Eu mereço amor

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Não quero saber mais dele. Merda! Como se fosse fácil assim... Eu não te suporto, Jason. Vou apagar a droga desse número. Não sou um brinquedinho que ele usa quando bem entender e depois se desfaz!

Mas, a quem eu quero enganar? Tudo o que faço é pensando dele, e até mesmo quando não penso, seu cheiro me persegue. Não é justo! Preciso me distrair. Vou dar uma caminhada.

Procuro uma roupa mais confortável e calço meus tênis velhos mesmo, pego o celular e o fone de ouvido, e saio. Coloco para tocar alguma música do Sam Smith e, como se nada existisse ao meu redor, caminho sem rumo, rezando interiormente para que não haja contratempos.

Não sei se algum deus que me ouviu, porque, de longe, avisto alguém parecido com o problema que eu já estava tentando evitar. Ah, não... eu mereço... Mudo a rota, desvio de algumas pessoas que também caminhavam e sigo reto, sem olhar para trás. Uh, acho que ele não me viu. 

Já estava quase escurecendo quando vou chegando perto de casa e percebo que a luz está acesa, mas não me recordo de ter deixado. Minha irmã deve ter esquecido alguma coisa, penso.

A porta também estava destrancada, entro e percebo que tem alguém sentado no sofá, assistindo. Ainda sem ver quem é, me aproximo e ouço uma gargalhada. Reconheço. Você só pode estar de sacanagem com a minha cara!, penso.

- Jason? - A ficha não cai. - O que você faz aqui?

- É bom ver você também, Pet. - Ah, então agora eu sou o Pet novamente.

- Desculpa. - Por que me desculpei?

- Vim procurar você, mas só encontrei sua irmã. Ela é um amor, aliás. Disse que faríamos um belo casal - Ele dá uma risada.

Respiro fundo, travado. Eu vou matar aquela vaca!

Então, Jason, o que traz você aqui? - Procuro me manter firme.

- Só quis ver como você estava. Achei que te devia uma explicação, por ter saído quase correndo outro dia.

- Sério? Nem percebi que você saiu parecendo um fugitivo, acredita?

- Adoro suas ironias. - Retruca.

Ok, ok... Agora ele me pegou desprevenido.

- Vai explicar, finalmente? - Olho para ele, tentando parecer o mais frio possível.

- Sim... - Ele abaixa a cabeça, uma linha reta formada nós lábios. - O que a gente faz, Pet, não é certo. Eu já te falei que não sou o tipo de pessoa que ama. Não mais... E eu sei que você é totalmente o contrário de mim. Olha, eu tenho, digamos, alguém. Não é um casamento nem nada do tipo, mas ela é o mais próximo que encontrei de alguém para amar. Não sei se chega a ser amor, mas ela cuida de mim, aguenta minhas bebedeiras, me ajuda. 

Nessa hora, eu o interrompo.

- Isso não me parece chegar perto de ser amor mesmo, Jason. Você só está usando ela. Pelo que você me falou, só precisa dela para satisfazer suas vontades.

- Ela mesma disse que não se importa. Disse que me ama.

- Isso não é amor!!! - A voz sai mais alta do que o planejado. - E eu ainda não entendo o que você veio fazer aqui. Confesso, eu sinto algo muito forte por você. Algo que não consigo controlar, mas eu caí na real e por mais que me doa dizer isso, você não é a pessoa que eu preciso na minha vida. - As lágrimas me traíram, e então eu desabei.

Jason se levanta do sofá, vem em minha diretão, mas eu dou um passo para trás e ele para. 

- Você não é alguém digno do meu amor, Jason. Eu vejo você em quase tudo o que faço, eu te imagino comigo como nunca imaginei alguém, e isso me dói. Você é como um cacto e eu sou um simples e frágil balão. Me aproximar de você é como estar à beira de um precipício e ser empurrado a qualquer momento. Você não é alguém digno de ser amado por mim, mesmo sendo involuntário o que sinto.

Quando menos espero, ele está me envolvendo em um abraço caloroso, pedindo desculpa e dizendo que não escolheu ser assim, e que, por isso, passou a procurar mais refúgio no álcool.

- Não é justo, Pet, eu sei. Mas estou aqui pedindo desculpa da forma mais sincera e sem ter bebido uma só gota de álcool. Eu não mereço você, e se você desejar, nós nunca mais nos veremos.

- Acho melhor você ir embora, Jason. Limpo as lágrimas quase incessantes, e olho fixamente no fundo daqueles olhos castanho-claros.

- Certo. Me desculpa. De novo.

- Você não tem culpa. Eu que enxerguei amor onde não deveria passar de uma foda de momento. Você é alguém que eu quero ter, mas que não preciso. Não da mesma forma como você precisa de mim. Não sou alguém só para foder, até porque sexo você encontra em qualquer esquina. Eu mereço amor, e, até você entender isso, acho que é um adeus.

Foda e ConsequênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora