Situações

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Durante a maior parte do tempo, Pip ficou olhando para o professor de história explicar sobre a Segunda Grande Guerra Mundial, mas sem necessariamente prestar atenção na aula e, na verdade, bem alheio a qualquer coisa que acontecia ao seu redor.

Nesses últimos dias as coisas estavam diferentes, mas, ao mesmo tempo, terrivelmente iguais. Era um paradoxo chato que acontecia apenas com o loiro, pois, não importava o quanto as coisas estivessem diferentes ao redor dele, eram exatamente as mesmas coisas de sempre que ocorriam com Pip, diariamente. Não importava o quanto todo mundo estivesse ocupado, alguém sempre tiraria um tempo para lhe fazer se sentir mal, bater um pouco e humilhá-lo publicamente, de todos os jeitos.

Parecia que todos tinham esse prazer sádico e cruel em maltratar Pip e isso era bastante óbvio, além de bem deprimente, mas, depois de tantos anos na mesma situação, o que restou foi se adaptar.

O professor estava concentrado na explicação, além falar muito bem e era quase impossível não entender ao menos um pouco do que ele falava. Ele era o tipo de professor que sabia o que estava fazendo, que até instigava o aprendizado. A maior parte dos alunos também estava focada na aula, com exceção de poucos, como Pip e Craig.

Craig especificamente estava debruçado sobre a mesa, usando os braços de travesseiro e escondendo um hematoma roxo e feio na bochecha. Haviam esses boatos e fofocas de como ele havia conseguido aquilo do pai, mas Pip não diria que estava muito interessado em saber os detalhes desse tipo de fofoca. É até cruel...

Foi um espirro não muito alto, mas nem tão baixo assim, que percorreu a sala e interrompeu de forma brusca o falatório do professor. Ele parou e percorreu os olhos pela sala inteira a procura de um culpado e todos travaram no lugar, inclusive Pip, que discretamente afundou na cadeira. Claro que um espirro era uma coisa completamente acidental, irrelevante de todos os jeitos e não merecia qualquer tipo de repreensão ou castigo, mas havia algo naquele professor em particular.

O homem poderia ser um bom educador, isso era inegável, mas ele também não gostava da idéia de precisar ensinar em um colégio de interior, para um bando de adolescentes, quando poderia estar em uma faculdade em Denver. Ele tinha esse costume ruim de descontar as frustrações em alguns alunos específicos. De maneira mais precisa, Pip era quem acabava se dando mal no fim. Nenhuma novidade.

Além de tudo, naquele dia o professor parecia estar com o humor terrível, o que também era péssimo para o britânico.

Ninguém mexeu um músculo e todos continuaram em completo silêncio, temendo a inevitável ira desse homem quase careca e Pip ainda tentou se esconder atrás de um colega, afundando ainda mais na cadeira, tentando escapar do olhar feroz e duro daquele professor.

Quase conseguiu. Por muito pouco escapou do olhar dele, mas quando estava prestes a desistir, deu uma última olhada ao redor da sala e finalmente pregou os olhos no britânico. Pip podia jurar que ele quase sorriu:

— Ha, muito engraçado, Pip. — E todos os olhares se voltaram em Pip, que afundou ainda mais naquela cadeira desconfortável, se é que isso era possível. — Você deve achar hilário interromper a minha aula desse jeito, não é?

— Perdão, senhor, mas eu não falei nada... — Pip respondeu baixo demais, intimidado.

— Não me venha com conversa fiada dessa sua gentem Pip, vocês franceses são todos iguais.

Sim, sempre isso, sempre confundiam a sua nacionalidade e aquilo era tão frustrante:

— Mas eu não sou-

— Não me faça perder a pouca paciência que eu ainda tenho com você, por mais que não mereça. — O professor interrompeu, soando ainda mais irritado do que antes. — Só vamos acabar com isso logo, o Harold que resolva o que fazer com você.

Everybody hates PipOnde histórias criam vida. Descubra agora