Depois do furacão

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Sobrevivi ao meu primeiro dia pós-Jason.  Durante a noite, não sonho com absolutamente nada e isso é bom - melhor não sonhar, do que sonhar com ele. Fico me perguntando como serão as coisas, se ele vai me ligar ou mandar alguma mensagem, mas jogo para longe cada pensamento relacionado a ele. 

Lá fora, o vento bate suavemente nos galhos das árvores, fazendo com que algumas folhas caiam e eu as observo, implorando para que o tempo passe o mais rápido possível. Depois do furacão, minha rotina passou a ser: acordar, trabalhar, chorar, dormir; mas parece que o tempo está contra mim. Eu passei a evitar escutar música, porque todas me fazem lembrar dele. Cada maldida música, cada letra bem trabalhada, cada melodia, tudo me faz recordar os momentos que passei com aquele cara. Mas-eu-não-quero. Por que é tão difícil tirar da cabeça alguém que explicitamente não faz questão de estar lá?

Minha deusa interior me dá dois tapas, um de cada lado do meu rosto, e eu retorno do meu devaneio.

O trabalho anda parado. Vasculho o celular na tentativa de me entreter, mas é em vão. Ao chegar em casa, minha irmã me diz que vai viajar para a casa do namorado e ficar uns dias por lá - o que é bom porque posso ter a casa só para mim, mas ruim também porque ficar sozinho, as vezes, é triste. Muito triste. 

Você tem que ir mesmo? - Pergunto.

- Tenho, né, Pet. Faz semanas que não o vejo.

- Hum...

- Por que você não vai comigo?

A pergunta ecoa na minha cabeça. Eu tenho o trabalho, mas podia tirar uns dias de folga. E ficar... hum... longe do Jason e de tudo isso, até que poderia ser bom para mim. Levo as duas mãos à cabeça e falo quase que só para mim:

- Não sei, vou pensar um pouco.

- Tudo bem, você que sabe. - Responde e volta para o quarto quase correndo, provavelmente para conversar com o Namorado Quase Marido.

Fico muito feliz pela minha irmã. Ela encontrou alguém que a faz feliz e eles formam um casal muito lindo. Daria uma bela capa de revista.

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Quase meia-noite e o sono não chega. Uma da madrugada, e nada. A parte boa é que não pensei tanto no Jason, a parte ruim é que lembrar que eu não pensei tanto, tecnicamente já me faz pensar.

O que será que ele está fazendo agora? 

Provavelmente se embebedando, procurando sua próxima presa ou já dormindo de tão bêbado. Mas o que isso importa para mim? Desligo o celular, enfio a cara no travesseiro e fecho os olhos na tentativa de cair no sono.

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No dia seguinte, acordo com o celular despertando. Não faço a mínima ideia da hora que fui dormir, só sei que não era cedo. Minha irmã preparou panquecas e deixou um bilhete dizendo que ia comprar algumas coisas antes de viajar - não me lembro dela ter dito que seria tão rápido.

Depois do café, corro para o trabalho, torcendo para que não fosse lá tão movimentado e, por sinal, algum deus ouviu meus pedidos. Um pouco antes do meu horário de ir embora, vejo o Josh entrando.

- Oi, Josh. Que bom ver você.

- Fala, Pet. Estava passando e resolvi ver como você está.

- Ah, vou levando...

- E como vão as coisas... sobre... você sabe. O cara lá?

- O gostosão, como diz você? É, é isso mesmo que vou levando. Tento pensar nele o mínimo possível. - Dou de ombros.

- Que tal se a gente sair hoje ou amanhã?

- Não sei se vou estar no clima, Josh... - E lá vem chororô.

- Ah, fala sério, se trancar em casa não vai adiantar, Pet, e você sabe disso. É bem melhor sair com os seus amigos e se divertir, se distrair. Desse jeito você vai acabar pegando uma depressão...

E era verdade. Eu mal comia, não tinha ânimo para muita coisa e as noites duravam bem menos agora que desregulei o sono.

- Ok, você venceu. - Minha deusa interior também entrega os pontos e levanta bandeira branca. - De novo.

- Haha, te pego amanhã às 20h. Te amo. 

- Até mais. Te amo. Se cuida. - E como num passe de mágica, ele some.

O Josh é uma pessoa incrível, eu realmente não sabia o que seria de mim sem ele. Talvez um cara superficial, sozinho e alcoólatra, que procura sexo como diversão, e só. 

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No caminho para casa, observo as pessoas caminhando, crianças passeando com seus dogs, casais andando de mãos dadas. Paro um pouco, foco em um determinado casal dividindo sorvete e fico imaginando quando vai ser a minha vez - não de dividir sorvete porque só um não dá nem para mim. Falo de ter finalmente alguém com quem passar o tempo, dividir a cama, os problemas, o clichê todo que leio freneticamente nos livros.

Merda... Minha irmã!!!

Ando o mais rápido que posso para ver se ainda consigo alcançá-la, e, por sorte, ela ainda estava terminando de arrumar as malas.

- Pet, o que aconteceu? Você está ofegante, suando.

- Achei que tinha me atrasado. Pensei que não ia me despedir de você. - As lágrimas ameaçam jorrar dos meus olhos.

- Pet... O que aconteceu? - Droga, ela percebeu.

- Não é nada. É só que foi muito rápido.

- Não, não é isso. Eu conheço você. - Ah, não... o que eu faço?

- É sério, não é nada. Vou sentir saudades.

- Você sabe que pode me contar tudo, né? E sabe também que pode vir comigo agora ou ir quando quiser.

- Sim e sim. Pode deixar, vou pensar bastante sobre isso também. Quer que eu te acompanhe?

- Não, não precisa. O Uber já deve estar chegando. - Ela se aproxima e me abraça. - Fica bem, tá?

- Pode deixar. Você também. 

Acompanho ela até a porta e a observo sumir vagarosamente do meu campo de visão. Eu a amo, e sou muito feliz vendo a felicidade dela.

Enfim, sozinho. Não que isso seja 100% bom. Entro para dentro e vou fazer absolutamente nada. Pego o celular, mas não tem nenhuma mensagem. Depois um livro, mas não tenho vontade de ler. Por fim, me jogo na cama e fico olhando para o teto, perdido em meus pensamentos, respirando pesadamente e torcendo para não sonhar com os olhos castanho-claros.

Foda e ConsequênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora