Gatilho

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Jason fica imóvel. É como se ele não estivesse ali durante alguns segundos. Até que retorna.

- Pet, eu... não queria... Nós dois, você sabe... - É como se não fosse o Jason ali.

- Acho que conversamos tempo demais. Foi ótimo tudo até aqui, mas como você mesmo disse, eu sou bem diferente de você. Isso não daria certo. - Por dentro, eu estava desabando.

- Me desculpa. - Ele se aproxima e me dá um beijo na bochecha. - Eu já vou.

Quando ele sai, eu desabo em lágrimas. Penso em ligar para o Josh, mas eu só iria incomodar ele. Coloco umas músicas tristes e penso no que aconteceu e em que ponto cheguei. 

Eu sou um tapado mesmo. Todos os sinais de perigo estavam ali, mas mesmo assim eu insisti. Se tivesse dado ouvidos a ele desde o começo, nada disso estaria acontecendo. A culpa é toda minha, eu não devia ter tratado o Jason com tanta frieza. Ou devia? - Fico me perguntando como será daqui pra frente: se eu vou conseguir retomar a minha vida nada movimentada, se o Jason vai continuar bebendo e fodendo com a Carmen, e tem aquele lance que ele falou que foi o que chegou mais perto de ser amor. Aquele cara é um mistério... Talvez eu... Não deixa para lá. 

Pego o caderno e começo a escrever.

"esse negócio de sentir demais ainda vai acabar me matando, porque requer muita coragem. constantemente. à todo momento

essa mania de enxergar além de onde os olhos ir, de ouvir além de onde os ouvidos podem perceber

de declarar amor ao menor sinal de interesse. de sentir a textura e o poder que há nas palavras alheias tão próximas primeiro do coração até chegar exatamente no cérebro

esse negócio de sentir demais ainda vai acabar me matando, porque requer muita coragem

esse sentir estranho como se eu fosse um alguém que não sabe falar inglês e mesmo assim viaja como um estrangeiro que não sabe necas do idioma local

tipo um extraterrestre. isso, um e.t. que não se encaixa de maneira alguma

tipo uma forma de não querer que ninguém sofra por nada e nem por ninguém, uma forma de exalar amor por onde passo mesmo com tanta gente que se identifica mais com indelicadeza do que com compaixão

tipo um medo de que alguém tenha o coração partido porque eu sei bem como é ter um coração partido

esse negócio de sentir demais ainda vai acabar me matando, mas não consigo mudar, porque onde quer que eu vá, só consigo ser eu mesmo."

Eu sempre fui melhor escrevendo quando estava triste. Foi algo que descobri sem querer e que passou a ser uma coisa que eu amo. É como uma forma de escape, uma maneira que encontrei de transformar a minha dor em algo bonito.

Eu só precisava de um gatilho. 

E o meu era o Jason.

Foda e ConsequênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora