Dama ♠

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"Enzo não vás para aí, é fundo e não sabes nadar."- aviso.

"Mas eu tenho as bóias..."- ele diz a tentar fazer beicinho.

"Mesmo assim, anda mais para aqui."- aponto para a zona mais próxima daquela que estou e que é mais baixa.

O menino lá me obedece e vem para perto de mim. Estamos os dois sozinhos na piscina da casa do Lorenzo, já que ele está a dormir e não a trabalhar como era previsível. Passou a noite em chamadas e saídas por causa de um aparente carregamento que correu mal. Assim sendo dispensou-me de trabalhar hoje no casino para que tomasse conta do filho dele. Desde a chegada dele que o círculo de pessoas de confiança dele ficou ainda mais restrito.

"Jess, posso comer um gelado?"- o pequeno moreno pede com demasiado jeitinho fazendo com que eu perca a coragem de negar o pedido.

"Temos que ir pedir ao teu pai. Vai-te secar com uma toalha para irmos acordá-lo."- digo e ele obedece, faço o mesmo e encaminho-me para o interior da casa.

Quando entro as minhas narinas são inundadas por um cheiro horrível e imediatamente fico com um mau pressentimento.

"Enzo, vai buscar as boias ao jardim para arrumarmos, pode ser?"- digo impedindo-o de entrar em casa mas tentando não o alertar de que algo estava errado.

"E o papá?"

"Eu vou lá acorda-lo."

Ele assim o faz e eu começo a abrir janelas em várias divisões. 

Este cheiro...Merda! É gás!

Começo a correr para o andar de cima já que o Lorenzo, a dormir, pode não ter percebido e estar inconsciente. 

Quando chego à parte de cima das escadas noto o cheiro mais intenso . Como é que o cheiro é tão intenso aqui se há nenhuma saída de gás neste piso? Algo muito mau se está a passar... Procuro numa das divisões algo para servir de máscara até que encontro um lenço. Sigo em busca do paradeiro do Lorenzo. 

Bato à porta do quarto do moreno mas não obtenho resposta. Abro a mesma e entro vendo o que mais temia: o Lorenzo deitado na cama pálido e com os lábios roxos. Oh não...

"Lorenzo? Lorenzo consegues ouvir-me?"- procuro o seu pulso e, apesar de fraco ainda era possível encontrá-lo. A sua respiração estava irregular e esforçada porém muito lenta. 

Ele precisa de ir para o Hospital agora mesmo! Percebo que deixei o meu telemóvel no andar de baixo mas rapidamente me lembro que nunca estamos sozinhos e que estão sempre seguranças nos jardins mesmo que os empregados dentro de casa estejam de folga tal como é o caso do dia de hoje. 

Abro a janela e berro para os seguranças que estavam do outro lado do jardim da casa.

"Ajudem, chamem uma ambulância."- eles encaram-me e vejo dois a correrem para o interior da casa e outro a pegar no telemóvel.

"Vão ver do Enzo. Não o deixem entrar!"- ainda grito a tempo de um deles sair da casa e contornar o jardim.

Volto a focar a minha atenção no Lorenzo. O seu estado mantém-se e eu começo a sentir o meu coração a acelerar. Começo a sentir dificuldades em respirar eu própria. Um dos seguranças chega ao quarto e corre até ao Lorenzo para verificar o seu pulso, enquanto fala com a emergência médica. Rapidamente usa a manga do casaco para tapar a boca e nariz, face à quantidade de gás que se sente no ar. Os seguranças pegam no Lorenzo e levam-no para o jardim, retirando-o daquele meio até que chegue a ajuda médica.

A ambulância não demora muito na realidade, mas para mim pareciam horas. O pequeno Enzo percebeu o que se passava e só chorava agarrado a mim já no exterior. Procuro no telemóvel do Lorenzo o número da Babysitter do pequeno pois sei bem que ele não quereria que o filho fosse para o Hospital e muito menos tivesse consciência do estado dele.

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