euforia

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A agitação no local era nítida, cada um carregava consigo uma pequena pá. Era impossível saber o local exato onde o diário havia sido enterrado já que nem o dono do próprio lembrava.
Mais de duas horas passadas e nenhum sinal. Os sete se sentaram debaixo de uma árvore para recuperar o fôlego.
- Nossa, você tem certeza que enterrou esse diário aqui? - Ryujin questionou Yeonjun.
- Sim, absolutamente. Era o lugar que eu mais amava no mundo e onde fiz minhas memórias mais importantes, tem que estar aqui em algum lugar...
- Yeonjun, esse terreno tem muitos hectares, mesmo se quiséssemos ia demorar uma eternidade até acharmos o seu diário...
Todos concordaram e pararam um pouco pra pensar, iria mesmo levar mais de 1 semana até que eles cavassem ao menos a metade do local. Sabiam que desistir também não era uma opção e seria estupidez contratar uma equipe de escavadores para procurar um caderno. Um caderno que continha informações valiosas.
- Espera! Não procuramos ao redor dessa árvore! - Yeonjun exclamou - Talvez possa estar aqui.
Assim que ele se levantou rapidamente os outros fizeram o mesmo e começaram a escavar o pouco de terra que cercava as proximidades dali.
- Meu amor, eu acho que seria clichê demais um diário estar enterrado justamente debaixo de uma árvore centenária... - Soobin respondeu puxando seu cabelo grudado na testa com a ajuda do suor para trás.
- Achei! Acho que achei! Tem uma caixa aqui! - Hueningkai gritou em excitamento
- Ok, retiro o que disse. Lembrei que não posso julgar nada como clichê porquê toda essa situação já ultrapassou os limites da clicheria.
- Yeonjun, tem um cadeado aqui. Óbvio... Sabe aonde está a chave?
- Não...? Deve ter se perdido com o tempo, onde uma criança guardaria uma chave?
- Não dá pra simplesmente quebrar o cadeado?
- Como não pensei nisso antes, Taehyun! Você é um gênio! Caso não tenha percebido ele colocou um cadeado muito bom aqui...
- Hueningkai, vamos levar isso até a minha casa. Assim podemos procurar a chave pelo meu quarto. Talvez meus pais possam nos ajudar. Vocês duas vão? - Yeonjun apontou para Ryujin e Yeji
- Ah...eu...Eu nem te conheço direito, seria estranho ir para a casa de um desconhecido...
- Mas eu estarei lá! Você pode me fazer companhia, Ryujin! Yeji também estará, percebo que vocês já fizeram amizade... - Yuna deixou um sorriso confiante escapar seus lábios quase como se tivesse montado o cenário perfeito para um romance surgir.
- Sendo assim, eu vou.
- Relaxa, Ryujin. Você acabou de ganhar seis novos amigos - Beomgyu sorriu - Vamos?
Logo entraram dentro do carro e seguiram para a casa de Yeonjun. O ambiente possuía um cheiro inigualável de kimbap, o garoto sabia que não havia ninguém que fizesse um kimbap tão bom quanto seus pais. Aquela era a comida que ele mais gostava e que trazia tantas memórias boas da sua infância.
- Filho! Trouxe mais gente para casa! - Jungkook limpou suas mãos no avental para cumprimentar todos que estavam ali. - Vão todos ficar para o almoço, certo?
Os mais novos se entreolharam como se estivessem causando incômodo. Seriam sete pessoas a mais para se alimentar e sem nem ao menos avisar antes.
- Percebo que estão calados. Vou aceitar isso como um sim, não se preocupem, há comida suficiente para todo mundo! - Jimin exclamou da cozinha.
- Ouviram crianças, estão todos convidados para comer! - Jungkook sorriu arrumando os fios de cabelo soltos que caíam no rosto do filho - Está todo sujo de terra, onde estava?
- Pai, você lembra daquele meu diário que tinha quando criança?
- Uhum
- Sabe por algum acaso onde pode estar a chave do cadeado da caixa que foi enterrada com ele?
- Acho que está nas suas gavetas. Lembro de ter visto essa chave há uns meses atrás, talvez ainda esteja no mesmo lugar.
- Obrigado! Vamos subir pessoal!
Antes que Yeonjun e o restante pudessem continuar subindo as escadas. Jungkook deixou um suspiro decepcionado sair de sua boca.
- Volte aqui mocinho, onde estão seus modos? Não vai dar um abraço em seu pai?
Yeonjun sentia seu rosto corar enquanto os outros respiravam fundo para não caírem na gargalhada. Aos poucos o mais velho descia a escada com suas bochechas e orelhas vermelhas e quentes em direção à Jungkook.
- Pai...
- Não seja bobo, está com vergonha? Pessoal, ele está com vergonha!
- Pai!
- Estou brincando, vem aqui - Jungkook se deixou ser abraçado calorosamente por Yeonjun. Ainda que ele estivesse crescido, não queria que esse costume se perdesse de forma alguma. Era bonito.
Yeonjun também caminhou até o balcão da cozinha e abraçou Jimin.
- Lembrou que tinha outro pai, foi? - o loiro fingiu chateação
- Pai! Eu não esqueço de você, ok? Eu te amo.
- Também te amo, agora vai que seus amigos estão te esperando!
Yeonjun correu novamente até a escada para acompanhar os outros, exclamando um "eu te amo também pai!" para Jungkook que estava parado de braços cruzados.
Assim que entraram no quarto de Yeonjun, começaram a vasculhar gaveta por gaveta. Roupas voavam pelo cômodo com a promessa de que depois colocariam tudo no lugar.
- Você tem uma cueca da Gucci...? - Beomgyu levantou o objeto com uma cara de confusão já que era bastante caro.
- Hm, é...Foi um presente de aniversário de uma colega antiga...
- Eu também tenho uma! - Beomgyu respondeu.
- Uma colega te deu uma cueca da Gucci? Que colega daria uma cueca da Gucci se ela não quisesse te ver usando ela? - Soobin parou no meio do quarto com uma cara fechada fitando Yeonjun que olhava para os quatro cantos do lugar sendo observado pelo restante.
- Eu dei a cueca. E não, eu não queria ver ele usando, tá? Achei bonita e chique e dei, bobão. - Yeji respondeu
- São 300 dólares numa cueca, Yeji!
- Soobin, se seu ciúmes ficar mais evidente é capaz de que fique escrito na sua testa...
- Vamos voltar à procura do objeto principal, a chave!!! E não a cueca chique do Yeonjun - Taehyun continuou abrindo as gavetas, até que os outros o seguiram fazendo o mesmo.
- Eu só uso ela com você, viu? - o mais velho sussurrou no ouvido do namorado que imediatamente corou o respondendo com um tapinha no ombro.
- Achei! E nossa, tá bem enferrujada... Apressem ou é capaz de eu pegar tétano com esse treco. - Yuna segurava uma pequena chave de cor amarronzada.
A garota posicionou-a no cadeado, que logo se encaixou. A caixa tinha um odor de coisa velha e o diário tinha um aspecto secular. Sua capa estava desgastada e suas folhas amareladas.
- Está tudo aqui, todas as minhas anotações, quase não tão perceptíveis como antes...
- Yeonjun, deixe-me ver uma coisa, por favor - Yeji pegou o caderno e seguiu até a janela do quarto, colocou suas páginas em direção à luz solar e notou que entre as anotações de 2006, podia-se ler letras em itálico. Eram as anotações de 1545. Todos os poemas que Rei Yeonjun escreveu ao Rei Soobin desde os mais deprimentes causados pela saudade motivadas por uma inimizade inexistente até os mais apaixonados. - Está tudo aqui, todas as coisas que você escreveu à Soobin, todos os seus pensamentos, estão aqui... - Yeji tinha uma voz trêmula e olhos marejados, ler aquelas coisas ainda que fragmentadas traziam memórias.
- Podemos ver? - Yeonjun disse se aproximando e pegando o caderno. Cada vez que ele folheava e lia alguma coisa sentia seu coração se contorcer em seu corpo, sua mente lhe dava a oportunidade de ver algumas lembranças.
"Em minhas mais vastas memórias, você está sempre presente. O tom negro de seus cabelos e o seu doce cheiro percorrem minha cabeça como se estivessem em mim. Nos meus momentos mais solitários os seus braços eram onde eu queria estar. Ainda que seus lábios tão sábios digam as palavras mais bonitas e inteligentes, quando estás comigo eles podem dizer até as mais profanas. Meu amor, como sinto sua falta. Como desejaria estar sempre ao seu lado. Quem sabe um dia."
- Uau... Você conseguiu transformar sexo em poesia, as pessoas daquela época realmente eram românticas - Beomgyu retrucou arrancando uma risada de todos ali sentados
- É, devo dizer que Soobin tinha muita sorte. - Yeonjun limpou as lágrimas que caíam em suas bochechas e beijou a mão do namorado que estava apoiada em seu ombro.
O barulho da porta se abrindo quebrou um pouco do clima instalado ali. Era Jimin avisando que o almoço já estava pronto. Concordaram em terminar de ler assim que se alimentassem, estavam famintos. Desceram as escadas e sentaram-se como se não vissem um prato de comida há anos.
- Isso aqui tá tão bom! - Hueningkai elogiou aos dois adultos que estavam sentados ali. E todos sentados fizeram um gesto positivo com a cabeça pois estavam ocupados demais para falar.
Ryujin se assustou com o pequeno gato que passeava entre suas pernas, a fazendo dar um pequeno pulo. Segurou-se na mão de Yeji que mantinha seus olhos arregalados, a garota sabia que queria contato com a outra mas não esperava que quando ele acontecesse da forma mais inusitada possível isso a deixasse tão nervosa.
- Tem medo de gatos?
- Não, não... apenas me assustei com a presença dele - a garota gaguejou
- Sua mão está gelada, não se preocupe, ele já saiu - Yeji respondeu acariciando a mão de Ryujin que tentava controlar sua respiração. Era quase como se naquele momento ela pudesse sentir um calafrio percorrer seu corpo, quase como se sua memória reconhecesse aquele toque tão estranho mas ainda sim tão familiar.
- Obrigada...
- Perdoem o Calico, ele estava no quintal e provavelmente adentrou a cozinha sem que percebêssemos - disse Jimin
- Tudo bem, eu gosto de gatos mas como não sabia que aqui tinha um, acabei me assustando. Agora estou bem, Yeji me ajudou. - Ryujin respondeu sorrindo
Os cinco garotos e as outras garotas já cientes da situação mantinham-se focados no que a outra acabara de dizer. Parecia que aos poucos as coisas estavam se encaixando e dando certo, ainda que houvesse um longo caminho pela frente.
O almoço terminou com todos fazendo uma filinha para ajudar Jimin e Jungkook com a louça. Uns se dividiram entre guardar a comida e limpar a mesa e outros estavam na pia. O que normalmente demoraria mais de meia hora, foi feito em 10 min. Jimin e Jungkook avisaram que iriam para o escritório montar o cronograma de aulas da semana, dando mais liberdade para o restante que estava na sala.
- Querem ver um filme? - Yeonjun sugeriu.
- Claro! - responderam em coro.
Decidiram que veriam Scooby-Doo, os dois clássicos dos anos 2000. Yeonjun, Soobin, Beomgyu, Taehyun, HueningKai e Yuna colocaram almofadas no chão e se deitaram, deixando o sofá totalmente livre para Yeji e Ryujin. O plano perfeito para uma aproximação e a garota sabia disso. O sofá possuía com uma parte mais extensa onde poderia-se esticar as pernas facilmente. Ryunjin estava sentada num extremo e Yeji ali, tentando a todo custo manter a calma.
- Sei que o sofá é gigante mas posso me sentar perto de você? Não quero ficar com câimbra... - a garota de cabelos azuis perguntou sem jeito.
- Hã? Ah, claro! Claro, pode sim!
Yeji podia ouvir apesar do barulho alto da TV pequenas risadas como se ela e a garota ao seu lado fossem crianças inexperientes do fundamental. Ryujin agora estava do seu lado e não havia mais nenhuma distância física entre elas.
- Sinto como se te conhecesse há tanto tempo e nem sei a razão. É maluquice minha, claro...
- Não, eu também sinto isso. Fico feliz em saber que é recíproco - Yeji respondeu assustada.
- Obrigada por me acalmar hoje mais cedo. Foi muito gentil da sua parte - a garota disse depositando um beijo rápido na bochecha de Yeji que imediatamente corou.
- Sempre que precisar!
Ryujin sorriu e encostou sua cabeça no ombro da outra. Quase como se não pudessem perceber suas mãos estavam cada vez mais e mais perto, até que entrelaçaram seus dedos mindinhos um no outro. Yeji lembrava daquele gesto, costumavam fazer isso sempre que estavam juntas. Era uma forma de simbolizar que ainda que o tempo e as circunstâncias a separassem, seriam eternamente prometidas uma à outra.
Yeji sentia a necessidade agora mais do que nunca de fazer algo que não havia feito há quase 500 anos. Queria beijá-la. Sabia que poderia ser uma burrice completa se não soubesse que a outra também queria o mesmo, mas quanto mais evitava o pensamento, mais ele ocupava sua cabeça. Todos os outros estavam concentrados no filme, o volume da TV tornava impossível que algo fosse ouvido e as cortinas fechadas da sala impediam que qualquer outra coisa pudesse ser vista.
- Ryujin...
- Hm?
- Eu estou prestes a fazer uma burrice gigante que pode comprometer os nossos próximos segundos, pode jurar que não vai ficar brava?
- O que vai fazer? - Ryujin mantinha seus olhos arregalados, a mesma coisa que fazia sempre que ouvia Yeji, era tudo tão familiar e desconhecido.
Yeji juntou o pouco de coragem que dominava seu corpo, agarrou as bochechas de Ryujin em suas mãos e a beijou. Sentiu tanta falta daquilo. Um choque de felicidade percorreu seu corpo por inteiro e mal sabia ela que a outra garota também havia sentido o mesmo. Quando quebrou o contato, ainda sem se desprender totalmente de Ryujin, percebeu que o silêncio pairava ali.
- Ainda bem que fez isso, eu gostei... - Ryujin sussurrou sendo respondida com uma risada tímida da mais velha.
Era o começo de algo.

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