Capítulo 10 - Ressaca?

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Leia ouvindo a música: Rolling in the Deep - Adele (violin/cello/bass cover) - Simply Three

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Minha garganta está pegando fogo. Algo está comprimindo meu esterno e, pelo visto, parece que estão socando minha cabeça também, porque não consigo me obrigar a sequer abrir os olhos. Uma dor visceral atinge minhas têmporas e aperto-me contra o edredom, sem a menor sombra de coragem para raciocinar.

Rolo na cama e demoro alguns segundos para me situar. Ouço um bip distante, deve ser meu celular. Isso me lembra que preciso ligar na companhia aérea e ver se consigo cancelar a passagem para o Canadá e retornar ao Brasil, pois não faz mais sentido seguir viagem, se já perdi nosso evento no Congresso. Também não estou nem um pouco ansiosa para a festinha de boas-vindas que Natasha deve estar preparando para quando eu chegar, com direito a open bar de sermão...

Arrisco abrir os olhos. Franzo a testa com a claridade e observo que esqueci de fechar a cortina quando cheguei no hotel, ontem à noite. Não faço a menor ideia de que horas são, minha cabeça não para de latejar e meu estômago parece ter sido triturado em um liquidificador. Sinto um gosto enjoativo na boca e então me lembro do drink de chocolate. Meu Deus, foram quantos? Uns seis? Não sei dizer.

A noite de ontem surge como um borrão na memória. O e-mail de Natasha... bilhetes debaixo da porta... o chocolate envenenado... o furacão...

O furacão!

Será que já acabou? Estou a salvo?

Sento-me na cama, em um rompante assustado, e tudo roda. Respiro fundo várias vezes, tentando manter o controle do meu próprio corpo, no entanto, tenho a impressão de que fui esmagada por um trator.

Zac...

Meu coração acelera assim que me lembro daquele deus grego, e quase tenho uma síncope. Viro-me para os lados, em busca de algum sinal de que ele ainda esteja no meu quarto, e desejo do fundo da alma que ele não tenha me visto com esse cabelo desgrenhado.

Pego o lençol para me cobrir e, quando olho para baixo, estranho o que vejo.

Ué.

Estou de blusa. E não é a mesma que usei ontem.

Como assim?

Repasso os acontecimentos da noite passada diversas vezes. Até a parte que lembro, Zac tinha ido ao quarto buscar camisinha, porque eu cometi a burrice de não ter uma na bolsa. Depois disso, é tudo um borrão. Será que transei com o cara do 302 e não me lembro?

Fala sério. É pior do que não ter transado!

Levanto, tentando me equilibrar sobre os pés vacilantes. Que ressaca violenta! Eu bebia horrores com Otto na adolescência e nunca me senti assim. Acho que é coisa da idade, não sou mais nenhuma menininha, a Nina já foi embora faz tempo.

Olho ao redor e percebo que quarto continua intacto, a não ser pelas calças e o casaco molhados e empilhados no chão. Pego o celular em cima da mesinha na lateral da cama e forço os olhos sensíveis para identificar que horas são. Seis e meia da manhã. Ainda bem que não dormi o dia todo! Antes de ler o resto das notificações (que incluem várias mensagens Otto, Natasha, operadora de celular e secretária da empresa), entro no site do aeroporto para verificar se os voos já estão liberados.

Sigo para o banheiro com o celular na mão. Os voos foram retomados há trinta minutos, então preciso acelerar. Paro no caminho ao observar algo no chão, próximo a porta. Um papel dobrado em cima de uma barra da Hummingbird Chocolate Makers chama a minha atenção. Acabo pegando o bilhete e indo parando em frente à pia do banheiro. Um sorriso involuntário enfeita meu rosto, posso ver através do espelho.

Uma mentira (im)perfeita [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora