Primeiro Beijo

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Sara on

As últimas aulas foram passando sem a minha irmã dar qualquer sinal de vida, o que na verdade era estranho afinal ela nunca ousou faltar a nada.

- Harper – Sussurrei já que ela se sentava na mesa ao lado – Sabes da minha irmã?

- Eu vi-a mais cedo, quando estava ainda no clube de música antes de sair. Estava lá uma nova aluna.

- Nova aluna?

- Sim, a Taís estava lá parada só a olhar para ela. Não as quis incomodar.

Antes mesmo que eu pudesse falar mais alguma coisa, o toque de saída impediu-me de continuar. Comecei a arrumar as minhas coisas e passei a me dirigir à moto como todos os dias. Não havia muito o que fazer ou pensar, apenas queria ir para casa. Cheguei lá e apenas só estava a moto estacionada, nada de Taís em algum lugar. Como tinha que esperar por ela para ir para casa, apenas me encostei à moto e fiquei no telemóvel a esperar por ela.

A moto estava estacionada ao lado do muro da escola na zona do estacionamento, assim que levantei o rosto cansada de olhar para o telemóvel, os meus olhos puderam sentir um pequeno reflexo de um brilho verde a ir contra eles. Como estava entediada, acabei por me aproximar enquanto esperava por ela e assim que cheguei mais perto reparei que era uma pequena pulseira de pedras verdes transparentes. Eu reconhecia aquela pulseira, afinal a Taís usa-a quase todos os dias.

Peguei-a do chão e deixei-a sobre a palma da mão enquanto passava o polegar sobre algumas das pedras. Os meus pensamentos voltaram ao que Harper tinha falado mesmo no final da aula.

Guardei a pulseira no bolso e olhei as horas no telemóvel. Já tinha passado meia hora e nada. Procurei pelo número dela e liguei-lhe, mas tudo o que eu recebi de volta foram três chamadas não atendidas.

Soltei um suspiro alto aborrecida. Detestava esperar. Sendo assim acabei por deixar a moto para trás e decidi ir para casa sozinha.

Taís on

Nós estávamos sentadas no chão do vagão com as pernas caídas para fora. Apoiei uma mão no chão um pouco atrás para me apoiar, mas acabei por tocar a mão de Kelly sem dar por isso.

Os olhos dela brilhavam a olhar os meus. Não estávamos muito distantes uma da outra o que me permitia sentir o perfume dela mergulhar em mim. Arrepiei com a aragem fresca que entrava pelo comboio e percorria todo o meu corpo despenteando os meus cabelos e igualmente os dela. Corei ao reparar que nos comunicavamos em silêncio por entre olhares, eu adorava a sensação de ter uma espécie de frio na barriga acompanhada por um coração ardente que palpitava a cada segundo que ela ameaçava aproximar os seus lábios dos meus lentamente.

- Taís... - Ela murmurou e continuou a aproximar-se mais. Eu fechei os olhos sem grandes pressas e permiti que o meu corpo se inclina-se lentamente na direção do dela, até finalmente a ponta dos nossos narizes se tocar e de seguida os nossos lábios.

Era a primeira vez que eu beijava uma pessoa do mesmo sexo. Era diferente. Era doce, calmo, ardente...Deixava-me a desejar mais e mais. Os primeiros segundos pareciam estar em câmara lenta, era uma conexão diferente e mais profunda. Parecia que tinha passado muito tempo ali. Era uma experiência diferente que preferia já ter tido há muito mais tempo.

Com a falta de ar, descolei os meus lábios dos dela e assim que o fiz houve um arrependimento dentro de mim, como se fosse uma ânsia por mais. O meu coração batia de forma quente e acelerada. As nossas testas encostaram-se e eu sorri com o meu rosto todo corado de vergonha. Ela deu um sorriso tímido acompanhado de uma respiração ofegante. Sem me conter, soltei um leve riso tímido que a influenciou e a fez rir também.

- O que foi? – Ela disse erguendo os seus olhos azuis até olharem diretamente nos meus.

- Nada... - Sorri – É que...Este foi o meu primeiro beijo com uma rapariga

- O teu primeiro beijo lésbico?

Aquela palavra ecoou pela minha cabeça. Lésbica. Foi nesse momento que o meu coração ficou um pouco confuso e perdido. Parecia procurar inconscientemente se eu me identificava com esse rótulo.

- Sim foi.

- E? – Ela perguntou e eu franzi levemente as sobrancelhas ainda com um sorriso tímido no rosto – Foi bom?

Não consegui evitar olhar novamente para os lábios dela pois os meus ansiavam por mais daquelas sensações que nunca havia sentido antes. Nunca me tinha sentido assim. Pelo menos não que eu me lembre.

- Foi incrível - soltei um murmúrio tímido

Ela sorriu e roubou-me um último beijo rápido antes de deitar a cabeça dela no meu ombro e ficarmos a apreciar ver tudo lá fora passar de forma rápida por causa da velocidade do comboio.

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Já era quase de noite, ainda se viam os raios de sol no céu, quando o próprio sol já se tinha escondido. Era um céu cor-de-rosa alaranjado.

- Vamos embora? - Ela perguntou e eu avistei o local em que nós tínhamos saltado para o vagão

- Vamos saltar?

- Sim, saltamos para entrar, saltamos para sair – Ela sorriu e entrelaçou os seus dedos na minha mão – Pronta?

Eu assenti com a cabeça e retribuí o sorriso. Levantamo-nos e contámos até três antes de saltarmos.

Quase caí no chão de cara se a Kelly não me tivesse puxado. Mas quando me puxou acabámos por nos abraçar e andar abraçadas por aquele relvado cheio de objetos antigos ali depositados.

- Bom eu vou ter que ir indo pala casa, vemo-nos amanhã – Ela beijou-me a bochecha rosada e piscou o olho enquanto ia embora

Deixei-me cair num sofá velho atrás de mim. Suspirei olhando o céu cada vez mais escuro. Apenas reparei nas horas que eram quando verifiquei o telemóvel. Assustei-me pois já tinha passado bastante tempo desde que as aulas haviam terminado. Decidi apressar-me a sair dali.

Sara on

Eu estava farta de procurar a Taís por todo o lado. Até que finalmente avistei aqueles longos cabelos rosa ao funo da rua. Acelerei e chamei-a.

- Taís! – Ela olhou para trás com um olhar de como se tivesse acabado de acordar sobressaltada. Parei ao pé dela – Onde é que estiveste este tempo todo? – Suspirei – Anda sobe, vamos para casa

Ela colocou o capacete e abraçou-me por trás. Comecei a sentir o meu coração acelerar um pouco enquanto a minha pele arrepiava.

Taís on

Eu voltava a relembrar aquele beijo diversas vezes. Mas o problema é que eu não o conseguia imaginar com a Kelly, mas sim com Sara. Senti-me mal por isso. Não sabia se era algo certo ou errado, afinal ela era minha irmã. Não era de sangue, mas era. Abracei-a por trás para me segurar a ela, mas a minha cabeça ainda estava naquele beijo com Kelly. Sorri instantaneamente enquanto continha o meu coração empolgado ao reviver todo aquele momento na minha cabeça.

- Está tudo bem?

- Sim, sim claro – Pestanejei

A minha meia irmãOnde histórias criam vida. Descubra agora