Epílogo Parte I

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— Ryan, seu desgraçado, se você encostar em um fio de cabelo dela, eu juro que até sua quarta geração pagará por isso!

Do outro lado do telefone uma risada maléfica e fria soa, debochando da ira de um sequestrador que se apaixonou pela sua vítima, a qual se encontra nas mãos de um velho inimigo.

— A vingança é um prato, que se come frio meu velho amigo! Mas calma, por que você terá o privilégio de poder ve-la antes de partir desta pra "outra vida", não é assim que todos dizem?!

Seu tom amargo no final, denunciava uma mágoa que há muito tempo o corroia.

— Hijo de una puta madre! (Filho de uma puta). Você sabe muito bem que essa vingança não tem sentido!

— No galpão, à meia noite, só você, e se tentar alguma gracinha será pior.

O bip da chamada encerrada era como um sino ensurdecedor no ouvido do sequestrador, que sabia o que iria acontecer com a única pessoa que lhe importava agora.

— AAAAAH!

Seus capangas ouviram seu grito gutural e adentraram a porta, dispostos a enfrentar qualquer inimigo que fosse, mas  única ameaça que encontraram ali, foi um homem prestes a ficar louco de medo e raiva.

Suas mãos cravadas em seus fios pretos e seus olhos em tom cinza obscuro deixava qualquer um que o olhasse de cabelos arrepiados, sendo assim, os dois capangas voltam no mesmo rastro e desaparecem.

O homem sem enxergar uma saída, cai ao chão desnorteado e há muito tempo ele não deixava cair uma lágrima por alguém, havia achado até que isso nunca mais voltaria acontecer, no entanto, seu rosto agora estava queimando com as lágrimas salgadas, que preenchiam seu par de olhos cinzentos.

"É tudo culpa sua, foi você quem trouxe ela para seu mundo sombrio e sem vida, se a tivesse deixado seguir sua vida, se não fosse egoísta ao ponto de tê-la pedido para ficar, ela estaria bem agora."

Seu consciente o julgava enquanto um remorso crescia em seu peito, fazendo com que o mesmo se odiasse ainda mais, ah como ele desejava voltar no tempo.

Mas uma coisa crescia dentro dele, e era maior que o medo, maior que a raiva, maior do que tudo que sentira em toda sua vida. Então ele se levanta, olha para o relógio em seu pulso, e vê que faltam apenas cinquenta e cinco minutos para meia noite, ele não deixaria que a mulher que o fez se sentir vivo outra vez morresse por sua culpa, faria de tudo para ela sair viva de tudo isso, e pensou consigo mesmo:

— Você não vai morrer Clarke, eu não vou deixar!

Assim, ele foi atrás dos seus homens e deu as ordens de como era para cada um deles agir.

— Não quero uma única falha, vocês sabem muito bem que Ryan não hesitará em tirar a vida de todos se uma única parte do plano sair fora do combinado.

Todos concordam e é nesse exato momento que seu relógio apita, avisando que faltavam apenas dez minutos para meia noite. Tempo suficiente para que ele chegasse ao local marcado com Ryan.

No caminho, tentava lembrar de seus momentos com Sam, para aliviar a bola de ansiedade que crescia na boca de seu estômago, ele teria de ser cauteloso e muito esperto.

Havia se passado quatro meses desde que sequestrou Samantha, e nesse pouco tempo, sua vida havia mudado completamente, já não queria e nem podia viver sem ela, só de pensar nessa possibilidade seu peito doia, ela havia sido como um anjo que veio para tira-lo  da escuridão, e não sabia o por quê de ele merecer merecer o afeto e amor dela. Com as mãos apertando o volante, riu sarcasticamente de seu próprio  pensamento, ela só pode ser mais louca que ele mesmo, para querer ficar com uma pessoa como ele.

Assim que seu carro para em frente ao tal galpão, quatro homens armados se aproximam apontando para ele suas armas.

Ele não sente medo algum, mas também não os enfrenta, não era a hora ainda de tomar alguma atitude.
Um dos homens faz mensão para que ele levante as mãos ao sair do carro, e assim ele faz. O outro, o revista tentando encontrar algum tipo de arma, não tendo sucesso.

— Anda!

O mais alto o empurra com a ponta da arma, e se não fosse pelo plano, ele o golpearia agora mesmo, mas o sequestrador se controlou, nada podia dar errado.

Quando os cinco adentram no local esperado, a visão de Clarke ajoelhada, amarrada e amordaçada o tiram do sério, sua única reação foi correr até sua direção, mas na metade do caminho ele é impedido por dois brutamontes, um segura o por trás e o outro o golpeia na boca do estômago.

Samantha grita um "Não" abafado pela mordaça e seus olhos começam a transbordar as lágrimas que já caiam a alguns minutos por ter levado um tapa no rosto, de Ryan.

Enquanto a respiração do sequestrador volta ao normal e ele recobra os sentidos, palmas se ecoam no local, denunciando a chegada da pessoa que, no momento, era quem o sequestrador mais odiava no mundo.

Seus olhos se encontram, e se ele pudesse, estrangularia Ryan sem dó nem piedade agora.

— Ora, ora, ora! A cereja do bolo chegou para completar a nossa... festinha, não é mesmo, Lincoln Ferroccini!

— Solta ela agora, você sabe muito bem que quer a mim!

— Antes sim, mas agora, será muito mais prazeroso para mim!

— Você sabe muito bem, que isso é entre mim e você, o que Allyra pensaria de você se estivesse aqui agora?

Ryan o olha com um olhar mortal e então se aproxima dele referindo um soco em sua boca, deixando um ferimento.

— Nunca mais abra sua boca para falar o nome de minha irmã seu desgraçado!

— Por que? Você sente a culpa aí dentro, não sente? Ela te corrói de dentro pra fora, não sabe lidar com ela e então me culpa pela morte dela, a mulher que eu amei, e que me amava, mas você com seu ciúmes e paixão doentia por ela, acabou com tudo.

— CALA BOCA SEU MONSTRO! Eu a amava mais que tudo, iria me casar com ela, assim como mandava a tradição da minha família, e você era meu melhor amigo, mas mesmo sabendo do meu amor por ela, roubou ela de mim, depois a matou, quem deveria sentir culpa aqui é você, você a assassinou!

— Amor? Você e sua familia eram um bando de doentes, Allyra tinha o direito de escolher quem quisesse, e por Deus, vocês eram irmãos porra! Eu não dava muita importancia para isso no começo, mas depois, ela me contava como se sentia enojada com seus olhares para ela, e com a ideia de se casar com você, nos aproximamos e me apaixonei por ela, depois descobri que ela tambem era apaixonada por mim, e eu faria de tudo para livrar ela dessa tradição machista, doentia e muito mais de VOCÊ! Acha que eu não tenho que conviver com essa dor e essa culpa todos os dias que eu acordo? Mas pelo menos, depois de uns anos, parei de me culpar tanto, pois nós dois sabemos, que não matei ela por que quis, estávamos bêbados quando você me atacou e disse que sabia de nós dois, não deveria ter sacado a arma naquele maldito dia, naquela maldita hora, e ela, com o coração bom que tinha, tentou te livrar de morrer, quando percebi já era tarde, havia disparado, e o tiro não tinha atingido você, mas sim ela.

Os dois parecem ter sido atingidos pelas lembranças agora, ambos se entreolhavam com um olhar carregado de ódio, dor e sofrimento.

— Traga a corda!— Ryan ordena com a voz embargada, para um de seus homens.

Continua...

Senhor Sequestrador (Concluído- Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora