Sexta-feira, 15 de julho de 1994
Leytonstone e Isle of Dogs
Deitado num amontoado de lençóis úmidos, os olhos arregalados, ele imagina todas as coisas que podem dar errado em sua próxima corrida.
E se ele errar a curva?
E se a volta for anulada?
E se chover forte?
E se ele sofrer um acidente?
Na noite anterior Derek foi dormir cedo. Mas ficou acordado 7 das 9 horas que passou na cama, e agora sentia-se exausto e nauseado de ansiedade. O telefone toca, ele senta bruscamente e ouve a própria voz na secretária eletrônica.
Beep.
— Oi. Sou eu. — sente o alívio familiar ao ouvir a voz de Meredith, e está quase atendendo quando lembra que os dois andaram discutindo e que ele deveria estar magoado. — Desculpe ligar tão cedo, mas alguns têm empregos normais e precisam chegar na hora certa. Só queria falar sobre a grande noite de hoje. Então, boa sorte. Sério, boa sorte mesmo. Você vai se sair bem, mais do que bem, você vai estar ótimo. É só manter o foco e esquecer a multidão assistindo. Sei que está chateado por eu não poder ir, mas vou estar assistindo pela TV e vibrando por você, Der.
Derek olha atentamente para a secretária eletrônica, lutando contra si mesmo para não atender.
— Não sei a que horas eu vou voltar, sabe como são essas peças de escola... Eu ligo mais tarde, okay? Boa sorte, Der. Aliás, você tem que mudar a mensagem da sua secretária eletrônica.
Outro bipe toca anunciando o fim da ligação. Derek pondera se deveria ligar de volta agora mesmo, mas conclui que deve ficar magoado por mais algum tempo. Os dois voltaram a discutir. Meredith acha que ele não gosta do namorado dela, mas, apesar de sua negação, não consegue mesmo gostar de Nathan.
Ele tentou, tentou mesmo. Os três chegaram a ir juntos a cinemas, esticando depois em restaurantes baratos e bebendo em alguns pubs, com Derek olhando nos olhos de Meredith com um sorriso de aprovação enquanto Nathan fungava no pescoço dela.
Nathan aproveita todas as oportunidades para insinuar que Derek é uma farsa, que só é famoso por acaso, que é um esnobe.
O pior de tudo?
Meredith concorda com tais críticas.
Será que não entendem como é difícil se manter íntegro e com a cabeça no lugar quando tanta coisa acontece com a gente e a vida é tão intensa e agitada? Quando Derek quer pagar a conta de um jantar, ou se oferece para pagar um táxi em vez de tomarem um ônibus, os dois cochicham e reclamam como se estivessem sendo de alguma forma insultados. Por que as pessoas não ficam contentes por ele estar sendo tão bom, não agradecem sua generosidade?
Aquela última e torturante noite, uma "noite de filmes" num sofá desconfortável assistindo a Star Trek e tomando cerveja em lata, quando sua calça ficou manchada de molho, foi a gota-d'água. Dali em diante, quando se encontrasse com Meredith, ela teria de estar sozinha.
De uma forma irracional, Derek sentiu... ciúme? Não, ciúme não, talvez só uma certa mágoa. Sempre imaginou que Meredith estaria por perto, alguém a quem poderia recorrer a qualquer momento, como um serviço de emergência. Desde a morte de sua mãe no último Natal, Derek se viu cada vez mais dependente de Meredith, exatamente num momento em que ela se tornava menos disponível. Ela costumava retornar suas ligações imediatamente, mas agora se passavam dias sem uma palavra. Tinha "saído com Nathan", mas aonde eles vão? O que fazem? Compram móveis juntos? Assistem a filmes?
Nathan já foi apresentado aos pais dela, Ellis e Tatcher. Os dois o adoram, de acordo com Meredith. Por que Derek nunca os conheceu? Será que eles não iriam gostar mais ainda dele?
O mais irritante de tudo é que Meredith parece estar adorando essa independência de Derek. É como se ele estivesse aprendendo uma lição.
— Você não pode esperar que as pessoas construam suas vidas em torno de você, Derek! — ela disse, e eles discutiram de novo, tudo porque Meredith não estaria na corrida.
— Você não pode vir depois?
— Não! É longe demais!
— Eu mando um carro!
— Eu preciso falar com as crianças depois, com os pais...
— Por que você?
— Derek, é o meu trabalho!
Derek sabe que está sendo egoísta, mas seria bom vê-la ali. Sente-se uma pessoa melhor quando ela está por perto. É como se fosse seu amuleto da sorte, mas não vai estar lá, nem a mãe dele. Ele chega a se perguntar para quê está fazendo tudo aquilo.
Depois de um longo tempo debaixo do chuveiro ele se sente um pouco melhor. Ainda trêmulo, mas um pouco mais animado, e assim que liga a máquina de café expresso o telefone toca outra vez. É seu pai.
Desde a morte da mãe, as ligações dele se tornaram mais frequentes e mais tensas. O pai agora parece um homem ameaçado pelas tarefas mais simples.
— Oi, Derek, é o seu pai. Só estou ligando para desejar boa sorte em sua corrida hoje à noite. Estarei assistindo. Sua mãe estaria orgulhosa. — faz uma pequena pausa. — É tudo o que eu queria dizer. Tchau, filho.
Derek ouve tudo que o pai diz e dá um gole em seu expresso, suspirando brevemente ao lembrar de sua mãe e o quanto sentia falta dela. Será que ela realmente estaria orgulhosa dele? Ou o pai só disse aquilo para animar o filho antes da corrida?
Sente vontade de correr até Meredith, abraça-la e descarregar toda a tristeza que vem sentindo desde a partida de Carolyn. Mas ele não pode. Não hoje. Não neste momento.
n/a: capítulo curtinho pq infelizmente esse capítulo não rende muito. prometo tentar ao máximo atualizar com mais frequência, o bloqueio criativo tem sido constante.
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One Day
FanfictionPara que servem os dias? Dias são onde vivemos. Eles vêm, nos acordam Um depois do outro. Servem para a gente ser feliz: Onde podemos viver senão neles? Ah, resolver essa questão Faz o padre e o médico Em seus longos paletós Perderem seu trabalho. (...