CAPÍTULO 50

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Algo cai sobre meu peito e ouço um grito agonizante. Abro os olhos e vejo a mão do bruxo rolar. Olho para ele segurando um cotoco e começo a rir. Neyb o tira do chão e lança longe, as chamas somem e ele para ao meu lado, me encarando de cima em baixo. Ele arrebenta as cordas e me pega nos braços. Olha para Faruk.

- Ninguém toca nele ou no outro. - Neyb diz e noto a tonalidade grave e fria. Ele alça voo e me arrepio toda. Depois de um tempo Neyb pousa perto do curandeiro. A pele quentinha dele me aquece e sinto falta de estar em seu colo quando sou colocada na maca, Flora começa a me curar e Neyb desamarra a mordaça, olho para ele e noto as variações da cor dos olhos dele. Vermelho, amarelo, preto, cor normal. Apenas essas. Sem parar. Ele mantém o cenho franzido e toca minha orelha cortada, solto um gemido. Ele olha para Flora. - Cuide dela. - ele diz e simplesmente sai. Evito falar. Minha garganta dói de tanto que forcei ela. Fico recebendo os cuidados de Flora.

- Como se sente? - ela pergunta.

- Dói tudo, mas estou bem. - digo com um fio de voz.

- Vai ficar boa. - ela diz. - Sua mãe está descansando em um dos quartos. Assinto. Flora sorri. - Foi muito corajosa arriscando sua vida para salvar sua mãe. - ela diz. - Certamente será uma rainha maravilhosa quando governar. Seu povo te deve muito. - ela diz. - É um ser místico admirável princesa Morticia. - ela diz e sorrio.

- Obrigada. - ela assente.

Depois do que parece uma eternidade, Flora termina e sai por um momento, retorna com um grande cobertor. Sorrio. Me coloco de pé e me enrolo nele, volto a deitar e fecho os olhos. Me sinto exausta, mas aliviada.

Acabou.

Adormeço.

***

Acordo com a luz do dia invadindo minha visão. Abro os olhos lentamente e a primeira pessoa que vejo é Neyb. Ele segura minha mão e está sentado ao lado da maca e com a cabeça apoiada nela. Ele dorme de forma desajeitada. Franzo o cenho.

Suas mãos estão cobertas de sangue, assim como seu corpo. Engulo seco. Prefiro não saber aonde ele estava. Olho ao redor e vejo três alados com o olhar fixo em Neyb. Um deles move a boca.

- Instável. - assinto. Notei essa madrugada. Acaricio seu cabelo.

Meu. Meu alado.

Ele move a mão e solta um grande suspiro. Sorrio. Depois de alguns segundos, ele move as asas e abre os olhos tirando a cabeça da maca. Ele me encara sério, as variações ainda estão lá e toco seu rosto.

- Está instável. - digo. Ele ignora minha afirmação e continua analisando meu rosto, acaba levando o braço para minha orelha enfaixada. Seus olhos não param de variar e parece ficar mais rápida assim que ele toca a faixa. - Estou bem. - digo e ele fecha os olhos sorrindo com frieza.

- Por um momento, eu quase a cabeça ontem... - ele diz e meus olhos marejam.

- Você está instável, perdeu a cabeça, não foi um quase. - ele abre os olhos e me encara com o cenho franzido.

- Ada não declarou. - ele diz. - E o alado que você escolheu... - lembro dele caído e uma lágrima desce.

- Está morto. - digo e Neyb continua sério. Odeio a inestabilidade dele, isso o torna mais sem coração. - Preferia que ele estivesse vivo, mesmo que isso afetasse o acordo. - ele morde o lábio e assente.

- Estou sedento por toque princesinha, além disso, estou instável... Passei a noite cuidando de certos criminosos então... Não diga coisas que me deixem mais no limite. - sorrio.

- Flora já cuidou dos meus ferimentos. - digo. Ele assente.

- Ainda assim, não posso te tocar, até ela declarar. - ele olha para trás e sinto um frio na espinha, os olhos dele variam do preto ao vermelho apenas enquanto ele olha para os alados no recinto. - Saiam. - ele ordena, creio que Neyb foi muito afetado pelos acontecimentos. Eles negam.

- São ordens de Aigon. Não podemos sair, ele disse para te vigiar, não deixar você sozinho com ela. Está instável. - olho para os três e sorrio.

- Sou forte. - digo. Eles negam e Neyb se põe de pé estendendo a mão. Me coloco de pé enrolada no cobertor e seguro sua mão.

- Preciso que ela declare. - assinto e saímos do curandeiro. Um dos alados que nos segue toma a palavra.

- Não poderá tirar ela do castelo até seus olhos pararem de variar. - Neyb aperta sutilmente minha mão e relaxa em seguida. "Não acho que ele vai ouvir a voz da razão." sorrio. Espero por esse momento, tanto quanto ele. Caminhamos apressados pelas escadas, e a cada degrau que eu piso, sinto meu coração bater mais depressa. A euforia aumenta e assim que chegamos na frente do castelo, observo as portas caídas. Passamos por elas e encontro Ada conversando com Aigon e Yven. Paramos frente a poltrona de Ada e ela desvia o olhar para mim, sorrindo com gentileza.

- Como está? - sorrio.

- Bem melhor. Me sinto excelente. - Ela assente e se levanta.

- Preciso que confirme uma informação que Neyb conseguiu do bruxo. - assinto, ela fica séria. - Tiraram seu sangue e te cortaram? - assinto. - Do lado humano? - novamente confirmo. - Ok... Se quiser ir ao seu quarto tomar um...

- Declare. - Neyb interrompe e a voz dele soa distante. Ada olha para Neyb e nega.

- Seus olhos...

- Declare Ada. - ele pede com frieza e ela suspira. Ela me encara e balanço a cabeça, tranquilizando ela. Ada limpa a garganta e declara em voz alta.

- A partir de agora, a união do reino dos elfos e do reino dos alados está firmada e celada pela união da Princesa Elfica a um guerreiro Alado. O acordo está feito. - ela diz e ele assente. Sou tirada do chão e Neyb me carrega nos braços em direção a parte de fora do castelo. - Neyb! - ele ignora e encaro seu rosto sorrindo.

- Preciso descansar Neyb. - provoco, ele parece não me ouvir e sinto vontade rir. - Para onde vamos? Sua casa? - pergunto e rio. - Neyb! Estou falando sozinha? - ele alça voo e agradeço ao cobertor ao meu redor.

Não demora para ele pousar em frente a sua casa. Estou nervosa e meu coração parece querer saltar do peito. Ele não me coloca no chão, ao invés disso, me carrega para varanda e abre a porta da frente, fechando com a asa e subindo as escadas. Ele está extremamente sério e eu sorrindo como uma idiota. Assim que estamos no quarto, ele me senta na cama.

- Me dê cinco minutos para esquentar a água para seu banho. - assinto e ele desce. Posso esperar bem mais, creio que a afirmação dele foi mais para ele do que para mim. Ele retorna em seguida e joga baldes de água na banheira. Observo seus movimentos rápidos e ele me encara em seguida. Retiro o cobertor e caminho para a água. Ele tira a roupa e entra junto, a água se torna carmim. Depois que saio da água, encaro Neyb limpando as asas e vejo a agonia em seu olhar. Me sento na cama e ele sai da água arqueado as asas e secando elas. Respiro fundo. "Finalmente." ele para na minha frente e me empurra deitada. Seus olhos variam do violeta para a cor normal e sorrio.

- Não pode me pegar estando instável. - ele sorri de forma atrevida.

- Não posso muitas coisas quando se trata de você princesa, mas o baile já passou e eu prometi esperar só até noite passada. - ele se curva e seu rosto paira sobre o meu. Ofego. - Tem alguma objeção? - sorrio.

- Apenas me tenha. - ele assente.

- Imaginei que não tivesse objeções.

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Será que dessa vez vai?

NEYB - Saga "Pearl" (Livro V) Onde histórias criam vida. Descubra agora