Conselhos de Patrick

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Taís on

Já tinham passado três dias que eu me recusava em ir para casa e não saída de perto de Sara que ainda estava em coma deitada numa cama de hospital, os meus pais também queriam ficar, mas como só permitem uma pessoa a passar a noite no quarto eles tiveram que ficar em casa. A minha mãe finalmente convenceu-me a ficar em ir para casa, sair um pouco, espairecer a cabeça, ela queria ir passar a noite ao hospital desta vez...e aqui estou eu num bar aqui da cidade, com a luz azul néon a colidir contra o meu corpo enquanto eu olho a minha garrafa quase vazia de somersby. Eu estava perdida nos meus pensamentos repetitivos que já me começavam a dar ansiedade, até que o destino parece que decidiu fazer com que alguém eventualmente cruzasse o meu caminho, pensei nisto quando reparei num homem com uma grande barriga de cerveja, calçava umas havaianas pretas, usava uma camisa rosa estampada com palmeiras brancas, calções de ganga que permitiam ver as suas pernas bem peludas, cabelo encaracolado ruivo comprido com uns óculos de sol pousados em cima na cabeça, barba presa por duas tranças perfeitinhas e uns olhos claros que não dava para ver bem a cor por causa das luzes néon que iluminavam o local. Ajeitou-se no banco do balcão ao meu lado e olhou para mim de relance e por fim senti-o olhar para mim de novo agora com mais atenção quase como se me tivesse reconhecido enquanto voltava a olhar o barman e lhe pedia uma garrafa de cerveja.

- Não costumo ver gente da tua laia por estas bandas... pensava que preferiam algo mais chic digamos assim – ele falava enquanto pegava a cerveja e levava a boca tranquilamente

Não lhe respondi, eu estava com demasiados pensamentos na cabeça para me estar a preocupar com uma discussão com um homem desconhecido, preferi ficar calada, mas na verdade só me apetecia explodir e deitar tudo para fora. Olhei de lado para ele quando ouvi a garrafa ser pousada no balcão ainda quase cheia.

- Amor não recíproco, presumo? Ou os teus pais não te deram algo que não querias... - ele deixou sair uma pequena risada enquanto pronunciava a última parte

- Nada a haver... - Falei de repente por impulso enquanto revirava os olhos

- Oh...então ela afinal fala... - Soltei um suspiro aborrecido só pelo comentário que ele tinha acabado de dizer – Ei, calma pirralha...estou só a meter-me contigo – Ele suspirou e levou novamente a garrafa à boca – Queres desabafar com um velho desconhecido? Pode ser até que te dê um bom conselho...ou talvez até te faça conhecer uma nova maneira de ver as coisas? – Ele tossiu um pouco enquanto clareava a voz – Oh...e não te preocupes, não sai daqui o assunto – ele falou enquanto voltava a levar a garrafa de cerveja aos lábios

Fiquei ainda um tempo calada até que inspirei fundo e decidi me abrir, acho que só o decidi fazer porque também já estava um pouco sob o efeito do álcool.

- Eu não sei se lhe vou conseguir explicar bem, mas...sabe quando o senhor começa a sentir atração por uma pessoa que não deveria sentir? – eu falava enquanto olhava o meu copo de bebida

- Os teus pais não te deixam namorar um rapaz que não é uma boa influência? Ou simplesmente não é tão famoso como vocês?

- Não muito pelo contrário, os meus pais não têm nada contra eu namorar alguém independente de ser tão famoso ou rico como eu ou não...é bem mais complicado do que parece...

- Ou talvez até sejas tu que estás a complicar a situação? Já pensaste nisso?

- É talvez... - Suspirei e levei a garrafa à boca para humedecer um pouco a garganta – Já lhe aconteceu se apaixonar por alguém do mesmo sexo? – ele balançou a cabeça em sinal negativo enquanto levava a garrafa de cerveja à boca - E por coincidência essa pessoa é da sua família? Tipo seu meio irmão? – Ele pousou a garrafa no balcão enquanto engolia o resto da cerveja que tinha ficado na boca enquanto continuava a balançar a cabeça negativamente

- Então basicamente apaixonaste-te pela tua meia irmã? – Ele coçou um pouco a zona do queixo como se estivesse a tentar se lembrar de algo – Sheila? Não é esse o nome dela?

- Não, não...Sheila é a nossa mãe, o nome dela é Sara

- Ah! Sara! Desculpa-me eu sempre confundo as cabeças todas... - Ele falava enquanto dava uma pequena risada e passava a mão grande pelas duas tranças na barba – Mas ainda não entendi...qual é o problema de gostares dela? Ela não gosta de ti?

- Muito pelo contrário...ela até me perguntou o que eu queria...se era para levar isto em frente ou não...mas eu estou tão confusa...isto tudo é tão novo para mim, além de que vamos levar tantos julgamentos das pessoas, por sermos um casal homossexual, por sermos irmãs...ser famoso realmente não é fácil, tu tens que lidar com críticas todos os dias...manter um sorriso como se nada fosse, é claro que eu sei que vão haver pessoas que nos vão apoiar, mas mesmo assim...como toda a família vai lidar? Sendo sincera estou bem mais preocupada com a opinião da família...será que vão aceitar? E se, e se, e se? Isto anda a dar cabo da minha cabeça, especialmente porque quase a perdi num acidente á uns dias...ela está no hospital, está adormecida, mas será que vai mesmo ficar bem? Eu sei lá...é muita coisa a martelar na minha cabeça...muita pressão de todos, muita... - fui interrompida pelo senhor de repente

- Muita pressão de ti mesma

- Sim... - suspirei enquanto apoiava a minha testa na minha mão

- Sabes – ele falava enquanto olhava a garrafa de vidro – Passei muito tempo na minha vida a importar-me com o que os outros iam pensar de mim, especialmente a minha família também, porque o meu sonho era ter uma carrinha de cachorros quentes e vendê-los por aí a viajar pelo mundo – Ele fez uma pausa durante uns segundos pensativo – Até que um dia a minha avó antes de morrer disse-me: Mais vale te arrependeres e teres arriscado fazeres o que querias ou o que achas que está certo do que te arrependeres de nunca teres tentado nada – Ele deu um novo gole na sua cerveja – E foi aí.. – Falou enquanto pousava a garrafa no balcão – Que arrisquei ser eu mesmo e lutar pelo que eu realmente queria antes que fosse tarde demais, ou seja, lutar pela carrinha de cachorros, sofri alguns comentários alheios e também um ou outro da minha família porque nós todos tínhamos uma boa qualidade de vida, mas mesmo assim não me arrependo do caminho que escolhi, ao menos eu sou feliz assim, foi uma experiência muito boa independentemente de ter tido altos e baixos – Ele sorriu e depois voltou o olhar para mim – E sendo sincero o amor é um sentimento demasiado bonito para ser parado ou descartado assim por "e se, e se e se"...entendes? Quem não arrisca não petisca...e pode chegar uma altura que tu já não consigas nem petiscar mais. Porque como a minha avó disse: Mais vale te arrependeres e teres arriscado fazeres o que querias ou o que achas que está certo...

- Do que te arrependeres de nunca teres tentado nada – Terminei a frase por ele

- Isso mesmo garota – Ele deu-me um pequeno murro no braço seguido de um sorriso – Ajudou? – Ele perguntou e eu olhei para ele já mais calma e com um sorriso no rosto

- Ajudou muito – Sorri já a procurar o dinheiro para pagar a bebida, no bolso – Muito obrigada... - Interrompi-me enquanto colocava o dinheiro no balcão – Qual é o seu nome mesmo?

- Patrick – ele sorriu – E já agora... - procurou algo no seu bolso, de seguida retirou um pequeno cartão do seu bolso e entregou-mo – Caso te esteja a apetecer um cachorro quente, já sabes é só ligar – ele sorriu – Pode ser que nos cruzemos de novo

Peguei o cartão e li o nome da marca.

"P-hot dogs"

- P-hot dogs? – Perguntei

- O P é do meu nome – Ele deu uma pequena risada – Tentei fazer um nome criativo

- Está ótimo – eu soltei um pequeno riso também e guardei o cartão enquanto também lhe dava um dos meus cartões que também tinha sempre no bolso e entreguei-lhe – Qualquer coisa também...já sabe – sorri – espero me cruzar de novo com o senhor – Falei enquanto me levantava do banco assim como ele

- Eu espero o mesmo – Ele sorriu e ambos caminhámos até à saída, fiquei a vê-lo entrar na sua carrinha de cachorros quentes que logo ligou as suas luzes que rodeavam um grande cachorro quente por cima. Ele acenou-me pela janela uma última vez e conduziu para fora dali

Já sentada na minha moto coloquei o capacete e liguei o motor ainda a sorrir.

Realmente...nada é por acaso.

Pensei e comecei a conduzir até casa.

A minha meia irmãOnde histórias criam vida. Descubra agora