Prólogo.

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BÉLGICA, BRUXELAS.

Há uma linha tênue entre o tempo; sendo boa e ruim ao mesmo tempo. Quanto mais tempo passa; com mais saudade você fica, ao compasso que pouco a pouco, você vai se esquecendo dos momentos, até tudo se tornar memórias.

Embora sinta claramente, já não consigo me lembrar com tanto límpido o motivo de estar aqui, o que ocasionalmente me faz pensar que meu objetivo foi atingido com sucesso; estou inebriado o suficiente para me importar e entorpecido o suficiente para lembrar, ainda que as noites duram menos do que eu gostaria, e o dia se postergue mais do que deveria.

Sinto a música da balada cada vez mais distante em meus ouvidos, e ao olhar para o palco, noto que o DJ já parou de tocar, também, sendo quatro horas da manhã, era de se imaginar. Me arrasto para fora, cambaleando, adentrando o carro com o motorista que esperava no estacionamento. Desde que fui preso mês passado por dirigir bêbado, meu pai reteve minha carteira e obrigou-me a andar com um motorista para qualquer que eu vá, mesmo que eu esteja em uma cidade a cada semana, aproveitando o que a vida me proporciona de melhor; ficar bêbado em vários países do mundo, experimentando toda merda que conseguir, sem dar satisfação a ninguém por onde ando, e com quem.

Joguei-me sobre o banco, zonzo, bêbado, e com os pensamentos completamente distorcidos. Acho que cochilei um pouco, pois assim que abri os meus olhos novamente, lá estava eu, em frente ao hotel que estou hospedado. Saí do carro, desejando bom-dia ao meu motorista que não entende Inglês, e indo contra o hall, adentrei o elevador e subi até o meu andar, em êxtase.

Abri a porta com dificuldade, enganchando a chave na fechadura. Cambaleio até o quarto, jogando minhas coisas sobre os móveis, a após isso vou até o banheiro, indo retirar toda a sujeira da noite. A água está quente, e por causa disso, não me acorda. Vestindo-me entre tropeços, caminhei sobre minha cama. Deitei sobre a ela e adormeci.

Acordei quase a noite, às 18:30 da tarde, o celular quase sem bateria zumbindo em meus ouvidos. Alcancei-o sobre o criado-mudo, observando o nome de James na tela. Fitei-a por um segundo antes de rejeitar a chamada e voltar a dormir, porém o celular voltou a tocar, e a tocar, até por fim eu desligar o celular e continuar a ignorá-lo. Não vejo motivo algum para ele estar me ligando em plena segunda-feira nas férias de verão, afinal, nem no mesmo país estamos.

Desde que Easton Park acabou, James decidiu finalmente aonde faria faculdade, e para a surpresa de todos — ou nem tanto —, ele vai para Harvard em Boston, deixando-nos para trás, não que ele esteja errado, na realidade, eu deveria fazer a mesma coisa, mas não consigo simplesmente desgrudar da minha vida tão fácil assim. E assim como James, Jackson resolveu não ficar mais na cidade também como era o plano inicial, após a morte do Jason ele adentrou num desgosto visível do que acarretou em o mesmo mudar seus planos e ir morar com a Bethany no Bronx, em Nova York. O que me faz lembrar que o bebê da Bethany nasceu na semana retrasada, Jason Noah Bieber. Isso me fez rir, ainda posso lembrar do Jackson vindo até nós e perguntando se nos importávamos se ele colocasse o nome do Jason no filho que não é dele, e claramente, mesmo que meu voto tenha sido minoria, eu não gostei.

O que essa garota acha que tem a ver conosco para usar o nome do meu irmão gêmeo em homenagem ao seu filho? A Hadley não era amiga dela? Então porque ela não colocou esse nome nessa criança? Honestamente não sei o que se passa entre os dois, mas só quero distância.

Não vejo Jackson desde então e não cedi ao seu pedido para ver o recém-nascido, e muito menos topei me encontrar com os meus irmãos em qualquer merda que estejam fazendo. Desde que as férias de verão começaram, cada um partiu para um lugar do mundo, aonde? Não me importo, muito menos o que fazem ali. O luto esfriou, e conviver na minha presença para eles tornou-se uma tarefa difícil, embora eles não digam. Sei que lembro ele, sei o que pensam sobre isso, e eu só... Não quero mais lidar.

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