[🥀] Capitulum VI

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O amor era engraçado. Estranho e certamente confuso, com generosas doses de substância doce e viciante e capaz de enganar o mais sábio dos homens. Poucos eram aqueles os inteligentes o suficiente para fugir dele, alguns gostavam da tortura e definhavam em sua síndrome de Estocolmo, enlaçados pela corrente pesada e grosseira de tal sentimento infeliz. Carregava agonia e alívio, fazia carinho com a mesma mão agressiva do tapa anterior, beijava e amava e então dilacerava o coração sem piedade. Amar conseguia ser a melhor e a pior coisa do mundo, sensações coexistindo em uma única linha temporal.

Há quem diga que o amor seja para os fortes, exige bravura e coragem, pesa sobre os ombros e bate repetidamente até ser bom, esmaga e humilha, transforma o mal em bem e vice-versa e esmaga os seres sob o seu punho. Os fracos gostam do perigo, são os que mais se arriscam em suas aventuras calorosas, entregam-se de cabeça para a paixão, doam tudo de si e mal percebem o pouco retribuído, amam intenso, como chama eterna do Inferno, enganam-se e sufocam com a maldita dor do coração partido.

Talvez seja tolice decidir quem pode ou não amar, ninguém escolhe tal destino, somos pobres criaturas à sua mercê, tolos e frágeis, desejosos, cheios de ganância e insaciáveis, loucos por uma boa loucura. Amamos indiferentes de inteligência, de raça, de gênero, de fortunas, de sentido. Amamos amar, mesmo que doa, que faça chorar, amamos amar porque traz a sensação de vida, soprando com ar gentil para dentro de nossos pulmões, amamos amar porque faz termos certeza de algo, por um minuto ou pela eternidade, amamos amar porque é o amor que nos move, para frente ou para trás, com palavras de encorajamento ou pontapés agressivos.

Amor, em sua maldição, pode ser solitário, pode ser sensível, por vezes frágil como porcelana, sincero como uma janela da alma. O amor é explícito, não se esconde, faz aparecer rápido, mesmo quando tentamos negar, quando tentamos ignorar, quando o odiamos e queremos matá-lo, ele permanece ali, esquentando o gelado coração, derrubando cada parede construída em modo de proteção e tornando tudo um tremendo caos. Pinica, arde, coça, incomoda, irrita, não tem como fugir, transforma-se em sina miserável, perseguindo por túneis escuros e fazendo a barriga doer com a festa das borboletas, chato e impossível, amar era um enorme desafio.

Jimin perguntava a si próprio qual era a tamanha graça do amor, vivenciou e sofreu com tantas decepções que perdeu a fé, a esperança e até a crença em tal sentimento. Amou demais e foi ferido em dobro, entregou todo o corpo e alma e recebeu menos do que trocados, míseros centavos por suas lágrimas de garoto bobo. Não sentia raiva, porém, ainda apreciava, achava doce, bonito, admirava como se fosse obra de arte, mas para os outros, ele não foi feito para amar, perdeu a ilusão e os sonhos de príncipe.

Seu casamento falso era a prova disso, não existia amor nas linhas escritas do contrato, os únicos requisitos eram o cumprimento de um período de 8 meses em matrimônio e a divisão total de bens, nenhum carinho, nenhum abraço, nenhum nada. Vazio, como a taça de vidro repousada sobre a mesa, límpido como o prato sem alimento algum, agonizante como a espera por Jeon Baekhyun.

O ômega contabiliza os minutos, batucando com as pontas dos dedos por cima da toalha da mesa e direcionando um olhar ligeiro até o relógio de ouro branco em seu pulso magro. 14:15. Eles mudaram os planos, Baek estava atrasado, o local escolhido anteriormente foi descartado com a fome absoluta do ômega lúpus, ele avisou que buscaria o filho na creche e chegaria o mais rápido possível ao encontro. O celular apitava de cinco em cinco minutos com mensagens do garoto, Jimin achava engraçado, ele era fofo com tantos emojis e pedidos de desculpa, parecia nervoso, ansioso, e o mais velho fazia de tudo para acalmar os nervos dele, pouco funcionava, Baek estava agitado além do limite para encontrar-se com o noivo do irmão.

Jimin estava em um de seus restaurantes preferidos, bem localizado e próximo do shopping, com uma decoração agradável e belíssima, cardápio excelente e um acervo de lembranças e bons momentos. A mesa escolhida ficava próxima das janelas enormes e com vista para o céu ensolarado, fazia sombra e o ar-condicionado amenizava o calor da cidade. Ele decidiu não pedir nada, estava saciado com o café da manhã bem reforçado que a mãe alfa preparou e não seria mal-educado em não esperar por Baekhyun, principalmente quando ele soava tão animado e nervoso através das mensagens trocadas.

Amor carmim | JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora