O prelúdio da desgraça é sempre um sonho bom e mágico.
Tudo acontece por um motivo, as más línguas dizem. Há sempre uma escolha, não importa a situação, os idiotas aconselham. Basta ser firme e persistente e alcançará as estrelas, repetem os burros. Temos que cair para aprender a levantar, contam os infelizes. A vida é bela, recitam os poetas.
Conselhos e ditados populares, frases repassadas entre as gerações, todo mundo já ouviu ou falou alguma delas na vida. Mas, a grande questão é: tudo aquilo é verdade? A gente tem realmente que aprender a lidar com as situações insuportáveis e malditas para apreciar a beleza etérea da vida? Para todo sofrimento existe uma justificativa? O Sol sempre irá surgir posterior à tempestade?
Afinal, por que precisamos afundar para emergir? Por que não inventamos uma solução mais fácil para conquistar os objetivos e viver de forma plena? Por que diabos tudo machuca e faz doer? Por que estamos sempre esperando por algo melhor quando o destino de todos é a morte?
Jungkook não poderia responder nenhuma das centenas de perguntas em sua cabeça. Talvez estivesse sendo um dramático, reclamando de barriga cheia, tendo um ataque de pelanca, sofrendo com o que os jovens chamam de "Problemas de Garota Branca". Era provável que fosse tudo verdade, afinal, um casamento arranjado parecia uma coisa estúpida comparado às outras merdas do mundo.
A situação inteira, na real, não parecia uma catástrofe ou um caos exagerado como o alfa gostava de colocar.
Contudo, ele pensava que cada problema, de cada pessoa, era uma questão particular e não deveria ser comparado ou definido através de números e medidas. O sofrimento não era uma coisa equiparável, com uma única fórmula para todo mundo, e todos as dores e infortúnios importavam, fossem eles o que fossem.
Logo, seu casamento por contrato era uma merda e ele tinha o luxo, sim, de sofrer por isso.
Jungkook odiava aquilo, especialmente porque casar nunca esteve em sua lista de desejos. Ele gostava de ser um homem solteiro, com seu trabalho excelente e uma vida serena, boa, estava bem daquele jeito e não precisava de outra pessoa para completar — ou complicar — a sua vida. Seu copo estava cheio e não era necessário transbordá-lo com as coisas de outro alguém.
Agora, porém, o lúpus sentia o peso horrível da aliança de ouro branco em seu anelar esquerdo, queimando a pele e servindo como lembrete para a sua falta de controle sobre a própria vida. Ele reclamava do problema com as vozes de sua cabeça, discutia sobre as suas opções e tentava achar uma brecha naquele circo dos horrores.
Dongyul fez tudo muito bem, de caso pensado, de modo que os noivos não tivessem outra escolha a não ser assinar o bendito contrato e viver o resto de suas vidas como a droga de um casal feliz. Era patético, fodidamente ridículo, e enlouquecia o alfa a cada novo segundo.
Ele não conseguia parar de pensar, estava afundado em sua mente e longe da realidade, indo e voltando em todos os acontecimentos, sem descanso, relembrando cada uma das palavras ditas pelo pai. Não chegou a lugar nenhum, mesmo com as horas preso dentro do avião em direção à Jamaica, para a sua estúpida "lua-de-mel".
Jimin estava dormindo na cadeira ao seu lado, encolhido com os pés no estofado e enrolado em um cobertor pequeno e bem fino, o suficiente para um cochilo rápido.
Eles embarcaram pela manhã, um dia após o casamento, e suspiraram em alívio com a possibilidade de ficar longe de suas famílias e amigos obcecados por suas vidas durante alguns dias. A felicidade, entretanto, durou pouco tempo quando eles lembraram do motivo da viagem: a consumação de seu contrato, a baboseira mais idiota e insuportável de todas.
Jungkook quis morrer quando viu o olhar malicioso e severo do pai sobre si, claramente insinuando que ele deveria fazer o seu papel de alfa na maldita lua-de-mel. O lúpus ignorou o homem e fingiu-se de sonso, despedindo-se da mãe e dos irmãos e entrando no carro, louco para embarcar no avião e ir para bem longe de Dongyul e sua arrogância dos infernos.
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Amor carmim | Jikook
FanfictionO destino não é responsável pelas linhas da poesia da vida que escrevemos. Não é responsável pelas atitudes errôneas e as palavras pesadas que escolhemos usar. Não é criador da maldade humana e nem do egoísmo exacerbado, que corrompe o homem e o tor...