Paranoias

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Taís on

Depois de um banho quente, terminei de secar os meus cabelos e fui me vestir. Já tinham passado dois dias que eu não estava no hospital com a Sara, e a minha mãe não me deu notícias até agora...sempre que lhe ligo ela fala que está tudo na mesma. Acho que a única coisa de diferente foi o exame que ela fez ontem.

Apertei o cinto das calças enquanto não parava de pensar em Sara. Depois de me vestir saí do quarto e fui diretamente para a garagem.

- Vou comer fora! – Falei alto o suficiente para Sebastian e Ava me ouvirem

Coloquei o capacete e subi na moto, ligando a mesma e acelerando até ao Starbucks mais perto.

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Já estava à uns dois minutos à espera do meu pedido sentada à frente do balcão, pousei o telemóvel no balcão entediada e cansada de estar a olhar para ele, e sendo sincera nem sei se foi a melhor opção que fiz pois quando olhei pro lado eu vi...eu vi o que não queria ver, ou talvez o que tenho medo de ver de novo. Sentimentos de raiva foram percorrendo meu corpo inteiro.

Cabelos negros...aquela t-shirt preta, aquelas calças rasgadas tão negras como a camisola...aquelas sapatilhas...tudo...era ela, mas seria mesmo ela? Pensei que os meus pais tinham dado um trato neles...estaria a ficar maluca?

Levantei-me do banco já de punhos cerrados e avancei até ela com a pior das minhas caras. O meu olhar expressava puro ódio.

- Como é que és capaz de ainda v... - Interrompi-me a mim mesma depois de lhe ter pegado no ombro e a virado para mim de maneira brusca. O meu olhar de ódio era agora um olhar surpreso e envergonhado

- Desculpe? Está a magoar-me. – Ela falou num tom sério enquanto pegava na minha mão e a retirava do meu ombro

- Quero dizer...desculpe...eu pensava que era outra pessoa...desculpe mesmo... - Senti todos a observarem-nos e logo virei costas à rapariga desconhecida voltando para o balcão onde a senhora segurava a minha sandes e cappuccino em ambas as mãos surpresa

Retirei uma nota de dinheiro qualquer do bolso, nem vi bem a quantia, simplesmente a pousei no balcão e peguei o meu telemóvel e a comida.

- Fique com o troco. – Eu falei já incomodada com os olhares ao meu redor

Com sorte não ouvi nenhum disparo de camaras fotográficas contra mim. Caminhei até à moto enquanto guardava a comida na minha mochila e acelerei dali pra fora.

As imagens de Kelly continuavam a rodear a minha cabeça, o que se estava a passar comigo? Estou a ficar paranoica?

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Cheguei num estacionamento ao pé de um parque verde que era bem grande. Estacionei a moto e entrei nos caminhos de terra do parque. Só ouvia o som do vento a bater nas folhas das árvores e a terra a ser esmagada por baixo dos meus pés.

Resolvi então tirar o meu pequeno almoço da mochila e fui comendo pelo caminho. Eu precisava mesmo de relaxar, estavam muitas coisas a passarem-se na minha cabeça. Cheguei numa área mais isolada do parque e pousei a mochila no chão por cima do relvado que tinha sido cortado à pouco tempo, e deitei-me no chão também com a cabeça por cima da mochila. Fiquei a tentar neutralizar a minha mente para não pensar em mais nada enquanto ouvia o som da brisa a bater nas folhas das árvores e olhava as folhas com tons de amarelo, laranja e vermelho dos ramos do carvalho que se estendiam por cima de mim.

Sara, Sara...o que tu fizeste comigo? Desde que chegaste muita coisa em mim mudou...queria poder estar aqui deitada contigo, de mãos dadas...a falar das nossas teorias, aqueles assuntos que mais ninguém percebia...só nós...tu e eu aqui, deitadas, a sentir os lábios uma da outra num beijo tão intenso quanto a relação de nós duas...

Deixaste-me tão preocupada...ver-te naquele estado, parecias um simples corpo morto, nunca senti tanto ódio na minha vida...como a Kelly pode fazer isto comigo...com nós as duas...eu juro que tentei ignorar este sentimento dentro de mim...mas desisti, parece que quanto mais o ignoro mais ele cresce e mais ele me obriga a não me distanciar de ti até que tudo acalme para ambas. Será que ainda te sentes como eu me sinto? Eu realmente não queria ter-te dado aquela tampa naquele dia...mas isto ainda é tudo muito novo para mim...estou tão confusa...especialmente porque não te tenho aqui ao meu lado...

- O que fizeste comigo?

- Como assim? – Arregalei os olhos ao reconhecer a voz e olhei para o lado ainda deitada no chão coberto de erva, era ela, ela estava ali

- Q-Que? – Falei ainda surpresa

- Eu perguntei: como assim? – Sara perguntava novamente enquanto desviava o olhar das folhas do carvalho por cima de nós, para mim

- Tu...estás mesmo aqui?

- Porque não estaria?

- Porque neste preciso momento deverias estar no hospital... - Falei enquanto deixava cair uma lágrima, mas logo a limpei

- Não chores...eu não gosto de te ver assim... - Ela falava sem desviar o olhar de mim

- Desculpa eu...isto não é nada...já passa...

- Então o que sentes por mim não é nada?

- Como assim?? Como sabes... - Fui interrompida por ela

- Estavas a falar comigo...à pouco tempo, de como isto tudo era novo para ti, de como gostavas de mim e eu te tinha preocupado quando me raptaram...

- Não sabia que estava a falar tão alto assim... - Desviei o olhar

- E não estavas

- Eu... - Suspirei – Esquece...

- Porque me fazes passar por isto Tai? – Olhei para ela e vi o seu rosto agora com uma expressão triste

- Como assim?

- Sempre que pareces estar a querer avançar com uma relação nossa dás-me com os pés...porque insistes em me iludir se no final vais me dizer que não? No outro dia na escola...doeu saber que não querias nada comigo...eu realmente fiquei mal

- Desculpa, eu realmente não queria que ficasses assim...não te queria deixar assim...

- Esta foi a última oportunidade que te dou...eu já te devia ter esquecido muito antes, nem devia ter alimentado os meus sentimentos por ti – Ela falava enquanto se levantava

- Não por favor não vás embora – eu levantava-me para a seguir deixando cair mais umas lágrimas

- Deixa-me em paz Taís! – Ela apressava o passo e eu acelerava também enquanto tentava alcançar o braço dela para a puxar de novo pra mim

- Espera!

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Acordei de repente com o som do telemóvel que vibrava por baixo da minha cabeça na mochila. Enxuguei as lágrimas que escorriam pelo meu rosto e sentei-me no relvado olhando para o suposto local onde estaria Sara. Estive a dormir por muito tempo?

Peguei finalmente na minha mochila e retirei o telemóvel lá de dentro, vi que a minha mãe me ligava além de ter reparado nas oito chamadas não atendidas à uns minutos atrás.

Atendi de imediato.

~Chamada on~

- Finalmente atendeste!! – ela falava com uma voz chateada e impaciente pela demora

- Desculpa mãe, adormeci... não ouvi mesmo o telemóvel

- Ok, isso também não interessa agora

- Mas está tudo bem??

- Sim! Mais que bem! Vem já para o hospital! A Sara acordou!!

- ACORDOU??? VOU JÁ

~Chamada off~

Nem dei tempo de me despedir como deve ser, simplesmente peguei nas minhas coisas e corri para o estacionamento. Tinha que chegar naquele hospital o mais rápido possível.

A minha meia irmãOnde histórias criam vida. Descubra agora