As paredes que o cercavam eram brancas, à sua frente um monte de letras pretas pintavam o quadro e um professor se movimentava de um lado para o outro enquanto a sua voz elevada ecoava pela sala, mas nenhuma daquelas palavras chegavam a Dabi, todo aquele falatório soava como um ruído distante e retorcido.
A verdade, é que ele não estava conseguindo viver a realidade do mundo fora de sua mente desde a festa ocorrida no final de semana. Para seu azar as horas passaram rapidamente e ele se viu obrigado a voltar a rotina, contudo justo a primeira aula do dia era em comum com o maldito loiro, o que tornou qualquer tentativa de concentração extremamente falha. Olhava para ele de relance, sentado um pouco mais a frente, o cabelo perfeitamente arrumado e a pele bronzeada pareciam cintilar levemente naquela luz clara do ambiente. Ele irritantemente parecia brilhar sob qualquer que fosse a luz.
O Todoroki não conseguiu olhar por mais tempo, sentia a raiva crescente subindo dentro de si, pôs seus braços em cima da mesa e apoiou sua cabeça sob eles, respirou fundo e lentamente, tentando se acalmar. Mas não funcionou, o oposto disso, sentiu um intenso ardor subir do seu estômago ao seus pulmões e atravessar sua garganta. Cravou as curtas unhas na pele de suas mãos, apertando com força até sentir que pequenas aberturas estavam sendo feitas em suas palmas, esperava que aquela dor amenizasse aquele turbilhão de sentimentos dentro dele. Mas não amenizava, não tinha amenizado nas outras vezes, nem isso e nem as brigas, as bebidas ou drogas, nada fazia com que doesse menos dentro de si.
Alguém tocou-lhe levemente no braço, o que o assustou. Levantou a cabeça, as cadeiras à sua frente e ao seu redor já estavam vazias, pelo visto a aula já tinha acabado e ele sequer notou, não sabia quanto tempo havia passado. Continuou a encarar o vazio, não querendo que seus olhos encontrassem a figura que lhe despertou de seu torpor.
— Então... Só temos mais uma semana para finalizar o trabalho, você tem algum dia livre? Podemos marc...
— Quero que você e esse trabalho se fodam, Hawks. — Dabi interrompeu, raivoso, o nome do outro cuspido de sua boca com escárnio.
— Sério que você vai vir com esse tipo de atitude? Não tenho tempo para sua infantilidade, eu só quero finalizar essa merda. — respondeu, irritado.
O moreno continuou mudo, o olhar fixado na parede alva mais a frente, se recusando a proferir alguma outra palavra, pois para ele aquela conversa já estava finalizada. Porém, aquilo iria se estender mais que o desejado, Dabi percebeu ter cometido um deslize quando viu o outro tocando levemente a palma de suas mãos, que estavam viradas para cima, com pequenas marcas de sangue à mostra.
— O que aconteceu?
O Todoroki permaneceu quieto, assistia o loiro puxar de sua mochila um lenço de papel e direcioná-lo às suas mãos, o contato das peles fez um arrepio percorrer por todo corpo do moreno, o outro limpou as manchas vermelhas ao redor dos curtos cortes com delicadeza.
— Isso não vai fazer com que doa menos dentro de você, é só um paliativo, alivia no primeiro momento e depois dói o dobro. Eu sei que você sabe disso, então não faça.
Hawks pressionou a borda de suas palmas com firmeza e, quando levantou a cabeça para fitá-lo, tinha os olhos marejados e cheios de um brilho melancólico. Nesse momento, Dabi percebeu que aquelas palavras estavam carregadas não só de preocupação, mas também de uma compreensão genuína. E então, assim como anos atrás, ele finalmente se permitiu externar tudo que sentia. No passado, no balanço, Dabi havia liberado suas emoções com um estranho por puro desespero. E neste momento, Hawks não era mais um estranho e o entendia.
Abriram os braços e se jogaram de encontro um ao outro, em um abraço apertado, ambos tinham lágrimas escorrendo copiosamente por seus rostos. Não havia necessidade de dizer nenhuma palavra, aquele abraço de dor e compreensão transmitia tudo que estavam sentindo. Todo o pesar e sofrimento, toda a luta e conflito, tudo aquilo fluía entre os dois.
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Deep thoughts 《Dabihawks》
FanfictionDabi e Hawks trilhavam diferentes caminhos, mas irão descobrir que desejam o mesmo objetivo: alguém que não tivesse medo da tempestade que carregavam dentro de si. Pois eles não eram o piloto. Não eram o passageiro, não eram o pedestre. Eles eram o...