Vontades

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Nos vemos qualquer dia. Essas foram as últimas palavras ditas pelo furacão chamado Jason.

Não nos vemos há duas semanas. Ele não me procurou, o que se tornou previsível faz tempo; e eu também não o procurei, algo que nem eu mesmo esperava. Tudo o que eu sabia e queria fazer, era escrever, tendo em vista que a dor era minha maior inspiração. Vez ou outra, me pergunto o que vai ser da minha escrita, quando eu não sentir mais dor.

Lá fora, o vento soprava suave, fazendo os galhos das árvores dançarem num ritmo lento e melancólico. O movimento na rua era pouco e parecia que tudo ao meu redor estava conspirando para que eu começasse a escrever. E eu o fiz.

eu tenho uma vontade avassaladora de cuidar. um desejo de amar de forma gritante e exagerada. para mim, sempre foi mais fácil ser a pessoa que cura, porque, de mim, bom, eu podia cuidar depois.

eu tenho uma vontade de ser venerado ao invés de vulnerável, mas também de me permitir ser vulnerável ao invés de ter medo, quando a ocasião pede afeto e um pouco de coragem.

talvez eu não tenha sido feito para sentar ao lado de ninguém numa praça, quando tudo que eu mais quero é sentar com alguém que me ajude a decidir qual saga é a melhor: harry potter ou o senhor dos anéis.

mesmo sabendo que harry potter sempre será a melhor e não há ninguém que possa me provar o contrário.

eu tenho uma vontade de cuidar grande demais. de mapear aquele cheiro específico com o olfato, de ter o gosto bom marcado em mim, uma vontade absurda de rir até a barriga doer sem me preocupar no final se é amor. ou tendo total certeza de que é amor.

uma vontade de contar as piadas mais sem graça que existem, de um jeito que só eu sei contar. amar sem medo da queda depois. amar tendo a certeza de que uma hora tudo pode se desequilibrar, mas, mesmo assim, continuar amando.

porque ter medo da queda faz você idealizar a salvação mesmo que não precise. mesmo que não corra perigo. porque amar é se permitir saltar. e amor bonito é aquele que a gente cria sem medo.

eu tenho uma vontade avassaladora de cuidar e poderia ser tão mais fácil se a gente não tivesse tanto medo de dar errado.

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Escrever sempre me fez bem e, as vezes, até me orgulho de algumas coisas que consigo criar. Minha deusa interior não gosta muito quando escrevo para alguém específico, porque, segundo ela, só se torna mais difícil o processo de cura.

Mas é justamente isso que me cura.

Sinto saudade do Jason. Sinto muito por ser esse cara que idealiza as coisas mais sem noção com alguém que sequer faz questão, mas também tenho orgulho por me permitir sentir até onde consigo e saber que se a outra pessoa não consegue suprir minhas expectativas e intenções, ela que se vire. Nunca mais vou me desculpar por ser intenso.

Ao cair da noite, procuro algo para assistir enquanto termino de preparar meu jantar. Lá fora, no céu, uma nuvem abraçava a lua, enquanto estrelas ao redor às assistiam.

Foi muito bom não pensar no Jason durante um tempo, apesar de ser complicado dizer isso já pensando nele, mas sinto que algo mudou. Talvez eu só precisasse desse não contato com ele.

Ao voltar para o quarto, me jogo na cama e, olhando para o telhado, penso no quanto eu deveria tirar um tempo só para mim. Viajar, provar outras comidas, outros ares, outras bocas. Me permitir ser a pessoa que se diverte sem pensar demais. Até que o sono chega de mansinho sem que eu perceba e me carrega para um lugar bonito e calmo, onde posso descansar sem ter que me preocupar com o furacão...

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⏰ Última atualização: Jul 11 ⏰

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