Capítulo 7 - Furacão?

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Leia o capítulo ouvindo: Ellie Goulding - Love Me Like You Do (DSharp Violin Cover)

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Coisas que descobri ao trocar bilhetes feito uma Neandertal com meu vizinho desconhecido de corredor no meio de um quase furacão:

a) Ele não pediu meu WhatsApp, então imagino que ele curta mesmo escrever à mão;

b) Parece bem-humorado e é mais rápido do que eu nas respostas;

c) É brasileiro, talvez a chance de ser um serial-killer seja menor.

Ok, não é muita coisa. E, se não fosse pelo fato de ter tantas páginas para ler e estar exausta, diria que isso me ajudou a ficar tão relaxada quanto é possível no meio desse caos. São quase nove da noite e a cama está cada vez mais confortável. Depois de comer, tudo o que eu queria era procurar um filme meloso na televisão e dormir, mas o e-mail de Natasha não me permite esse luxo.

Ouço o som de um papel ser passado por baixo da porta. Começo a fazer um grande esforço para me levantar e pegar o bilhete debaixo da porta. Pretendo me despedir no próximo, antes que caia no sono e o deixe falando sozinho. Até agora estou me perguntando por que simplesmente não abrimos a porta e conversamos cara a cara, como duas pessoas normais, no entanto, acho que sei a resposta: é mais divertido assim.

Releio o papel sobre os melhores drinks que ele já bebeu na vida e, enquanto eu respondo afirmando com veemência que drinks com chocolate são enjoativos, o cara do 302 passa outro bilhete por baixo da porta.

Dessa vez ele foi rápido mesmo, nem me esperou responder.

Pego o papel e, antes de voltar para a cama, fico estagnada.

Garota do 310, que tal desbravar a tempestade de Miami e experimentar comigo alguns drinks (de chocolate ou não)?

Ai, meu Deus!

O que eu faço?

Além da fatídica pergunta, tem um desenho malfeito de um drink ao lado do texto. Outra coisa que acabo de descobrir sobre ele:

d) O dom artístico é tão ruim quanto a letra.

Leio a mensagem outra vez e passo a mão pelos cabelos, sem acreditar. Encaro as horas no celular e balanço a cabeça, ansiosa. Não vou sair nessa chuva e, muito menos, com um cara cujo nome não sei nem qual é. Claro que não.

Reviro os olhos e volto para a cama, ao lado do notebook onde tentei me concentrar por horas no material que Natasha me enviou, em vão. Olho o pedaço de papel em minha mão; acho melhor nem responder mais, ele vai entender o recado. Nem sei de onde ele tirou que eu poderia aceitar essa proposta louca. Sair no meio de uma tempestade como essa! Só sendo maluco. Meus dois únicos desejos, essa noite, são: não morrer em um furacão e conseguir descansar. Não necessariamente nessa ordem.

Mudo o canal da televisão umas três vezes e não encontro nada interessante. Espio o documento vencedor do Nobel da chatice na tela do meu notebook e resolvo desistir dele. É algum blá-blá-blá sobre auditoria. Não vou conseguir assimilar mais nada hoje, isso é fato. Por isso, fecho a tela e me deito, com as pernas inquietas, o que começa a me dar uma agonia terrível, então acabo levantando outra vez. Ando de um lado para o outro no quarto, agitada. A todo instante, meus olhos (e meus pensamentos) recaem sobre o desenho ridículo da tacinha de bebida no pedaço de papel. Oras, eu já decidi que não vou! Por que, então, não consigo relaxar? Por que aquele maldito bilhete não sai da minha cabeça?

Uma mentira (im)perfeita [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora