XI - Sétimo ano : Muito Tarde, adeus à todos.

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HOGWARTS, 1997

   Harry esperou muito tempo nos Três Vassouras aquele dia. O bar estava prestes a fechar quando ele pegou o casaco e se levantou, estava com muita raiva. A meta era chegar no castelo e azarar Malfoy por o deixar plantado ali, afinal, teria ele esquecido? Esquecido. Aquilo soava tão vazio e o deixava tonto de chateação. 

  Depois de uma longa caminhada ele estava finalmente entrando no castelo, nada estava muito diferente de quando ele saiu naquela tarde, ou de qualquer outra noite de fim de semana. Caminhou pelo térreo, passando pelo grande salão ele notou que um aglomerado de alunos se formava ali, muitos alunos. Mas ele olhou aquilo e não viu nada fora do comum.

  Harry continuou caminhando pelos corredores, mas foi ali, na porta da enfermaria que ele notou um movimento estranho. Haviam muitos alunos, muitos alunos cochichando, no canto das grandes portas escancaradas para que todos pudessem entrar e ver, Pansy Parkinson estava em prantos. Ao lado dela estavam mais poucos sonserinos, pálidos e abatidos. Aquilo tudo soava tão estranho.

  Foi então que ele notou, Lucius Malfoy no meio daquela multidão, não dava para ver exatamente sua expressão, na verdade Harry suspeitava de que o homem se quer fosse capaz de sentir algo que não fosse covardia ou medo. O homem consolava com a mão uma mulher, uma mulher de cabelos meio pretos com longos fios platinados, aquela era Narcisa Black. E foi ali que o estômago de Harry despencou. Ele soube que algo estava errado.

 Então ele se enfiou no meio da multidão, abrindo espaço enquanto empurrava a todos. Tudo o que se passava por sua mente era "saiam da frente, saiam da frente bastardos" e ele realmente despencou quando chegou na frente de todos, na frente da maca.

  Todas as coisas que ele fez, todo sangue que ele sangrou. Ele não sabia a que lugar pertencia, ou se pertencia. Mas Harry, desde um tempo, desejou que Draco Malfoy pertencesse a ele, mesmo sabendo que ele pertencia a ninguém, que pertencia a todo mundo. 

  Ele estava esticado na cama, não, estava esparramado nela, realmente como um corpo vazio. Estava inteiramente e completamente banhado de vermelho vívido, recorrente, que ainda escorria e estava lambusando tudo que estava por perto. O chão, a cama, as pessoas com quem teve contato, a mesa ao lado da cama, o corpo, os cabelos, tudo. O próprio Harry se perguntou se ele também estaria sujo. Mas não havia lugar para pensar, a verdade é que ele nunca soube o que sentiu ali, apenas entrou em estado de choque.

  Bem ao lado da cama, sentado com as mãos entre os joelhos, tão pequeno e encolhido que chegava a parecer apenas uma criança sentada em uma cadeira, Theodore Nott. Sua feição era tão assombrada e perturbada, coberto de sangue seco, os olhos muito bem arregalados e fixos no chão. Harry soube no mesmo momento o que estava se passando. 

  Então ele pensou em fugir dali, em correr para o quarto e dormir, em ir estudar, planejar uma festa, jogar S. explosivos com Rony ou voar de vassouras, porque aquilo não parecia real. Não poderia ser. Mas ele não fez nada disso, na verdade, eu acho que Harry Potter desmaiou, mas consciente o suficiente para pedir que quando ele acordasse, estivesse nos braços de Malfoy, e pudesse rir sabendo que nada passou de um sonho.

  Ele não se esqueceu. Ele não pôde ir, e Harry se culpou todos os dias depois do incidente, se culpou por estar sentado em uma maldita mesa de bar esperando enquanto Draco agonizava. Diversas vezes ele acordava no meio da noite, sonhando com como e quando aquilo teria acontecido. 

  Mas foi naquela manhã de Natal, meses depois, que tudo mudou.

[...]

─ Fico feliz que tenham vindo, Potter ─ Pansy o tocou no ombro com a mão livre, passando em sua frente o guiando ─ por aqui, por favor. Você pode colocar as coisas nas mesas vazias, cabides ou...aonde achar melhor, de qualquer forma, apenas deixe aí se quiser e eu vou arrumar.

─ Ah, certo ─ Harry colocou a caixa no chão, levantando o olhar para a grande faixa escrito "Feira de fim de ano", aquilo havia sido uma ideia dos sonserinos. Na verdade não havia motivo para todos não participarem, era o último fim de ano como estudantes e eles tinham muitas coisas de que não usariam quando saíssem. Observou Pansy colocar uma caixa em cima da mesa.

─ Oh céus, Potter, já que está aí desocupado, por favor esvazie esta caixa e eu vou ajudar Loony Lovegood a colocar as roupas no cabide, não é possível que ela não sirva para isso ─ Harry ignorou a ofensa e se dirigiu até a mesa, puxando as mangas do casaco e começou a retirar os objetos de dentro.

  Na verdade não havia nada tão especial. Quando vemos as coisas das outras pessoas costumamos ficar maravilhados, porque não são nossas, mas Harry nunca teve interesse por invejas mútuas. Um porta fotos, alguns ursinhos, alguns cadernos, pulseiras coloridas, uma luminária, e algumas outras tralhas. Mas pouco antes do fundo da caixa, algo lhe prendeu a atenção.

  Harry puxou o caderno do fundo derrubando algumas coisas, estava empoeirado então ele soprou, espirrando com as partículas  e abanou o ar afastando, esfregando a manga para retirar o resto. Diário, nada de mais, não se deve ler o diário das pessoas apenas porque você é curioso, mas aquele diário era diferente, porque o coração bateu fortemente quando na primeira folha estava escrito "Draco Malfoy".

  Ele engoliu o seco, caminhando com o caderno em mão até Pansy, que discutia com uma garota, Harry a cutucou.

─ O que é? Estou ocupada.

─ Posso ficar com este caderno que estava na caixa?

─ Fique com o que quiser, não está vendo que é uma feira seu idiota? Sinceramente! Mas se não vai ajudar, pelo menos não me atrapalhe, vá para lá ─ Ela não fez questão de o olhar, enfiando cabides no apoio e mostrando a Luna como o fazer.

  Harry olhou em volta, todos de todas as casas estavam ocupados trazendo, guardando e pegando coisas, então ele procurou um cantinho e achou atrás de uma mesa, se sentando no chão e abriu o caderno, começando a ler.

─ Mas o que diabos você está fazendo aí?! Seu esqui-...Potter? você está chorando? ─ E mais uma vez aquele dia a voz de Pansy soou, de cima, então Harry ergueu o olhar para notar que estava escuro, anoitecendo. Afinal, quanto tempo ele havia passado sentado ali? Ele não fazia ideia, se quer sabia em que momento havia começado a chorar ─ Você está bem?

  Ele não sabia responder, talvez as palavras simplesmente não quisessem sair, então ele ergueu o caderno, e quando ela segurou ele se encolheu e abraçou os joelhos, gaguejando quase sem voz ─ eu não sei o que deveria fazer, assombrado pelo fantasma dele.

  Pansy leu algumas páginas em silencio, mas quando abaixou o caderno ela não chorou. Não por fora. Mas ela se sentou ali, escondida bem ao lado de Harry e o escutou chorar enquanto respeitava o momento. Então ele sentiu a mão dela com as unhas afiadas acariciarem medrosamente os cabelos bagunçados, e a voz baixa e nada agressiva, talvez fosse a voz da verdadeira mulher que existia ali ─ querido, você não está sozinho.

  E ele não lembrou de nenhuma inimizade, não lembrou de nenhuma desavença, ele apenas deixou que ela o envolvesse em um abraço e chorou mais. Chorou porque Pansy não o conhecia, mas ele sabia que ela estava sendo verdadeira. Chorou porque sabia que ela queria chorar. Chorou porque quando ele acordasse na manhã seguinte ainda estaria sem Draco.

  E ele nunca, jamais, queria sair dali. Não queria ir para casa, porque não é a sua casa, é deles, e ele já não é mais bem vindo.


  Mas ele sobreviveria mais uma vez. E o fez.


  E esse não é o final feliz, nem o desejado, mas é o final.

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Tem dois capítulos extras, por favor não me odeiem!!
Eu escrevi essa história em um momento extremamente difícil

THE DIARY, drarry | ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora