Take me to Church

I wanna be yours

Aquela semana estava sendo bem tranquila para Hamish, que havia finalizado as avaliações da turma de Epistemologia I e havia concluído com sucesso seus estudos na Ordem, na qual ele estava adorando aprender mais sobre magia. A única coisa que o incomodava era o plano para invadir o cofre do Templo, uma vez que nem ele, nem o restante dos cavaleiros tinha noção de como reaver o relicário que a Ordem havia confiscado.

Naquela tarde de sexta-feira, Hamish ansiava para a noite chegar e ele estar logo em downtown, a parte de Norwich que havia vários clubes. Naquele dia em específico ele queria visitar um clube mais vazio, famoso por tocar nas noites de sexta rock alternativo e brit-pop das antigas. Normalmente, Hamish chamaria Randall, mas ele sabia que o amigo iria sair com uma garota que ele havia ficado nos dias anteriores. Jack e Lillith, por ainda serem menores de 21 anos não poderia acompanha-lo, por isso, ele foi sozinho até o bar.

O bar contava com design dos anos de 1950, com mesas espalhadas em toda sua extensão e nas paredes havia fotos de ídolos do rock ‘n’ roll. Na parede mais ao fundo, havia um pequeno palco que só seria utilizado na metade da madrugada. A iluminação era baixa, mas apresentava luzes mais fortes em poucos pontos.

Hamish sentou-se num canto mais escuro e tranquilo do bar e degustava tranquilamente uma cerveja sentado em sua mesa. Após alguns minutos, a banda começou a tocar uma sequência musical que ele adorava, dessa forma, ele não demorou muito para se levantar e apreciar em pé a música.

Com um sorriso no rosto, Hamish continuou curtindo o show e um pouco inebriado pelo álcool, pela música e iluminação, ele arriscou alguns passos tímidos a fim de acompanhar a música.

***

Vera não acreditava no que estava vendo à sua frente. Hamish Duke, segurando um copo de Bourbon enquanto arriscava uns passos com o som da música. Nem nos seus pensamentos mais loucos, Vera poderia imaginar que iria encontra-lo ali naquele bar ermo e escondido de Downtown, dançando uma música um pouco antiga de brit pop que ela tanto gostava.
Enquanto Vera se decidia se deveria revelar sua presença para ele, ela percebeu que Hamish havia sumido. Pouco tempo depois ela sentiu seu longo cabelo ser afastado, deixando sua orelha exposta e uma voz baixa conhecida dizendo:

— Boa noite, senhorita Stone. Você vem sempre aqui?

— Hamish Duke, nem vou me dar ao trabalho de responder essa cantada batida.
— Ela declarou, fingindo ignora-lo.

— Que tal um Bourbon? O tom vermelho combina com seu colar. Interessante ele... Significa alguma coisa?

Vera olhou admirada para Hamish e levou as mãos até o colar, escondendo-o. Ela não acreditava que havia se esquecido de retirá-lo e estava ali com aquele amuleto.

— Nada que seja do interesse de um acólito.
– Declarou dando um pequeno gole no Bourbon. – Muito bom esse drink.

— Ficaria melhor se eu preparasse, mas o bartender não deixou. É um winter’s Eve, sem o meu quê a mais.

Vera sorveu o líquido e olhou para a saída. Antes que ela pudesse sair do local, a banda começou a tocar uma música que era significativa para Hamish.

Numa noite qualquer no covil dos lobos, Randall brincou que Hamish estava parecendo um cachorrinho da Vera, enquanto que Lillith havia entrado na brincadeira mostrando uma música, a mesma que estava tocando no momento. Ao relembrar daquilo, Hamish deixou um sorriso escapar, colocou os copos vazios na mesa ao lado e puxou a reitora para um abraço, para em seguida iniciar uns passos lentos.

— Hamish, o que você está fazendo? — Vera exclamou surpresa com a audácia do jovem.
— O que parece que eu estou fazendo? Relaxa, Vera... Não tem ninguém da reitoria e nem do templo aqui. E eu não vou fazer nada que você não queira fazer...

Vera deixou-se ser abraçada e acompanhou os passos de Hamish. Fazia anos desde que ela havia dançado assim tão próximo de alguém, ainda que a experiência não fosse nova para ela, tudo aquilo era diferente: As mãos firmes e cálidas tocando sua cintura, os olhares nada discretos... De repente, Hamish curvou-se um pouco e cantou baixinho em seu ouvido, um trecho da música que estavam dançando:

“Você que decide, querida, eu só quero ser seu.
Segredos que tenho mantido em meu coração são mais difíceis de esconder do que pensei
Talvez eu só queira ser seu, Eu quero ser seu, eu quero ser seu”.

Vera escutou com um sorriso malicioso nos lábios e por mais que ela tivesse outros planos para ele, respirou fundo e de ponta dos pés, ela alcançou o ouvido de Hamish e sussurrou:

— Então seja meu.

— Eu já sou. — Ele declarou, puxando-a para mais perto e envolvendo seus lábios num beijo lento, que fora ganhando velocidade conforme o tempo passava e a paixão falava mais alto. Se entregariam àquele desejo por mais tempo se não fosse pelas luzes que se acenderam quando a banda se despediu.

— Ainda está cedo, Vera. A gente não precisa acabar a noite aqui.

Vera sorriu ante o atrevimento de Hamish e definitivamente ela perguntaria o que ele tinha em mente, se não fosse pelas chamadas incessantes no seu celular. Ao pegar o aparelho e ver que Kepler a estava ligando às 2 da manhã, Vera olhou para Hamish e disse:

— Bem, a ordem precisa de mim. Até mais. – Ela declarou se afastando do rapaz que a olhava com uma ponta de decepção.
Se não fosse pela quantidade massiva de álcool que ele tivera ingerido naquela noite, Hamish estaria nervoso ao perceber que acabara de ficar com Vera ali naquele bar. Mas tudo o que ele pensava naquele momento era como ele concordava com Randall quando este reclamava das regras estúpidas da Ordem, afinal onde já se viu ligar para pessoas às 2 horas da manhã do sábado?

Enquanto caminhava para seu apartamento no centro, o celular de Hamish recebeu diversas mensagens:

“2:04 Jack - Galera, encontrei uma solução pro nosso problema com o cofre da Ordem. Me encontrem amanhã de 10:30 no Blade & Chalice que eu explico tudo!

2:05 Randall - Opa, conta agora!

2:05 Jack - Vai dormir, Randall. Eu pensava que você estava com aquela garota.

2:05 Randall - Eu estava, mas quero recuperar logo nossas coisas.

2:06 Lillith - Vão dormir, seus idiotas!

2:06 Randall - Cadê o Hamish? Hamish, Hamish, Hamish!

2:07 Jack - Hamish! Hamish! Hamish!

2:08 Hamish - A madrugada foi feita para a gente dizer e fazer coisas que não tem coragem pra fazer na luz do dia...

2:08 Randall - Sem filosofia agora, Hamish!

2:09 Lillith – HM, Hamish... Ok, eu até brincaria, mas é hora de dormir. Até amanhã, idiotas!”