguento mais andar - eu digo parando e me sentando no chão

Nós temos que ir - ela disse tentando me levantar

NÃO... JÁ CHEGA - todos se viraram para mim - porque ainda estamos andando? Nem sabemos a onde esse caminho vai dar. Estamos fracos, com sede. Não devemos mais fazer isso com essas crianças - eu disse e meus olhos se encontraram com o de Sofia que estava pendurada nas costas de Alex - o que estamos fazendo? - comecei a chorar - isso não é vida

Callie não temos escolha - Addie que segurava Mer olhou para mim

Querida… - Arizona sentou no chão também e ficou na minha frente - eu sei que não está fácil, tudo o que está sentindo eu também estou. Todos estamos - ela segura o meu rosto e me faz olha-la - mas precisamos fazer isso. Pensa em Sofia e como ela precisa da mãe. Se você desistir o que será dela? E de todos nós? Precisamos de você. Eu preciso de você - aqueles olhos azuis cintilantes se fixaram nos meus

Precisa? - perguntei sem entender

É claro que eu preciso. Você é uma das pessoas mais fortes que eu conheci. Se você cair, eu também vou cair. Porque você é minha inspiração de força - ela me confessou - é claro que minha irmã Andrea também é. Mas você é diferente, porque eu vejo como tem tentado ser a melhor mãe para Sofia no meio desse caos. Sempre tentar ser uma boa amiga, se preocupa com todos. Não desista agora. Eu sei que estamos perto de algo. Vamos conseguir

Ela disse com tanta convicção que eu cheguei acreditar, não por causa de suas palavras, mas pela verdade que seus olhos azuis me diziam. Eles pareciam como oceanos, que trazia calma igual a brisa do mar. Eu não sabia explicar, mas ela podia passar uma sensação de paz, que por alguns segundos eu me esqueci a onde estamos e como estamos. Até me esqueci que estávamos vivendo o fim do mundo, apenas me joguei em seus braços e deixei que ela me abraçasse. Digamos que não sou o tipo de pessoa que demonstra tanto afeto, ou que sai abraçando as pessoas, mas desde que tudo começou isso mudou em mim. Tento ao máximo mostrar a quem eu gosto o quanto me importo e naquele momento era eu que precisava disso, daquele abraço. Arizona em nenhum momento me afastou, ao contrário, me abraçou forte e deixou que eu chorasse em seu ombro. Talvez ela sentisse o mesmo que eu, quer dizer, o que é que eu sentia?

Tô com sede - Zola foi quem quebrou o silêncio - mamãe - ela choramingou do colo de Tara

Meu amor não temos… - Maggie que estava de braço dado com Andrea que a ajudava a andar, respondeu a filha com dor no coração

Nesse momento todos ouvimos um barulho estranho, na verdade era muito conhecido mas que a tempos não ouvimos. Olhamos para o céu e vimos o trovão e de repente sentimos as gotas tocaram nossa pele. Aquela sensação era nova, eu e Arizona já havíamos nós soltado e eu então né levantei. Minhas lágrimas se misturaram com aquela água. Chuva, era chuva, era como se fosse um milagre. Todos começaram a rir, e abri a boca para deixar a água cair pela garganta, estávamos com muita sede.

Peguem as garrafas, vamos enche-las - Daryl disse

Tara colocou Zola junto com a mãe, enquanto ela e Andrea com Daryl pegaram as garrafas e começaram a deixar a água da chuva encher. Alex colocou minha filha no chão que correu para meu colo, a peguei em meus braços e rodamos na chuva. Pela primeira vez em dia, foi o melhor momento que tive. Grita vamos e riamos, se Deus existia, aquele era o recado dele para mim. Eu não podia desistir. Arizona tinha razão. Me virei para olha-la e a vi rodar na chuva com os braços abertos e o sorriso estampado no rosto. Aquela era a imagem mais bonita que eu já vi, se tivesse uma câmera com certeza irei fotografa-la e colocar a foto em um porta-retrato. Acho que nunca reparei tanto em como ela era bonita e seu sorriso mais lindo ainda. Então ela parou e percebeu que eu a estava olhando, eu acho que eu corei, como alguém que é pega no flagra fazendo algo. Mas não estava fazendo nada demais, apenas a admirando. Que mal tinha nisso, não é?

{...}

Arizona

Quando eu a vi sentar no chão destruída, senti como um soco no estômago. Eu estava tão acostumada a vê-la forte, quer ver ela daquela maneira me deixou mal, mas não quis demonstrar. Ela precisava de força, de motivação, não de alguém que ficasse pior que ela. Quando ela se chegou em meus braços, eu senti algo diferente, sabe como se eu estivesse segurando meu próprio mundo nas mãos. Não sei em que momento ela se tornou tão importante, mas sei que Calliope é essencial para que eu acredite que vamos sobreviver, que vamos encontrar um lugar além desse caos. Talvez porque eu queira acreditar que há uma chance, que mínima de ficar com ela. Sim, eu acho que gosto de Calliope e não apenas como amiga. Eu sei que ela não me vê dessa maneira e que talvez nunca veja, mas eu preciso sonhar. Sonhar, pensar foi o que sempre alimentou a minha vida e agora é o que me ajuda a viver. Não é errado sonhar que Callie se apaixone por mim, é?

Quanto as primeiras gostas de chuva começaram a cair por nossas cabeças e ela se afastou e levantou, eu a segui. Eu estava com tanta sede que abri a boca e bebi aquela água. Todos estávamos felizes, aquilo era um milagre, aquilo mataria nossa sede. Mesmo que ainda estivéssemos com fome, pelo menos não ficaríamos mas tão desidratados. Eu vi quando Sofia correu para os braços da mãe e as duas rodaram pela chuva então decidi fazer eu mesmo, sozinha. Abri meus braços e rodei, pude ver Andrea sorrindo para mim, tão emocionada como eu enquanto enchia garrafas. Addison e Meredith se abraçavam e riam enquanto também bebiam aquela água. Zola estava abraçada a mãe como se estivesse com medo. Alex pulava como criança nas poças que se formavam enquanto Daryl que era sempre sério, estava sorrindo. Acho que eu nunca o vi sorrir. Então voltei para o meu momento e voltei a rodar, que delícia aquela água geladinha, meus cabelos molhados começavam a colar por meus ombros. Foi então que eu parei e a vi me olhando, seu olhos estão tão fixos em mim. Suas bochechas corarem quando eu a peguei me olhando, mas então eu sorri para ela, querendo demonstrar que estava tudo bem. Sofia então se agarrou ao pescoço dela e quando dei um passo para me aproximar senti a mão de Andrea em mim.

Precisamos ir, precisamos achar algum abrigo. A chuva está ficando mais forte - ela disse e eu concordei e olhei para Callie para saber se ela também haviam entendido

Todos saímos correndo dali, as garrafas de água nas mochilas, Alex foi rápido e segurou Maggie para sair dali, vi Callie correr com Sofia no colo enquanto Mer gritou para Addie solta-la e pegar Zola, então corri até ela e fui ajudá-la, afinal seu pé ainda não estava bom. Assim todos nos ajudando, fomos em busca de um lugar e como por outro milagre encontramos a espécie de um galpão de madeira. Daryl conseguiu arrombar a porta que estava fechada e todos entramos para nós abrigar da chuva. Coloquei Mer encostada em algo para que se apoiasse e então meus olhos procuraram por Callie. E quando por fim a vi sentada abraçando a filha que parecia estar com frio, eu sorri. Ela estava bem. Estávamos bem e tínhamos um abrigo da chuva.

Lovely - 𝑪𝒂𝒍𝒛𝒐𝒏𝒂Onde histórias criam vida. Descubra agora