Taj Mahal

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Domingo, 15 de julho de 1990.

Bombaim e Camden Town

— ATENÇÃO, POR FAVOR! Posso pedir a atenção de vocês? Um minuto de atenção, se não se importam. Estão ouvindo? Por favor. ATENÇÃO, POR FAVOR! Obrigado.

Scott McKenzie ajeitou-se no banco alto e olhou para sua equipe de oito funcionários: todos com menos de vinte e cinco anos, todos vestindo jeans branco e boné de beisebol com a logomarca da empresa, todos desesperados para estar em qualquer outro lugar que não ali, no turno do almoço de domingo do Loco Caliente, um restaurante mexicano na Kentish Town Road, onde tanto a comida quanto a atmosfera eram muito, muito apimentadas.

— Antes de abrirmos as portas para o brunch eu queria discorrer sobre os chamados "pratos especiais" do dia, se possível. Nossa sopa é o carro chefe, o creme de milho, e o prato principal é o delicioso e suculento burrito de peixe! Basicamente, é o nosso burrito padrão de carne, frango e porco, mas eu vou citar, com "deliciosos e suculentos pedaços de salmão e bacalhau". Quem sabe alguém até consiga encontrar um ou dois camarões.

— Acrescentando um pequeno toque do Atlântico Norte à cozinha da América Latina — disse Meredith Grey, amarrando o avental e percebendo alguém se aproximar por trás de Scott, um homem com cabelos castanhos e um tanto compridos, de altura mediana. O garoto novo. A equipe examinou-o com cautela.

— O lado bom disso — continuou Scott — é que vou apresentar vocês a Nathan Riggs, que vai participar da nossa feliz e muito bem-treinada equipe.

Nathan empurrou o boné de beisebol do uniforme para trás da cabeça e ergueu o braço numa saudação.

— Olá, pessoal! — falou, no que poderia ser um sotaque americano.

Scott bateu com a palma da mão no ombro de Nathan, que se assustou.

— Então eu vou passar você para Meredith, nossa funcionária mais antiga!

Meredith reagiu com uma leve careta, depois sorriu como que pedindo desculpas ao garoto novo, que retribuiu sorrindo com os lábios apertados. Olhou para o boné de beisebol em sua mão. A logomarca do restaurante, um burrinho de desenho animado olhava para ela com os olhos esbugalhados embaixo de um sombreiro, parecendo até bêbado, ou talvez louco. Pôs o boné na cabeça. O novato esperava por ela sorrindo, os polegares enganchados sem jeito nos bolsos da calça jeans branca novinha, e ela mais uma vez se perguntou o que estava fazendo da vida.

Mer, Mer, Mer. Como está você, Mer? E o que está fazendo neste exato segundo? Estamos seis horas à frente aqui em Bombaim, por isso espero que ainda esteja na cama com uma daquelas ressacas de manhã de domingo. E, nesse caso, ACORDE! É O DEREK.

Esta carta chega até você de um albergue no centro de Bombaim equipado com colchões terríveis e cheio de australianos correndo para cima e para baixo. Meu guia de viagem diz que o hotel tem personagens, ou seja, roedores, mas meu quarto também tem uma pequena mesa plástica de piquenique perto da janela, mas lá fora chove que é uma loucura, até mais forte que em Edimburgo. É SUFOCANTE, Mer, faz tanto barulho que mal posso ouvir a fita que você gravou para mim e da qual gostei muito. Ando tentando ler os livros que você me deu na Páscoa. Quando você vai desistir de me educar? Nunca, espero.

Caso você não tenha percebido pela escrita requintada e toda a GRITARIA, estou escrevendo isto bêbado, muitas cervejas na hora do almoço. Como você pode notar, eu não sei escrever cartas tão bem como você, mas o que vou dizer é que a Índia é incrível. Ser proibido de ensinar inglês como língua estrangeira terminou por tornar-se a melhor coisa que já me aconteceu (embora ainda ache que eles exageraram. Moralmente inadequado? Eu? Eve tinha vinte e um anos). Não vou aborrecer você com o velho papo hinduísta a não ser para dizer que todos os clichês são verdadeiros (pobreza, dores de barriga e blá blá blá). Não é só uma questão de ser uma civilização rica e antiga, você não ACREDITA que tipos de substâncias químicas podem ser compradas sem receita.

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