Blood Taste

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Mads

 Jamais me esquecerei da noite em que Madison me ligou após o jantar com Daniel na casa de seus pais. Sua voz esganiçada e trêmula denunciava os horrores inimagináveis que havia sofrido nas mãos do jovem sociopata. 

 Eu estava finalizando os preparativos para uma refeição solitária quando ouvi meu celular vibrar em meu quarto, produzindo sons abafados ao estremecer na superfície de madeira da cômoda. Levantei os olhos da tábua de vidro, onde com um cutelo eu fatiava os ossos que futuramente usaria no caldo e maneei a cabeça, absorvendo os ruídos provenientes da ligação desconhecida. Depositei a lâmina sobre o utensílio vítreo e dirigi-me para fora da cozinha, subindo as escadas em direção ao quarto no andar superior. 

 - Boa noite... - saudei, contente após ter visto o nome de Madison piscar na tela do meu telefone, contudo, fui interrompido.

 - Mads! - sua voz me cortou do outro lado da linha, soando urgente e preocupada. 

 - Maddie? Está tudo bem? O que houve? 

 - Adivinha? 

 Era preciso pouca perícia para adivinhar o motivo de sua ligação, pois era óbvio para mim que sua única fonte de preocupação momentânea tinha um nome, rosto e a personalidade narcisista.

 - Você está bem? Daniel te machucou? 

 - Estou bem, mas isso está ficando sério, Mads. Precisamos dar um jeito nessa situação, porque cedo ou tarde sei que ele fará alguma coisa para arruinar nossas vidas. Hoje ele quase nos entregou para os meus pais, e agora meu pai colocou na cabeça que ele pode juntar Daniel e eu como um casal. Ele me beijou a força de novo hoje. - pude ouvir a alteração em seu tom quando proferiu a última sentença, dando a entender que aquela mera recordação a abalava. 

 Mesmo parecendo uma piada de mau gosto vinda de Gregory, fui incapaz de rir diante das circunstâncias que nos rodeavam.

 - Onde você está agora? 

 - Saindo do elevador. Daniel ficou lá em cima e Lindy está me esperando do outro lado da rua. Estou segura. 

 Mesmo após dizer que estava fora de perigo, não pude evitar que uma crescente fúria se apoderasse de meu corpo. 

 Quando fui informado dos acontecimentos do Karaokê, conclui que aquela era a gota d'água e prometi à jovem de que cuidaria para que Daniel não voltasse a incomodá-la, contudo, naquele instante eu sentia-me culpado por ela estar me pondo a par de um novo fato e eu ainda não ter feito nada para deter seu abusador. 

 Naquela noite, então, fiz uma promessa à mim mesmo, de que eu apenas seria digno de seu amor se de fato conseguisse mantê-la segura. Naquela noite jurei de que me livraria de Daniel na mesma semana. 

 Nos despedimos em chamada assim que Maddie encontrou-se segura no interior do carro de sua amiga, e no mesmo instante em que encerrei a ligação senti o cheiro amargo dos legumes sendo queimados no fogo alto. Desci as escadas de dois em dois degraus a tempo de chegar na cozinha e impedir que a frigideira fosse consumida pelas chamas. Suspirei e retorci os lábios enquanto abanava a fumaça escura com um guardanapo, me perguntando se era melhor pedir um delivery. 

 ***

 Na segunda-feira, após a aula de Psicopatologia que eu ministrava ao primeiro ano de Psicologia, e consequentemente à Madison, troquei cautelosamente meia duzia de palavras com a garota antes que ela se dirigisse ao refeitório para sua pausa para o almoço e eu para a minha próxima aula. Durante nosso breve diálogo tentei tranquilizá-la e garanti que já estava tomando medidas para que Daniel a deixasse em paz. 

Brooklyn BabyOnde histórias criam vida. Descubra agora