Sensação de liberdade

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Taís on

A sala dava uma sensação confortável. As paredes e o teto eram escuros com uma camada de cortiça para ajudar a abafar o som daquela sala. Haviam diversos instrumentos espalhados por ali. Era um lugar acolhedor que dava a vontade de experimentar tocar algum dos instrumentos ali dispostos. Mas a maior curiosidade naquela sala para mim nem eram bem os instrumentos em si, mas sim aquela rapariga de cabelos negros como a penumbra da noite iluminada por duas belas luas azuis, que no caso eram os olhos dela que se destacavam bastante.

- Como te chamas? – Assim que perguntei reparei num pequeno sorriso tímido que logo foi contido. O olhar dela não deixou de mirar exclusivamente nas cordas na guitarra ainda concentrados no que ela estava a fazer.

- Kelly. - Olhou finalmente para mim. - E tu?

- Taís. A tua pronúncia tem um sotaque bem forte, vieste de onde?

- Inglaterra, vim viver com a minha avó. - Levantou-se e foi arrumar a guitarra numa saca própria. Ela virou-se para mim de seguida um pouco sem saber o que falar. - Não tens aula agora? - A primeira coisa que me veio à cabeça nem tinha sido a aula, mas sim Sara.

- Bem...sim tenho, mas sinceramente não me apetece muito ir.

- Quem olha para ti consegue visualizar uma pessoa aplicada nos estudos, mas se conhecerem melhor o que está por detrás dessa máscara podem sempre notar num traço bem rebelde.

- Nem tudo é o que parece. - Coloquei os meus cabelos rosas para trás e fiz um olhar superior na brincadeira, o que fez com que ambas começássemos a rir. Na verdade eu apenas não queria me cruzar com Sara. Algo dentro de mim não me deixava confortável. Algo em mim andava a ser reconhecido. Talvez a minha irmã esteja a mostrar-me esse mundo. Só não me lembro desde quando é que comecei a sentir-me assim estranha perto dela.

- Queres ir a algum lugar?

- Onde?

- Não sei. Apenas sair um pouco sem rumo. - Ela encolheu os ombros e debruçou-se para pegar na sua mochila que estava no chão.

- Por mim tudo bem. - Encolhi os ombros verifiquei se tinha tudo comigo e apenas saímos dali. Saltamos o muro da escola já que o porteiro não nos deixava sair sem uma justificação depois das aulas e assim que olhamos novamente uma para a outra já fora do portão, Kelly riu e pegou na minha mão para me puxar com ela dali enquanto corríamos. O meu coração estava um pouco acelerado porque não tinha feito aquilo antes. Sempre fui uma adolescente muito certinha digamos assim. Mas era uma sensação de liberdade boa.

Quando dei por nós tínhamos parado ao pé de um campo onde deixavam lá algumas coisas velhas. Uma espécie de lixeira de coisas antigas, mas no meio da natureza. Mais ao fundo havia uma casa na árvore com algumas coisinhas dentro. Num piscar de olhos, já estávamos de mãos dadas a caminhar por cima de uma linha de comboios que estava ali ao lado daquela zona a falar coisas aleatórias e a aproveitar o momento. Kelly voltou a olhar para mim enquanto me pedia silêncio como se estivesse a ouvir alguma coisa ao longe.

- Estás a ouvir?

- O quê? - Foi então que reparei num comboio a vir na nossa direção mais ao fundo. Saímos da linha e afastamo-nos um pouco para deixar o comboio passar.

- Ei? E que tal darmos uma volta de comboio?

- Como assim? – O comboio continuava a passar à nossa frente

- Olha aquele vagão ali ao fundo! Vamos saltar para dentro dele

- Estás maluca???

- Querida – Ela olhou-me e sorriu – Esse é o meu nome do meio

Ambas seguramos a mão uma da outra e entrelaçamos os dedos. Kelly ainda me olhou uma última vez de forma rápida e apertou a minha mão para me passar confiança. Assim que o vagão se ia aproximando o meu coração ia acelerando mais.

- Agora! - E assim saltamos para dentro do vagão.

A minha meia irmãOnde histórias criam vida. Descubra agora