Capítulo 8 - Drink de chocolate?

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Leia o capítulo ouvindo: David Garrett - They Don't Care About Us

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Primeiramente: que cabelo é esse, Brasil?

O cara do 302 tem um cabelo loiro-médio longo, até os ombros, e uma barba espessa no queixo quadrado. Parece ter saído de alguma propaganda médica de harmonização facial. Está usando uma blusa branca de frio, com a gola meio aberta, e calça jeans escura. Franzo a testa para os sapatênis gastos que ele calça, tentando entender se são uma peça social ou esportiva, e é quando ele pigarreia, chamando minha atenção de volta.

Abro um sorriso envergonhado pelo flagrante em minha avaliação descarada e aperto a pulseira em meu pulso, buscando forças para não desistir do que estou prestes a fazer.

— Olá, cara do 302. — Faço um sinal estranho com a mão. Acho que foi uma tentativa de dar um tchauzinho de miss, que não funcionou.

— Pronta para encarar o furacão? — pergunta, esboçando um sorriso empolgado.

Meu Deus, como esse cara é bonito!

— É a minha especialidade — minto.

Eu preferia assistir a um filme debaixo da coberta? Sim. Mas agora, ao ver esse David Garrett brasileiro na minha frente, estou começando a achar que enfrentar uma tempestade talvez não seja uma ideia tão ruim. Fala sério, o que é uma chuvinha, não é mesmo?

Fecho a porta do quarto e caminho ao lado dele até o elevador, ainda um tanto deslocada com essa situação maluca.

— Tem medo de morder um chocolate, mas não de sair com um estranho? — O sarcasmo é nítido em sua voz, sinto meu rosto esquentar.

— Você quem convida pessoas aleatórias pra levar no bar... O risco é duplo — respondo, no mesmo tom.

— Bom, eu já sairia de qualquer jeito, só estendi o convite. — Entramos no elevador. — Não tem furacão que me faça ficar parado por tanto tempo assim. E. óbvio, sair acompanhado é sempre muito melhor... — Ele pisca um dos olhos e aperta o botão do térreo.

Quando as portas metálicas se fecham, eu me pergunto se é uma boa aposta andar nisso com o mundo caindo lá fora, mas logo deixo o pensamento de lado. Não consigo pensar em nenhuma outra decisão desta noite que possa considerar incrível, até agora. Estava conversando com um cara que nunca vi na vida através de bilhetes, e agora estou indo para um bar com ele em pleno furacão. De péssimas ideias, eu entendo.

— E então, garota do 310, já foi a algum bar aqui? — indaga, enquanto descemos

Posso sentir meu corpo inteiro tremer. Espero que ele não esteja percebendo meu nervosismo, que não sei dizer se é por estar sozinha com ele ou pelo medo de pegar o elevador em uma tempestade.

— Na verdade, não. Só parei aqui para uma escala, estava indo para o Canadá.

— Sério? — Ele arregala os olhos, surpreso, enquanto descemos para o térreo. — Eu acabei de vir de lá. Estava em Whistler. E você, vai pra onde?

Nunca ouvi falar nessa cidade e não tem a menor possibilidade de dar um Google aqui, então apenas concordo com a cabeça antes de responder:

— Ottawa.

As portas do elevador se abrem e tento disfarçar o alívio ao disparar para fora da cabine. O caos no lobby continua e, pelo visto, a chuva lá fora também. Deixo o cara do 302 ir um pouco à frente, pois não sei o que ele está planejando e não quero parecer mais estranha do que provavelmente já estou.

Uma mentira (im)perfeita [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora