VIII - Verão de 1997: após setembro um.

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HOGWARTS, 1997.

Draco rastejou para o próprio quarto. Na tentativa de subir as escadas seu corpo nunca foi tão pesado e fraco. Aquela casa vazia parecia estar consumindo cada pedacinho da alma do pobre garoto, então ele desmaiou escada a baixo e não se lembrou de muito mais do que ver a própria visão escurecer enquanto Nascissa correu escada abaixo estendendo a mão na direção do filho. Um grito abafado e logo tudo ficou tão sereno como a noite.

Era no que estava pensando desde que acordou. Com cada pedaço de si mais frio do que nunca ─ trouxe as pernas para si, abraçando os joelhos enquanto ouvia o som da corrente presa na perna esquerda arrastar pelo chão das masmorras. Protegeu a cabeça quando sentiu um estalo de enxaqueca após ter sido mutilado de maldições e torturas. Já não existia mais dor, aquilo já não machucava mais. O corpo que estava ali não pertencia mais a uma alma, porque Draco morreu aos 4 anos, quando recebeu um Crucius após chorar porque seu gatinho de estimação havia desaparecido.

As vagas lembranças maltrataram mais o corpo do que as feridas abertas, se apertando mais em si mesmo.

A verdade é que nunca há um motivo para machucar alguém. Inventamos em cima de nossas próprias frustrações, o desejo de vingança. Então Draco se perguntou se, seriam as pessoas assim tão ruins quando querem, ou já nascemos com esse pedaço sombrio, e o mascaramos sendo bons ¹samaritanos com nossos bons atos?

Draco riu do próprio sofrimento, pensando o quão maltratado seria se, qualquer noite dessas seu pai o pegasse tendo seus deliciosos sonhos eróticos com o garoto de óculos. Claro que aquilo não passava de hormônios florescendo e se espalhando, mas, Draco seria um garoto morto, e seus sonhos seriam a última coisa que veria. Dormir para jamais acordar. Um belo sono da morte.

Então o sorriso se desfez aos poucos, e um vislumbre de sanidade desceu aos olhos de Malfoy quando a ficha caiu e ele se deu conta de que havia sido abusado mais uma vez. Machucado, traído, maltratado e morto, morto diversas vezes. Sujo. Então ele sentiu a lágrima solitária escorrer pela bochecha e a visão se fechou, junto com a escuridão da cela.

[...]

Draco desceu do trem e marchou automaticamente pelo caminho que sempre fazia, perdido e vagando em uma confusão dez vezes maior do que todas aquelas que já presenciou. Esbarrando nas pessoas e se enfiando violentamente no meio delas para que abrissem passagem, fumegando pelos ouvidos e com raiva nos olhos, foi então que ele esbarrou com alguém que caiu diretamente no chão, derrubando uma pilha de coisas, Draco rosnou prestes a azarar mas abaixou o olhar, encarando Luna, pressionando o joelho ralado com uma mão enquanto juntava as coisas e murmurando desculpas e o quanto ela era desastrada, pedindo que Draco não guardasse rancor da pobre menina.

Então Draco se sentiu afundar por completo, levantando o olhar e percebendo que todos o encaravam com uma mistura de medo e desaprovação, desviando quando seus olhos encontravam e abaixando as cabeças como se fossem inferiores. O pai de Draco estaria orgulhoso daquela cena, mas tudo que ele sentiu foi o próprio coração quebrando ─ se abaixou e começou a juntar as coisas de Luna, colocando as malas de pé e os livros dentro da pequena maleta marrom estilo carteiro que havia se soltado.

─ Me perdoe, Lovegood ─ Draco murmurrou se abaixando e estendendo a mão para a menina que por sua vez, abriu um doce sorriso e aceitou de bom grado a ajuda, ficando de pé.

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